EXECUÇÃO DE McVEIGH
Na cobertura da execução de Timothy McVeigh, emissoras americanas deram mais ênfase às vítimas da explosão da bomba que matou 168 pessoas em Oklahoma City, em 1995, que à morte do assassino, na opinião do crítico de TV David Bauder [The Associated Press, 11/6/01].
No dia 11 de junho, enquanto McVeigh era executado ? o que não pôde ser televisionado por ordem da Suprema Corte ?, a ABC mostrou cenas de sobreviventes e parentes lendo declarações dadas aos tribunais. A CBS, tocando ao fundo um piano triste, mostrou flashes das vítimas. A Fox News silenciosamente dispôs por escrito nomes e idades dos mortos na explosão. ABC, CBS e NBC deram cobertura extensa à execução, assim como CNN, Fox News, MSNBC e Court TV.
"Hoje é um dia triste", disse Matt Lauer, apresentador do programa Today, da NBC, às 7h locais ? horário marcado para a execução de McVeigh. "Não apenas para o estado de Indiana e para Oklahoma City, mas para todo o país, imagino." A decisão de enfatizar as vítimas foi deliberada: a NBC mandou a repórter Katie Couric a Oklahoma City, e não a Terre Haute, Indiana, lugar da execução. A ABC fez o mesmo com Charles Gibson, apresentador do Good Morning America.
Na internet, sítios noticiosos davam destaque à execução e ofereciam links para bate-papos online, grupos de discussão e para o poema que McVeigh apresentou como suas palavras finais. Jornais também cobriram a execução de forma intensa. Max Jones, editor do The Tribune-Star, de Terre Haute, disse que seu jornal acabara de fechar uma edição especial de oito páginas para circular na manhã da segunda-feira, dia da execução.
O mais interessante, no entanto, foi a situação paradoxal em que se viu a TV, um meio visual que teve de se desdobrar para dar cobertura a um evento cujas imagens não tinham. O desafio foi grande, e a mídia americana cometeu o mesmo erro das eleições presidenciais do ano passado: minutos antes da injeção letal no condenado, as emissoras já haviam noticiado sua morte.
Nenhuma das oito emissoras que noticiaram a execução de McVeigh conseguiu chegar perto do local do evento. Segundo Paul Farhi [The Washington Post, 12/6/01], os repórteres foram barrados até das redondezas. Para Farhi, o tom da cobertura da execução foi quase funéreo em todas as emissoras. Ao contrário de casos anteriores, não houve manifestações barulhentas. A polícia evitou que protestos a favor e contra a pena de morte aparecessem diante das câmeras.
O espetáculo mais bizarro ficou por conta dos comerciais, justapostos à discussão do crime e castigo de McVeigh. Até o último minuto, anúncios estavam acompanhando a execução. Então, como afirmou Farhi, pode-se concluir que a morte de um homem foi patrocinada pela AT&T, o Wal-Mart, a Outback e a Toyota.
Três dias após a execução, a CBS anunciou ter comprado os direitos sobre o livro American terrorist: Timothy McVeigh and the Oklahoma City bombing, de Lou Michel e Dan Herbeck, que conseguiram 75 horas de entrevista com o assassino e sua família. A emissora produzirá minissérie sobre o atentado de Oklahoma. Gerry Adams, um dos produtores, garantiu à Variety [14/6/01] que McVeigh não será o foco da série, e sim as diversas pessoas envolvidas no caso.