Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Crise dos refugiados dá Urso de Ouro a filme italiano

O Urso de Ouro do 66.Festival Internacional de Cinema de Berlim foi para o filme “Fuocoammare”Fuocoammara cartaz (Fogo no Mar), do italiano Gianfranco Rosi com seu documentário filmado em Lampedusa, onde chegam os barcos vindos da África com migrantes, saindo da Líbia.

Gianfranco Rosi / Foto www.film.it

Gianfranco Rosi / Foto www.film.it

Exibido logo no começo do Festival, “Fuocoammare” tinha divido os críticos, pois o documentário inclui um garoto Samuel, preocupado com fazer e usar um estilingue e em dar uma volta de barco com seu amigo. Aparece também um mergulhador e algumas cenas submarinas. Tanto o garoto como o mergulhador mostram, argumentou Rosi no encontro com a crítica, que apesar da chegada de tantos imigrantes e da ocorrência quase diária de naufrágios e afogamentos, os habitantes de Lampedusa vivem sua vida normal.

O Urso de Melhor Interpretação foi para o ator Majd Mastoura, no papel principal do filme tunisiano “Hedi”, de Mohamed Ben Attia, um jovem protegido pela mãe que lhe escolheu inclusive a futura esposa. Às vésperas do casamento, Hedi descobre um jovem tunisiana fora dos padrões muçulmanos, vive algumas noites ardentes de amor, decide partir com ela para a França e recomeçar uma nova vida. Mas na hora H, chega atrasado no aeroporto e sem mala, para dizer ter decidido ficar. Vivendo sob a proteção da mãe e com casamento arranjado, vive a situação real de grande parte das mulheres tunisianas. Por coincidência, o filme documentário do americano Michael Moore, “Onde Será a Próxima Invasão”, fora da competição, refere-se à atual situação da mulher tunisiana, onde as mulheres conseguiram obter na Constituição o reconhecimento da igualdade total com os homens.

Este mesmo filme, “Hedi”, de Mohamed Ben Attis, ganhou o prêmio de Melhor Primeiro Filme.

O Urso para a melhor atriz foi para a atriz dinamarquesa Trine Dyrholm, no filme “Comunidade” (Kollektivet), mostrando a criação de uma comunidade, numa grande casa recebida de herança, o bom funcionamento inicial mas o gradativo aparecimento de problemas, mostrando a dificuldade do convívio e como nem sempre o coletivo funciona.

O premio para a Melhor Direção foi para a jovem realizadora do filme “O Futuro” (L´Avenir), Mia Hansen-Love, nascida em Paris. Conta a história de um professora de filosofia num liceu parisiense, que vive num meio intelectual, mas enfrentando o problema da solidão, quando o marido a abandona por outra. Um filme feito por mulher para mostrar como reagem as mulheres em tais situações. A personagem é vivida pela atriz Isabelle Huppert, que era bem melhor com Chabrol, por se revelar, neste filme, um tanto fria num papel familiar.

O premio da Melhor Câmera foi para o chinês Mark Lee Ping-Bing, no filme de “Yang Chao, CrossCurrent”, uma viagem num pequeno e velho navio cargueiro pelo longo rio Yangtzé.

O prêmio de melhor roteiro foi para o realizador polonês Thomasz Wasilewski, com seu filme “Estados Unidos do Amor”, mostrando a vida diferenciada de quatro mulheres polonesas no fim do comunismo na Polônia.

O Premio Especial do Júri foi para o filme “Morte em Sarajevo”, de Danis Tanovic, nascido em Zenica, na ex-Iugoslávia. Um filme que reúne a comemoração sérvia do assassinato em 28 de junho de 1914, do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono do Império Áustro-húngaro, desencadeador da Primeira Guerra Mundial e o lançamento de uma greve dos empregados no Hotel Europa, por falta de pagamento.

O Urso de Prata prêmio Alfred-Bauer por uma contribuição à uma nova perspectiva no cinema, foi para o cineasta filipino Lav Dias, com seu filme de oito horas “A Lullaby to the Sorrowful Mystery”.

O Urso de Ouro para o Melhor Curta-Metragem foi para o filme português “Balada de um Batráquio”, de Leonor Teles.

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Rui Martins é jornalista e cobriu o Festival Interncional de Cinema em Berlim