MÍDIA & EDUCAÇÃO
Victor Gentilli
Com certeza o caso acontece no Brasil inteiro. Deve somar dezenas de milhares. Mas quem deu o alerta foi o jornal capixaba A Gazeta, em sua edição de domingo, 10`/3.
"Alunos de 13 anos ingressam na faculdade" é a manchete do jornal nesta edição. Segundo o diário, no Espírito Santo, mais de 500 estudantes aprovados em processos seletivos de universidades fizeram as provas, passaram e conseguiram obter matrícula amparados em mandados judiciais.
O caso mais espetacular é de uma estudante de 13 anos. Que, aliás, segue os passos do irmão, que ingressou numa faculdade quando tinha 14 anos e agora, aos 17, já é um veterano.
A matéria é correta e mostra que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) não permite a situação, que o Conselho Nacional de Educação também desaprova, mas que as instituições cumprem determinações da Justiça. Algumas instituições recorrem da decisão, mas mesmo estas o fazem sem muita convicção ou vontade.
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) já enfrentou situações parecidas. Hoje, o aluno só consegue inscrever-se no processo seletivo da Ufes se já tiver concluído o ensino médio, ou se estiver por concluir no mesmo ano das provas. Além disso, se conseguir aprovação na Ufes é uma batalha para quem concluiu o ensino médio, as possibilidades de ocorrerem na Ufes situações semelhantes são praticamente impossíveis
Jornalismo é circunstância. Mas é também contextualização e desfragmentação.
Assim, forçoso que este caso não se encerre nesta boa matéria de A Gazeta. Neste caso, o diário capixaba deu uma excelente pauta para os jornalões. Se acrescentarmos que ainda nos processos seletivos de 2002, o Fantástico, da Rede Globo, mostrou que um analfabeto pode conseguir aprovação em instituições de ensino superior, o caso atinge sua verdadeira dimensão. O primeiro argumento da Estácio de Sá, que aceitou o analfabeto, é que o candidato conseguiu aprovação, não a matrícula.
Agora vemos que a Justiça garante a matrícula. Se a moda pega…
O caso encerra pelos menos duas lições.
1. As pautas estão aí, basta a atenção, o interesse e a disposição de correr atrás.
2. Grandes matérias não são privilégios de jornalões. Publicações regionais como A Gazeta podem tratar e iniciar casos.