Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Quem quer pagar pelo futuro do jornalismo digital?

Ainda é possível encontrarmos quem aposta em um futuro sem jornalismo. Ainda é possível deparar com pessoas que realmente acreditam em um universo sustentado totalmente com informações gratuitas e geradas pelos usuários – e apenas pelos usuários. O jornalismo, na opinião de muitos, é um mero artifício que está prestes a acabar. O jornalismo, na visão de muitos, é um setor que não tem espaço no mundo hiperconectado da internet.

Diversos veículos ao redor do mundo estão testando novos formatos e modelos de negócio no digital. Muitos, inclusive, estão apostando na qualidade de suas informações e usando a credibilidade construída por décadas de serviços jornalísticos para justificarem a cobrança de seus conteúdos. E, sim, as pessoas estão pagando. As pessoas pagam por conteúdos de qualidade, bem produzidos e apurados, assim como pagam para startups de jornalismo digital que cobrem segmentos ultra específicos e que muitas vezes não estão no radar da grande mídia.

O futuro do jornalismo digital é social, conectado, digital, móvel, científico, matemático, estatístico, responsivo e, principalmente, pago. Conteúdos abertos serão oferecidos na quase totalidade dos grandes veículos, mas o número de pessoas que irão pagar por conteúdos exclusivos, de qualidade ímpar e credibilidade será cada vez maior. É interessante obter diferentes opiniões quando você discute algo no Facebook, mas não dá para supor que todo o conteúdo jornalístico em um futuro próximo seja produzido apenas pelos usuários.

Engessamento mental

Talvez o jornalismo tenha pecado ao demorar um pouco além do necessário para começar a investir pesadamente em digital. Talvez o jornalismo tenha errado ao insistir de maneira quase infantil na permanência do impresso de forma isolada, ou seja, persistir na tese de que o jornalismo só era jornalismo se fosse no impresso. Blasfemava contra o digital e acabava se restringindo a uma visão míope de sua própria existência.

Entretanto o jornalismo precisa urgentemente perder a vergonha de querer cobrar por seus serviços. Uma empresa jornalística é uma empresa assim como qualquer outra e, sim, é muito caro fazer jornalismo no nível em que os grandes veículos fazem. A premissa não é justificar que os jornais repassem a seus leitores seus custos, mas é mais do que necessário frisar que assim como o jornalismo precisou aceitar de uma maneira não muito confortável a ideia de que o leitor deve participar do processo de produção da notícia, agora é a vez do leitor entender que para ele poder consumir um conteúdo de qualidade é preciso muitos recursos que vão além do financeiro. É preciso investir, por exemplo, em pessoas.

Com isso, classificar o jornalismo como algo decadente ou apostar na ideia de que todo o conteúdo da web será gratuito é apostar de maneira pessimista contra o próprio desenvolvimento de uma sociedade. O jornalismo é um dos pilares básicos para que uma sociedade democrática de direito possa se sustentar. Apoiar ou contribuir para que o jornalismo se desvirtue é demonstrar um engessamento mental perigoso e que precisa ser combatido. Sem jornalismo não há opinião. Sem opinião nós não somos nada além de gado.

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Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro e editor do Mídia8!