Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O surrealismo na comunicação do governo Dilma

A comunicação estratégica da imagem da presidenta Dilma e do governo é um desastre. Quem conhece o mundo da comunicação é obrigado a questionar: o que pode trazer de resultados satisfatórios para Dilma publicar um artigo na Folha de S.Paulo desejando um “feliz 2016” aos seus detratores? Isso é tão surreal quanto a promessa dos governos petistas de democratizar os meios de comunicação; tão sem sentido quanto o primeiro dia de Lula eleito ao lado de William Bonner e Fátima Bernardes no JN, ou Dilma fazendo omelete no Mais Você, de Ana Maria Braga.

Depois de apanhar o ano inteiro sob a aba do “Brasil em Crise”, “Petrolão” e outras invencionices editoriais da Folha, Dilma publica artigo no jornal que há pouco mais de dois meses lhe concedia um inapelável ultimato. Para quem ela escreveu este artigo? Para aqueles que se vestem de verde e amarelo e saem às ruas, aos domingos, para pedir seu impeachment? Porque são eles que leem a Folha e não hesitaram, no primeiro dia do ano, em achincalhar o governo e a presidenta.

Não há razão plausível para esta estratégia.

O governo tem acesso a múltiplas plataformas de comunicação. Não deveria se ajoelhar diante da Folha ou qualquer outro dos grandes jornalões que não publicam uma matéria sobre o governo sem que se valham da tendência capciosa dos canalhas.

Uma estratégia burlesca de comunicação

Não significa dizer que a presidenta não devesse publicar o artigo. A questão é o espaço e o veículo utilizados. Cabe lembrar que o acesso ao texto foi restrito e somente os assinantes da Folha puderam lê-lo. É de fato surreal. Não é desta maneira que o governo vai conseguir adeptos entre aqueles a quem desagrada. Também não é desta forma que a presidenta vai alcançar a popularidade para governar. A receita para isso é continuar trabalhando e fidelizar as bases sociais que lhe ofereceram um novo mandato em 2014.

Não há prestimosidade alguma da Folha ao receber o artigo da presidenta porque o jornal sabe a quem fala e sabe quem são os seguidores do seu discurso. São justamente aquelas pessoas que deploram os governos petistas, as suas políticas, o Lula e a própria Dilma. É como atirar alguém aos leões quando eles estão famintos.

Não se passou nem mesmo 24 horas e lá estava a Folha prevendo 2,2 milhões de empregos perdidos em 2016. Afundava as esperanças do governo, os votos da Dilma de “feliz ano novo” e esta estratégia burlesca de comunicação fadada ao fracasso.

Neste ritmo, o governo sucumbe por suas próprias fraquezas.

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Mailson Ramos é relações públicas