Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nova regra sobre imparcialidade irrita jornalistas

A Independent News & Media (INM), empresa de jornais irlandesa controlada pelo bilionário Denis O’Brien, elaborou um contrato editorial que obrigaria os jornalistas a obter aprovação escrita do chefe de redação antes de publicar qualquer “conteúdo contraditório frequente ou contínuo em relação a indivíduos ou organizações”. A empresa publica três dos títulos mais vendido no país – Irish Independent, Sunday Independent e Sunday World –, além de 14 jornais regionais. Também possui 50% das ações do Irish Daily Star e é proprietária do Belfast Telegraph.

Sob a proposta, que ainda precisa de aprovação final, qualquer suposta quebra do código resultaria em uma investigação interna, que levaria a procedimentos disciplinares e até mesmo à demissão dos jornalistas envolvidos. O documento – de 39 páginas – foi elaborado pelo departamento de recursos humanos da INM. Segundo o Irish Times, uma cláusula controversa sobre “imparcialidade” alega que “jornalistas irão se esforçar para ser justos ao dar a indivíduos ou organizações o direito de uma resposta pré-publicação. A decisão de não o fazer só seria tomada com a aprovação escrita do editor ou do executivo editorial designado”. O’Brien não teria ficado satisfeito com a cobertura recente de seus outros negócios, no setor de telecomunicações, pelo Sunday Independent.

Independência comprometida

O documento já despertou críticas internas. “Alguns jornalistas na INM temem que seu próprio conselho, agora dominado pelo bilionário Denis O’Brien, abrande suas vozes. Como a maior parte das pessoas, O’Brien sensatamente acredita que a mídia não deveria ter a permissão de tratar indivíduos com dureza excessiva. Mas, algumas vezes, um pouco de dureza é necessário, e as melhores pessoas para decidir isso são editores e seus leitores, não investidores ou a direção”, escreveu Colum Kenny, no Sunday Independent.

Também houve crítica externa. Em um artigo extenso no Irish Examiner, Michael Clifford argumenta que o documento seria um ataque à independência editorial. “É algo ruim para a liberdade de imprensa quando não é mais o editor quem decide o que é de interesse público”, resume.