Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sakineh e Troy Davis, pesos e medidas

É a seletividade midiática, criadora de simulacros, que cria esses seres reativos robotizados. No ano passado, todo mundo se posicionou a favor da iraniana Sakineh, condenada à morte. Na verdade o Ocidente (ideologia) condenava o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, caricaturado como representante de um regime cruel, misógino e intransigente. E os seres reativos lutaram pela vida de Sakineh porque pena de morte é um absurdo, não é?

Esses são os mesmos que gritaram “Free Tibet”, no momento em que a Olimpíada era realizada na China e os EUA temiam o protagonismo chinês no mundo. Depois das Olimpíadas ninguém mais se importou com o Tibete e com as pretensões do Dalai Lama de implantar uma teocracia por lá.

Pois bem, os que lutaram fervorosamente pela vida de Sakineh nem se comoveram com a morte cruel, intransigente e racista de Troy Davis. Afinal, os Estados Unidos podem matar quem quiserem, inclusive esconder o corpo. A pena de morte que assombrou o mundo no Irã é a mesma pena de morte tolerada veladamente nos EUA. Troy Davis, de 42 anos, foi assassinado por injeção letal numa prisão da Geórgia no dia 21 de setembro. Das nove testemunhas que acusavam Davis, sete retiraram a queixa e alegaram coação. Mas quem se importa? Se os justiceiros estadunidenses puderam invadir um país e dar um tiro no meio dos olhos de Osama bin Laden e desaparecer com o corpo, sem julgamento, o que mais não podem fazer?

Vestes cristãs

E os idiotas reativos? O mundo que comemorou o 11 de setembro nos EUA não se importa com o 11 de setembro do Chile. E o 11 de setembro nos EUA continua sendo caracterizado como o maior atentado terrorista da história, mas sabemos que o maior atentado terrorista da história foram as duas bombas atômicas que os Estados Unidos lançaram sobre a população civil do Japão. Inclusive essa tragédia fez aniversário há pouco e o mundo se silenciou. O mundo, não, os idiotas reativos.

A França dá mais um passo para estimular o Ocidente na sua sanha islamofóbica e misógina, devidamente amplificada pela mídia. Agora, as mulheres mulçumanas não podem se vestir como mulçumanas, o que é uma prova do fundamentalismo cristão se agigantando desavergonhadamente. O diabo é que as mocinhas francesas podem continuar indo à escola vestidas como cristãs. Ou você acha que as vestes ocidentais não são vestes cristãs? Do jeito que vão à festa, podem ir à missa. Pergunte às índias brasileiras colonizadas se as vestes que cobrem as “vergonhas” das moças ocidentais não são vestes cristãs…

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[Lelê Teles é diretor de marketing, Aracaju, SE]