Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Franklin defende pulverização das
verbas públicas de publicidade


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 8 de junho de 2009


MÍDIA & PUBLICIDADE OFICIAL


Franklin Martins


Para que criar fantasmas?


‘NA ÚLTIMA semana, alguns colunistas e políticos da oposição abriram baterias contra a regionalização da publicidade do governo federal. Não gostaram de saber que os anúncios da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), até 2003 concentrados em apenas 499 veículos e 182 municípios, em 2008 alcançaram 5.297 órgãos de comunicação em 1.149 municípios -um aumento da ordem de 961%.


Por incrível que pareça, conseguiram enxergar nesse saudável processo de desconcentração um ardiloso mecanismo de corrupção dos jornais e rádios do interior. Essa seria a explicação para as altas taxas de avaliação positiva do presidente Lula, registrada pelos institutos de opinião.


O raciocínio não tem pé nem cabeça. Vamos aos fatos.


As verbas publicitárias de todos os órgãos ligados ao governo federal permaneceram no mesmo patamar do governo anterior, em torno de R$ 1 bilhão ao ano. Desse total, 70% são investidos por empresas estatais, que não fazem publicidade do governo, mas de seus produtos e serviços, para competir com companhias privadas.


Além disso, os ministérios e autarquias, que respondem por 20% da verba publicitária federal, não podem fazer propaganda institucional, só campanhas de utilidade pública (vacinação, educação de trânsito, direitos humanos etc.). Apenas a Secom está autorizada a fazer publicidade institucional. Para esse fim, seu orçamento é igual ao do governo anterior (cerca de R$ 105 milhões).


Não houve aumento de verbas. O que mudou foi a política. Em vez de concentrar anúncios num punhado de jornais, rádios e televisões, a publicidade do governo federal alcança agora o maior número possível de veículos. Pelo mesmo custo, está falando melhor e mais diretamente com mais brasileiros. Acompanhando a diversificação que está ocorrendo nos meios de comunicação.


A circulação dos jornais tradicionais do eixo Rio-São Paulo-Brasília, por exemplo, está estagnada há mais de cinco anos, próxima dos 900 mil exemplares. No mesmo período, conforme o Instituto Verificador de Circulação, os jornais das outras capitais cresceram 41%, chegando a 1.630.883 exemplares em abril. As vendas dos jornais do interior subiram mais ainda: 61,7% (552.380). No caso dos jornais populares, a alta foi espetacular, de 121,4% (1.189.090 exemplares).


Por que deveríamos fechar os olhos para essas transformações? A Secom adota hoje o princípio da mídia técnica: a participação dos órgãos de comunicação na publicidade é proporcional à sua circulação ou audiência. Houve época em que eram comuns distorções, às vezes bastante acentuadas, a favor dos grupos mais fortes. Isso acabou.


Esses critérios técnicos, amplamente discutidos com o TCU e entidades do setor, têm favorecido a democratização, a transparência e a eficiência nos investimentos de publicidade do governo federal. Não há privilégios nem perseguições. Tampouco zonas de sombra. Muito menos compra de consciências.


É importante ressaltar ainda que a comunicação do governo não se dá principalmente pela publicidade. Esta apenas presta conta das ações mais importantes e consolida algumas ideias-força. O governo comunica-se com a sociedade basicamente por meio da imprensa, respondendo a perguntas, críticas e inquietações.


Para ter uma ideia, em 2008 o presidente Lula deu 182 entrevistas à imprensa, respondendo, em média, a 4,8 perguntas por dia, incluindo fins de semana e feriados. É pouco provável que exista um chefe de governo no mundo que tenha conversado tanto com a imprensa quanto o nosso. Atendendo a todo tipo de imprensa, pois não existe no Brasil só a imprensa do eixo Rio-São Paulo-Brasília. São várias, com percepções e interesses diferentes. Cada uma fazendo o jornalismo que lhe parece mais apropriado e se dirigindo ao público que conseguiu conquistar.


Exemplo: quando Lula lançou em São Paulo o atendimento em 30 minutos aos pedidos de aposentadoria no INSS, os grandes jornais não destacaram o fato. Mas o tema foi manchete de quase todos os jornais populares e diários das demais capitais. O que para uns foi nota de pé de página, para outros foi a notícia do dia.


Por tudo isso, temos que ficar atentos às mudanças na forma como os brasileiros se informam. O crescimento da internet é um fenômeno que abre extraordinárias possibilidades e lança imensos desafios. Não podemos fechar os olhos para a realidade: os jovens, cada vez mais, buscam informações nos portais, nos blogs e nas redes sociais da internet.


Por último, não se sustenta o raciocínio de que as altas taxas de aprovação do governo Lula teriam a ver com um arrastão de compra de jornais e rádios no interior. Basta recorrer ao último Datafolha, que atribui 67% de ótimo e bom para o governo federal nas regiões metropolitanas e 71% no interior. A diferença está situada dentro da margem de erro da pesquisa. Os números são praticamente os mesmos. O resto é preconceito.


O mais provável é que as altas taxas de aprovação do governo tenham uma explicação bem mais simples: a maioria da população está satisfeita com seu trabalho. É legítimo que aqueles que não concordam com tal percepção recorram à luta política para mudá-la. O debate faz parte da democracia. E faz bem a ela. Mas é necessário criar fantasmas?


FRANKLIN MARTINS, 60, jornalista, é ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.’


 


MÍDIA & POLÍTICA


Fernando Rodrigues


Internet nas campanhas


‘Depois de tantos fracassos e imposturas neste ano, o Congresso pode se redimir em parte levando adiante a ideia de liberar o uso da rede mundial de computadores na política. A proposta começa a ser debatida amanhã por uma comissão de deputados.


Hoje, os políticos brasileiros em campanha estão confinados a apenas um endereço na internet, regulado pelo TSE. Nada de blogs, twitters ou canais de vídeo no YouTube durante o processo eleitoral. É tudo ilegal, como se estivéssemos em Cuba ou na Coreia do Norte.


O Congresso e a Justiça Eleitoral no Brasil ainda não compreenderam exatamente o significado da internet. Agem como se fosse possível impor procedimentos regulatórios para o planeta inteiro.


O debate na Câmara, com o deputado Flávio Dino (PC do B-MA) à frente, é sobre a liberação completa da internet. As resistências persistem sobre o período de vigência dessa liberdade. Alguns consideram necessário estipular um prazo para campanhas eleitorais também no reino da internet.


As regras atuais são uma espécie de oficialização do cinismo. Candidatos a cargos públicos só podem se assumir como tal depois de formalmente nomeados por seus partidos, na metade do ano eleitoral. É um fingimento generalizado. Os políticos dizem em privado o que pretendem fazer e mentem em público para respeitar (sic) a lei.


A anomalia funcionava de maneira epidérmica na era pré-internet. Agora, nada impede a existência de sites no exterior expondo os pontos de vista de um determinado candidato, a qualquer tempo e época -e acessível aos milhões de brasileiros conectados.


Derrubar as barreiras legais -já inexistentes na prática- é uma providência positiva. Daria ao Congresso algum crédito neste período em que o Legislativo se especializou em produzir notícias ruins.’


 


MEMÓRIA


Estêvão Bertoni


O homem que, em 1978, fez o presidente Figueiredo falar


‘Em abril de 1978, o jornalista Getulio Bittencourt e o colega Haroldo Cerqueira Lima, o Leleco, publicaram na Folha uma entrevista com o general João Baptista Figueiredo, o último dos presidentes militares do país.


Com o título ‘Exclusivo: fala Figueiredo’, a reportagem causou não só rebuliço no meio político, como ganhou, naquele ano, o Prêmio Esso, ‘o primeiro desta Folha’, como costumava dizer.


Procurado pela imprensa, na época, Figueiredo se limitou a dizer: ‘Eu não gostei daquela notícia. Eles vieram aqui para me provocar’.


Feita em 95 minutos, um dia antes de ser publicada, a entrevista teve 111 intervenções dos repórteres, que foram proibidos, pelo presidente, de gravar e, inclusive, anotar qualquer frase sua.


Extensas, as respostas incluíam vários números.


‘Acredite: realmente reproduzi a conversa de cabeça’, contava Getulio.


Mineiro da pequena Tarumirim, passou pela revista ‘Veja’ e pela Folha, foi correspondente em Nova York da ‘Gazeta Mercantil’ e diretor de redação do DCI. Entre 1987 e 1988, foi secretário de Comunicação do governo Sarney.


Segundo a mulher, a jornalista Ana Cristina Magalhães, Getulio publicou cinco livros, a maioria sobre economia.


Um deles é sobre astrologia.


Morreu anteontem, aos 57, em decorrência de um tumor que atingiu o pulmão e o cérebro. Deixa seis filhos e um neto. O enterro foi ontem, em SP, no cemitério da Paz.’


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Lidando com informação


‘Nas chamadas do ‘Fantástico’ e na manchete do UOL, ontem à noite, as buscas militares já resgataram 17 corpos. Logo abaixo, no portal, ‘França acha corpo, mas não sabe se é do voo’.


Já ‘Le Monde’ e ‘Le Figaro’ deixaram para trás a queda do Airbus da Air France -e se concentravam inteiramente na vitória eleitoral de Nicholas Sarkozy. No pé da página inicial, a exemplo de outros sites de jornais, como o ‘New York Times’, o ‘Monde’ ainda registrou o resgate de mais corpos.


Na BBC, Gary Duffy relatou que a reação aos corpos foi de ‘alívio depois de dias sem resposta’, segundo um parente de passageiros do voo. Por outro lado, ‘agora começam a aparecer as críticas’, por exemplo: ‘A maneira como lidou com a informação não ganhou admiradores para Nelson Jobim’.


INFO.PLANALTO


O blog lançado pela Petrobras no dia 2, ‘sobre questões relativas à CPI’, sugere que se ‘leia e comente’. Blogs de um lado dizem que ‘se trata de ferramenta de confronto: a empresa decidiu declarar guerra à imprensa’. Do outro lado, proclama-se o fim das ‘informações seletivas para compor as reportagens’, que agora seriam, sob pressão, ‘tecnicamente bem feitas’.


A ação foi precedida por outra semelhante, em janeiro -quando um texto sobre as preferências jornalísticas de Lula, na ‘Piauí’, se viu confrontado pela divulgação da transcrição da entrevista no site do Planalto, alimentando opiniões contra a edição da revista.


E ontem foi o Ministério da Defesa que reagiu assim à ‘Época’, sobre o acidente aéreo.


R7 VS. G1


A ‘Veja’ publicou -e ecoou em blogs com a ilustração paródica ao lado- que ‘vem aí o R7’, o portal que, ‘como o G1, da Globo’, terá vídeos da rede ‘e material original produzido por 130 jornalistas’


REDE SIMPÁTICA?


O colunista de ‘O Globo’ Ancelmo Góis publicou na quinta que ‘Zé Dirceu atua nos bastidores para formar uma rede de imprensa simpática ao PT que incluiria ‘Hoje em Dia’, de Belo Horizonte, e ‘Correio do Povo’, de Porto Alegre, da Universal, e um no Rio’.


No dia seguinte, a revista ‘Voto’ postou que o grupo mineiro do jornal ‘Em Tempo’ teria comprado o ‘Correio do Povo’. O noticiário seguiu no fim de semana pelos sites de mídia, como Comunique-se, com respostas da Record, que ‘nega veementemente qualquer intenção de venda’, e da Sempre Editoria, do ‘Em Tempo’, que também nega ‘categoricamente’.


Em editorial, o ‘Correio do Povo’ recusou qualquer ‘comprometimento partidário’.


A FOTO


O jornal tailandês ‘Thairath’ publicou, a CNN postou em seu iReport, mas outros sites, como Gawker ou TMZ, de celebridades, até a noite evitavam a imagem do ator David Carradine morto, que comprovaria não ter sido um suicídio


40% DE TUDO


No ‘Financial Times’, o resultado ‘dramaticamente’ superior de suas ações ‘reacende a fé no descolamento’ entre Brics e desenvolvidos.


E já começa a cobertura do encontro dos Brics, marcado para dia 16. A agência Xinhua deu que o ministro indiano do exterior cobra maior relação comercial entre os quatro para ‘agir coletivamente de maneira mais eficiente’. Na Reuters, o ministro russo de finanças pediu mais abertura chinesa, para dar ‘conversibilidade’ e tornar o yuan, ‘em uma década’, moeda de reserva.


A Xinhua registra em seus textos que os Brics têm 40% da população e da produção mundiais.


RIC, NÃO BRIC


Um anônimo ‘diplomata sênior do Brasil’ falou à nova edição da ‘Newsweek’ que não, ‘nós não somos ‘global players’, atores globais, ao contrário dos também Brics Rússia, Índia e China.


HISTÓRIA, O RETORNO


O ex-secretário-geral do PC da União Soviética, Mikhail Gorbatchev, escreveu ontem no ‘Washington Post’ que, com a crise, chegou a hora de uma Perestroika também no capitalismo ocidental.’


 


TELEVISÃO


Daniel Castro


Série da Globo terá Twitter e extras na web


‘A Globo vai incorporar em um único programa o máximo de ferramentas da internet. Já chamada internamente de a série mais antenada da TV, ‘Ger@l.com’ terá Twitter (microblog que é uma febre), blogs, site e comunidades virtuais.


O programa terá cinco episódios e irá ao ar em julho. Cada capítulo terá 22 minutos na TV e 15 minutos de extras na internet (para vê-los, será necessário pegar uma senha durante a exibição na Globo). Na web, haverá também ferramentas para editar videoclipes e set lists de músicas, videokê e espaço para o internauta postar suas próprias canções e clipes.


O programa, voltado para o público jovem, terá cinco adolescentes como protagonistas. Eles surfam e têm uma banda de verdade, a WWW -Luke e Xande Werneck são irmãos e primos dos irmãos Mateus, João e Pedro Werneck.


A série misturará ficção com realidade. Imagens da infância dos garotos, cedidas pelos pais, serão exibidas na TV, assim como passagens reais atuais. Abusará do ‘internetês’ e de novas gírias com sotaque carioca.


O Twitter aparecerá no rodapé da tela da TV. Nos minutos finais de ‘Ger@al.com’, a Globo exibirá mensagens de telespectadores, com até 140 caracteres, postadas minutos antes. A rede social também abrigará perfis dos personagens, com mensagens escritas pelo autor, Claudio Lobato. As gravações começam no final do mês.


REPLAY


São grandes as chances de ‘Belíssima’ ser o próximo título de ‘Vale a Pena Ver de Novo’. A novela de Silvio de Abreu é a mais cotada para substituir ‘Senhora do Destino’. Setores da Globo querem ‘Celebridade’, mas avaliam que dificilmente a produção será liberada pelo Ministério da Justiça para a faixa vespertina.


SUCESSO


Novela boa faz toda a diferença no Ibope. Em Fortaleza, a reprise de ‘Senhora do Destino’ vem dando 36 pontos. Apenas um a menos do que a inédita ‘Caminho das Índias’.


PAREDÃO


Telespectadores da Record estão fazendo campanha na internet para que a emissora tire Brito Júnior da apresentação do reality show ‘A Fazenda’.


TAPETADA 1


O SBT trocou o diretor do programa de calouros ‘Qual É o Seu Talento?’. Afastou Ocimar Castro, que se preparava para fazer a seleção do elenco, amanhã, por Ricardo Mantonelli, diretor de ‘Astros’ -que sairá do ar. O projeto original foi desfigurado. Está virando um novo ‘Astros’. Os jurados também serão os mesmos.


TAPETADA 2


Com a mudança de diretor, Dudu França deve perder o cargo de repórter de bastidores de ‘Qual É o Seu Talento?’. Mantonelli quer alguém da MTV.


SOB NOVA DIREÇÃO


O jornalista Carlos Amorim deixou a direção do ‘Programa do Ratinho’. Ele discordava do apresentador, que quer mais entretenimento (e circo) e menos jornalismo.’


 


INTERNET


Leslie Berlin


Como proteger a internet de virar uma torre de Babel


‘Nos primeiros anos da internet, quase todo seu conteúdo aparecia em inglês. Mas isso está mudando rapidamente. Hoje, artigos da Wikipedia, por exemplo, podem ser encontrados em mais de 200 línguas. E cerca de 36% dos 7 milhões de blogs que aparecem na plataforma de software gratuita WordPress são escritos em outras línguas senão o inglês, segundo o fundador da plataforma, Matt Mullenweg.


Ethan Zuckerman, pesquisador do Centro Berkman para a Internet e a Sociedade, na Universidade Harvard, EUA, diz que mudanças como essas criam um desafio. ‘Temos uma internet menor do que deveríamos’, disse ele. ‘Na web criada pelos usuários, construímos uma dinâmica estranha pela qual a cada dia há mais conteúdos -alguns deles importantes-, mas cada pessoa, individualmente, pode ler menos deles, porque eles estão em muitas línguas diferentes.’


Vários serviços, automatizados e humanos, ajudam a traduzir o que Zuckerman descreve como ‘a internet poliglota’. Tecnologia de tradução automatizada, antes cara, hoje é gratuita e em 41 idiomas em sites como o ‘Google Translate’. Ali, o usuário pode inserir um bloco de texto, e uma tradução gerada por máquina aparece quase instantaneamente.


O ‘Google Translate’ também pode traduzir um termo de busca para outra língua e então fazer uma procura por ele em sites em línguas estrangeiras. Os resultados aparecem sob duas formas: na língua-alvo e traduzida de volta para a língua original. Traduções automatizadas são capazes de oferecer versões funcionais de textos básicos, mas ideias ou formulações complexas podem atrapalhar mesmo os softwares mais sofisticados, especialmente em línguas não românicas. E, quando se trata de nuances, ‘a tradução por máquinas simplesmente não dá conta do recado’, diz Zuckerman.


Pessoas em todo o mundo têm se oferecido para esclarecer essas nuances, sem cobrar por isso. O estudante de Taiwan Leonard Chien é tradutor e intérprete profissional. Ele cobra US$ 100 por hora como intérprete. Mas, durante três horas por dia, trabalha como tradutor voluntário para o ‘Global Voices’, site de jornalismo cidadão fundado por Zuckerman e Rebecca MacKinnon. Chien traduz para o chinês posts escritos em todo o mundo.


Chien é codiretor do projeto de tradução Global Voices, conhecido como Lingua, que usa voluntários para traduzir posts da Global Voices em 15 idiomas. Ele recebe uma pequena ajuda de custos mensal por seu trabalho de diretor, mas fica feliz em doar seu tempo como tradutor. ‘Sempre me empolgo com assuntos novos’, diz. ‘Quero transmitir tudo isso a meus leitores, mas em línguas diferentes.’ Chien faz parte de um grupo de 104 pessoas que recentemente se ofereceram para traduzir voluntariamente para o projeto Lingua.


Voluntários de todo o mundo também participam do programa ‘Google em Sua Língua’, ajudando a empresa a traduzir seus produtos em 120 línguas. Em 13 de maio, uma conferência com palestrantes como Al Gore e Bill Gates e aberta só a convidados postou subtítulos e transcrições traduzidos de muitas de suas palestras arquivadas em seu site. Das 300 traduções, 200 foram feitas por trabalho voluntário.


O designer gráfico Alexander Klar, de Mohnesee, Alemanha, que estima ter passado 62 horas traduzindo as palestras do evento para o alemão, se sente inspirado pelo próprio conteúdo. ‘Compartilhar essas ideias, transpondo os limites da língua, nos oferece uma oportunidade de esquecer os muros e as barreiras que nos separam’, disse.


A conferência começou o projeto de tradução de vídeos prevendo usar principalmente os serviços de tradutores profissionais, apesar de o site ter recebido traduções não solicitadas de palestras específicas, feitas por fãs. ‘Pensávamos que a tradução profissional fosse a única forma de garantir trabalho de alta qualidade’, explica June Cohen, produtora. A adoção dos tradutores voluntários se deu no segundo semestre de 2008.


Enquanto isso, diz Zuckerman, são necessárias outras soluções. ‘A internet tem o potencial de ser uma conversa global’, observa. ‘Mas, a não ser que resolvamos esse problema com as línguas, ela não poderá sê-lo e não o será.’’


 


MODA & MÍDIA


Eric Wilson


Pecados do retoque excessivo provocam debate nas revistas


‘A maioria dos leitores das revistas de moda sabe que as fotos, ao menos até certo ponto, mentem.


Com muita frequência, fotos são alteradas -historicamente, com cuidadosos truques de iluminação e exposição, e mais recentemente com softwares que podem fazer celebridades e modelos parecem mais magras, mais altas, com pele mais impecável, olhos mais brilhantes e dentes mais brancos. Aparentemente perfeitas. Avanços na fotografia digital tornaram tão fácil manipular as fotos que as modelos das capas muitas vezes lembram criaturas estranhamente sintetizadas ou, como as descreve o fotógrafo Peter Lindbergh, ‘objetos de Marte’.


Olhando as bancas de revistas norte-americanas, ninguém seria capaz de argumentar que o corpo da cantora Jessica Simpson só tem um lado do quadril, já que o esquerdo sumiu na capa de setembro de 2008 da ‘Elle’. Ou de se perguntar como as formas do queixo, as covinhas e a cor dos olhos da atriz Reese Witherspoon puderam mudar tanto entre a sua angelical aparição em fevereiro de 2008 na ‘Marie Claire’, a sua elegante capa na ‘Vogue’ em novembro e a dengosa pose para a ‘Elle’ em abril último.


Mas, conforme os retoques se tornam mais flagrantes e bizarros, às vezes resultando em corpos que desafiam as fronteiras naturais da anatomia humana, cresce o debate sobre a manipulação da foto, cabendo a Lindbergh liderar o ataque contra a prática. ‘Minha sensação é de que já faz anos que isso assumiu uma parcela grande demais em como as mulheres estão sendo definidas visualmente hoje’, disse por e-mail Lindbergh, um dos mais famosos criadores de imagens do mundo.


Em abril, ele alimentou a polêmica ao criar uma série de capas para a ‘Elle’ francesa que mostravam estrelas como Monica Bellucci, Eva Herzigova e Sophie Marceau sem maquiagem nem retoques. A questão mexeu com os leitores da França, onde as autoridades de saúde já fazem campanhas em prol de uma medida que obrigue as revistas a avisarem quando e como as imagens foram alteradas.


Os editores das publicações norte-americanas, que no ano passado resistiram a tal proposta dentro do seu grupo setorial, também notaram uma tendência contrária a imagens que pareçam ser manipuladas para impor um padrão idealizado de beleza. A revista ‘People’, na sua edição dos ‘100 Mais Bonitos’ de maio, incluiu imagens de 11 celebridades ‘usando nada além de hidratante’.


‘As revistas de moda sempre tratam de algum elemento de fantasia’, disse Cindi Leive, editora da ‘Glamour’. ‘Mas o que tenho ouvido das leitoras ultimamente é que na moda, como em qualquer outra parte da nossa vida atual, há uma fome por autenticidade. O artifício, em geral, parece muito ser uma coisa de cinco anos atrás.’


Mesmo assim o movimento das ‘celebridades cruas’ parece chegar a passos lentos. Talvez porque, como vários editores disseram reservadamente, os agentes das celebridades quase sempre exigem retoques de rugas e celulites. Por isso, uma celebridade pode parecer diferente de uma revista para outra.


‘Não há dúvida de que imagens têm sido alteradas tão significativamente que às vezes é transparente’, disse Dennis Freedman, diretor de criação da revista ‘W’, que apresenta propositalmente fotos de ambos os extremos: os retratos não retocados de Juergen Teller e o trabalho digitalmente estilizado de Mert Alas e Marcus Piggott.


As fotos mais convincentes são as que revelam um caráter real, disse Freedman. Não obstante, ele questiona se haverá uma mudança notável por causa da atenção dispensada pela mídia às capas de Lindbergh para a ‘Elle’ francesa. As revistas de moda, até certo ponto, prosperam como escape da realidade, uma janela para algo que existe fora das agruras do tempo.


‘Eu me pergunto quanto isso irá durar’, afirmou. ‘Isso traz um ponto interessante, mas que por si só se torna uma espécie de artifício de propaganda. Eu não apostaria o dinheiro da minha aposentadoria de que isso é algo que eles vão continuar.’’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 8 de junho de 2009


MEMÓRIA


O Estado de S. Paulo


Morre o jornalista Getúlio Bittencourt


‘O jornalista Getúlio Bittencourt morreu ontem em São Paulo, aos 57 anos, em consequência de um câncer descoberto no fim de 2008, que atingiu cérebro e pulmões. Bittencourt, nascido em Governador Valadares (MG), trabalhou na revista Veja e nos jornais Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil – onde ficou a maior parte da carreira, tendo atuado como correspondente em Nova York.


Em 1978, recebeu o Prêmio Esso, com Haroldo Cerqueira Lima, por uma entrevista feita com o general João Baptista Figueiredo, então candidato do regime à sucessão do presidente Ernesto Geisel. A entrevista foi publicada pela Folha, com o título Exclusivo: Fala Figueiredo.


Bittencourt dirigiu o diário DCI nos últimos anos e recentemente assumira parte da edição brasileira da Harvard Business Review. Também passou pelo governo, em 1987 e 1988, como secretário de Comunicações do então presidente José Sarney.


Pai de seis filhos, em três casamentos, o último com a jornalista Ana Cristina Magalhães, Bittencourt ficou conhecido ainda pelo interesse por astrologia. Começou estudando por curiosidade e formou um banco de dados com mais de 14 mil mapas astrais. Entre eles, preparou a pedido cartas de figuras como o presidente eleito Tancredo Neves. Algumas histórias estão no livro À Luz do Céu Profundo – Astrologia e Política no Brasil.’


 


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


Renato Cruz


Cresce o mercado de conteúdo para celular


‘Entre janeiro e abril, o aumento da base de celulares no País foi 41% menor que no mesmo período de 2008. Num cenário como esse, de desaceleração do crescimento da base, as operadoras buscam ampliar suas receitas com dados e conteúdo no celular. Segundo estimativa da Mobile Marketing Association (MMA), os chamados serviços de valor adicionado responderam por cerca de 10% do faturamento das operadoras móveis no ano passado. Este ano, devem ser alcançar uma participação próxima de 15% na receita.


‘O celular é uma paixão nacional’, afirma José Reinaldo Riscal, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Nielsen. ‘A grande pergunta é como as pessoas estão usando o celular.’


A Nielsen ouviu 5 mil pessoas no quarto trimestre de 2008, e descobriu que, do total, cerca de 19% usam serviços de valor adicionado. Fatores como o crescimento da terceira geração (3G) e venda de aparelhos mais sofisticados devem impulsionar esse mercado. Cerca de 16% dos consumidores só usam o celular para voz e 25% somente para voz e mensagens de texto. O restante utiliza outros recursos do aparelho, como câmera e tocador de música digital.


O público do serviço de valor adicionado é jovem, com uma distribuição bem equilibrada entre homens e mulheres. ‘Um quarto deles tem de 15 a 24 anos’, aponta Riscal. ‘Cerca de 63% tem até 34 anos.’ A pesquisa, que foi feita em 10 capitais, mostrou que São Paulo concentra 20% desses usuários, seguida de Salvador, com 14%.


Entre os usuários desses serviços, 12% procuram conteúdo na internet via celular, sendo que metade deles é musica. Em segundo lugar, vêm os games e em terceiro conteúdo de entretenimento. ‘Ainda é pequeno o uso de redes sociais no celular no Brasil’, afirma o gerente da Nielsen. ‘Como as redes sociais são importantes na internet brasileira, existe um potencial grande de crescimento.’


A M1nd é uma empresa especializada em vídeo para celulares. Ela fornece a solução de TV móvel para a Oi e a TIM, com cerca de 30 canais, além de realizar cobertura de eventos ao vivo, transmitidos diretamente para os aparelhos móveis, como foi o caso do TIM Festival. ‘Temos mais de 200 mil assinantes’, afirma Filipe Diniz, diretor de Marketing da M1nd. ‘O mercado potencial da televisão no celular é de 6 milhões para este ano, que é o mesmo tamanho da TV por assinatura.’


Diniz acredita que o mercado receberá impulso no segundo semestre, com o início das vendas de pay-per-view no celular e de pacotes criados para quem possui acesso 3G no computador portátil. Em abril, havia 3,2 milhões de acessos à internet via celular, no computador.


A Takenet preparou um serviço chamado Torpedão. Ele funciona como uma plataforma de distribuição de conteúdo via celular. Com esse serviço, as empresas se cadastram e podem oferecer conteúdo via internet num modelo de compartilhamento de receitas. A primeira versão permite distribuir mensagens de texto e, no próximo mês, deve incluir imagens, vídeo e músicas.


‘O serviço está homologado na Claro, e estou conversando com todas as operadoras’, afirma José Carlos La Motta, presidente da Takenet. As principais atividades da Takenet são distribuição de notícias e venda de música para celulares.’


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Alfinetadas na web


‘O reality show A Fazenda, da Record, virou alvo na internet do diretor Boninho, comandante do Big Brother Brasil, da Globo. Na estreia do reality da concorrência, Boninho ficou online, ao mesmo tempo em que o programa estava no ar, detonando a atração em seu twitter.


Em seus comentários na web – divertidos, por sinal -, Boninho disse que o reality estava ‘arrastado e chato’. Depois, insinuou que a plateia de A Fazenda tinha os mesmos figurantes da do BBB e zombou da chuva que caiu na estreia da atração.


‘Esqueceram o toldo da festa! Será que acabou a verba???’, escreveu Boninho.


O diretor também não poupou a trilha sonora e o apresentador. ‘Voltou o Bee Gees… Qual é o SMS pra eliminar a música?’, disparou. ‘Sem personalidade! Britto Jr. tenta de tudo para ser comparado ao Pedro Bial.’ As críticas cessaram após ele anunciar ter levado um pito de ‘Monica’, no caso, Monica Albuquerque, da assessoria da Globo.


À coluna, Monica disse que falou com Boninho como pessoa física, não como Globo, e que não ‘puxou a orelha dele’, coisa que a rede também não faz, pois crê na liberdade de expressão.


Fim de férias


Eis Ana Paula Padrão em sua primeira reportagem para o Jornal da Record. A jornalista visitou Recife, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e Pará, em uma série especial relatando problemas sociais e respectivas soluções em cada um desses Estados. A estreia de Ana Paula na bancada do JR está marcada para o dia 29.


Entre-linhas


Jayme Monjardim está gravando cenas além do script em Viver a Vida, próxima trama das 9 da Globo. Em gravação na Jordânia, o diretor colocou Alinne Moraes para dançar balé em cima de uma pedra.


Ainda em Viver a Vida, Thiago Lacerda terá uma pitada de Indiana Jones e Brad Pitt – no filme Babel – no visual de seu personagem, Bruno.


Thiago Lacerda, por sinal, virou atração em Israel, por conta do sucesso de Matteo, de Terra Nostra, e de Páginas da Vida, que está no ar por lá.


A ordem para atrizes e produtoras da Globo que gravam na Jordânia é: ‘Nada de roupas curtas nem decote.’ Todas foram avisadas que os árabes sequestram mulheres.


Para promover sua próxima novela, adaptação de Íris Abravanel para Vende-se um Véu de Noiva, de Janete Clair, o SBT realizará edição do SBT Repórter dedicado à obra da novelista, nesta quarta-feira.


Dois dos convidados a dar seu depoimento ao SBT Repórter sobre Janete Clair tiveram de declinar: a roteirista Renata Dias Gomes, filha da novelista, por ser contratada da Record, e Mauro Alencar, doutor em telenovelas pela USP, que é contratado da Globo.


E essa foi a segunda recusa de Mauro Alencar e Renata Dias Gomes ao SBT: ambos foram convidados antes, pelo próprio Silvio Santos, a trocar de canal, justamente para trabalhar por Vende-se um Véu de Noiva.’


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Valor Econômico


Segunda-feira, 8 de junho de 2009


MEMÓRIA


Valor Econômico


Morre o jornalista Getúlio Bittencourt


‘Faleceu na noite de sábado, em São Paulo, o jornalista Getúlio Bittencourt, aos 57 anos. Mineiro de Governador Valadares, Bittencourt teve passagens importantes nas redações de algumas das principais publicações do país, como ‘Folha de S. Paulo’, ‘Veja’ e ‘Gazeta Mercantil’. Em 1978, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo por uma entrevista com o general João Baptista Figueiredo, na época já o preferido dos militares para a sucessão do presidente Ernesto Geisel, publicada na ‘Folha’.


A memória de Bittencourt, um autodidata, foi fundamental para a entrevista com Figueiredo, feita em parceria com Haroldo Cerqueira Lima. O general proibiu que os dois gravassem ou anotassem a conversa. Realizada em 4 de abril de 1978, com duração de pouco mais de uma hora e meia, a entrevista rendeu duas manchetes à ‘Folha’ e o Prêmio Esso aos dois repórteres.


Em formato de perguntas e respostas, o texto reproduzia fielmente o diálogo, mostrando a visão de Figueiredo sobre temas como democracia – ‘Nós temos a laranja-lima, a laranja-pera, a laranja-bahia, que têm sabores diferentes, mas não deixam de ser laranjas. Assim, há democracias diferenciadas’ -, além de evidenciar o estilo grosseiro do futuro presidente – ‘Durante muito tempo, o gaúcho foi gigolô de vaca’.


Na ‘Folha’, onde chegou em 1975, Bittencourt foi repórter, editor de política e repórter especial. Em 1979, foi para a ‘Veja’, trabalhando em São Paulo e Brasília. Voltou à capital paulista em 1983, para a ‘Gazeta’, onde foi editor de política e editor sênior, segundo o livro ‘Jornalistas brasileiros – quem é quem no jornalismo de economia’. Em 1988, Bittencourt assumiu a Secretaria de Comunicação da Presidência, no governo José Sarney. No ano seguinte, tornou-se presidente da Empresa Brasileira de Notícias (EBN). Na segunda passagem pela ‘Gazeta’, foi correspondente nos Estados Unidos durante 11 anos.


De volta o Brasil, comandou a redação do ‘Diário Comércio, Indústria e Serviços’ (DCI) entre março de 2001 e janeiro de 2008. Em seguida, foi para a Segmento RM Editores, onde era um dos editores da versão brasileira da revista ‘Harvard Business Review’. ‘Getúlio tinha um texto brilhante, uma inteligência excepcional e uma memória prodigiosa’, disse Roberto Müller Filho, sócio da Segmento e chefe por muitos anos de Bittencourt na ‘Gazeta’.


O vice-presidente de Relações Institucionais da Editora Abril, Sidnei Basile, destacou o papel importante do jornalista na época da abertura política. ‘Ele gozava da confiança de Tancredo Neves e de outras lideranças civis’, disse Basile, que também o chefiou na ‘Gazeta’.


Além do jornalismo, Bittencourt era apaixonado por astrologia. No livro ‘À luz do céu profundo’, ele contou a sua participação na mudança do horário de votação do colégio eleitoral para a presidência em 1985. Segundo ele, o horóscopo para a hora prevista para a votação – 15h de 15 de janeiro – indicava que Tancredo Neves, do MDB, poderia ser derrotado por Paulo Maluf, da Arena. Preocupado, Bittencourt falou com o ex-deputado Thales Ramalho. Próximo a Tancredo, Ramalho fez chegar a informação ao candidato da oposição, que o autorizou a negociar a alteração do horário com a mesa diretora do colégio eleitoral. ‘Depois de uma fascinante série de negociações, cujos detalhes poucos conhecem, o horário da eleição finalmente foi mudado para as 10h’, contou o jornalista no livro.


Bittencourt deixa viúva a também jornalista Ana Cristina Magalhães e seis filhos. Ele faleceu em decorrência de complicações depois de os médicos terem diagnosticado um câncer no ano passado.’


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