Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Bizarrices no ‘Roda Viva’

Se é verdade o relato de Elio Gaspari sobre a saída de Mario Sergio Conti do Roda Viva [ver aqui, rolar a página] a TV Cultura de São Paulo vive dias de absoluta insanidade.

A versão de Elio é, certamente, a de Conti. Conti fez carreira na Veja sob as asas de Elio quando este era, na década de 1980, diretor-adjunto.

A falta de nexo começa no pivô: Fernando Henrique Cardoso foi, segundo Elio, o motivo da queda de Conti.

Conti convidou FHC para o Roda Viva e o novo chefe de Conti, Marcos Mendonça, desconvidou. Diz Elio que Mendonça fez isso sem sequer avisar Conti.

Ao saber disso, Conti desautorizou quem o desautorizara. Diz Elio que ele ligou para FHC e renovou o convite.

O programa foi, enfim, ao ar.

FHC é tão detestado assim num reduto tucano? Ou Mendonça é tão consciencioso que ficou incomodado com o fato de que a entrevista de FHC se seguiria a uma de Serra no Roda Viva?

Solução ruim

Se é verdade que o nome escolhido para substituir Conti é Augusto Nunes, Mendonça terá mostrado que consciencioso não é.

Em outra encarnação, no começo da década de 1980, Nunes foi um excelente apresentador do Roda Viva. Provavelmente, o melhor da história do programa. Boa presença, capacidade de administrar os entrevistadores, sensibilidade para interromper perguntas ou respostas longas.

Mas ele era outro jornalista.

Hoje, comanda um blog histrionicamente contra as administrações do PT e contra qualquer coisa remotamente associada à esquerda. Dilma é “Dois Neurônios” e Evo Morales é “Lhama com Franja”. Rui Falcão, que tem sequelas das torturas que sofreu, “mente a 80 piscadas por minuto”.

Xinga leitores que discordam de suas opiniões num grau tal que foi processado por um deles por danos morais.

Quem, fora de um círculo restrito, aceitará ir a um Roda Viva sob Augusto Nunes?

Mario Sergio Conti não nasceu para a televisão: é lento ao falar, não tem charme e acaba sendo enfadonho como apresentador.

Mas Augusto Nunes é uma solução pior que o problema.

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Paulo Nogueira jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo