Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ler com prazer, todos os dias

A média brasileira de leitura, segundo pesquisas, é de dois a três livros por ano. É vezo humano consolar-se facilmente ou tomar como base índice tão pífio. É mórbido, mas é cômodo e fácil consolar-se com a própria preguiça ou miséria, quando reconhecemos (erroneamente) que há pelo mundo afora homens mais preguiçosos, mais incultos ou mais miseráveis do que nós, porque leem menos. Certo filósofo grego chegou a dizer isso, procurando consolar-se com seus próprios defeitos, com sua perversidade e com sua preguiça, quando reconhecia que há no mundo homens muito mais perversos ou mais preguiçosos do que ele.

A assertiva acima está longe de ser nobre e exemplar. O desejo de melhorar demonstra luta, esforço contínuo, trabalho, vontade de crescer, além de uma boa dose de energia moral. Seria enriquecedor se pautássemos sempre no inverso: que há homens incrivelmente mais cultos do que nós, que há pessoas que leem mais, porque a leitura abre caminhos, veredas e nos tira da escuridão e do obscurantismo. Há homens e mulheres incrivelmente mais informados, mais esforçados; menos miseráveis e menos embrutecidos intelectualmente do que nós.

Nivelar-se na média nacional é contentamento de muitos brasileiros, para não dizer comodidade e preguiça. Fico indignada e estarrecida quando escuto jovens ou adultos falarem que leem um ou dois livros por ano e ainda frisam “com mais de 100 páginas”. Alguns, porque o colégio exigiu; outros, porque está fazendo frio ou chovendo, ou não têm nada mais interessante para fazer. O hábito da leitura ocupa no Brasil um índice muito ínfimo ainda.

Ler deveria ser vício, paixão avassaladora, prazer dos prazeres, pois é alimento eficiente e duradouro para a mente, para o enriquecimento intelectual e para a vida. Ler salva vidas do empobrecimento de palavras e expressões, da miséria de ideias e opiniões e do embrutecimento intelectual. Ler não só salva vidas, mas também é um dos maiores prazeres da introspecção. Auxilia na análise e na reflexão da vida; ajuda-nos a opinar e a defender nossos direitos com propriedade e embasamento.

Os benefícios da leitura

Ouçamos o crítico e professor Harold Bloom: “Ler é um dos grandes prazeres da solidão. O mais benéfico dos prazeres. Ler nos conduz à alteridade, seja à nossa própria ou à de nossos amigos, presentes ou futuros. Literatura de ficção é alteridade e, portanto, alivia a solidão. Lemos não apenas porque, na vida real, jamais conheceremos tantas pessoas como por meio da leitura, mas, também, porque amizades são frágeis, propensas a diminuir em número, a desaparecer, a sucumbir em decorrência da distância, do tempo, das divergências, dos desafetos da vida familiar e amorosa.”

Ler por iniciativa própria, diz ele, é desenvolver a capacidade de formar opiniões críticas e chegar a avaliações pessoais, seja por divertimento ou algum objetivo específico. Leio todos os dias, compulsivamente, por prazer ou por necessidade de ofício. A leitura faz parte de minha vida na mesma proporção e importância que a alimentação e as necessidades fisiológicas. Leio para refletir e avaliar, não para acreditar, concordar, refutar, mas para enriquecer minha vida de conhecimentos e de prazer.

É necessário exercitar o cérebro com leitura diária, preferencialmente de autores que você aprecia e com os quais se identifica. Gosto dos escritos de Olavo Bilac, Raquel de Queirós, Moacyr Scliar, Marques Rebelo, Martha Medeiros, Manoel Hygino, Machado de Assis, Pompeu de Toledo e outros autores. Leio gêneros literários diversificados, como poesia, contos e romances.

Ler virou paixão em minha vida. É só começar, para constatar que de fato o livro, a leitura e a literatura são amigos mais autênticos, eficientes, inseparáveis, fiéis e enriquecedores. Além de nos tirar do obscurantismo intelectual, são companhia constante. Os benefícios da leitura são ouro, pedra preciosa e luz contínua para o conhecimento e aprimoramento humano. Não importa o motivo e o gênero escolhido, o que vale é ler, ler com prazer, todos os dias.

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Andreia Donadon é poeta