Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

A chocante intimidade de uma revista

Tem dia que 11 em cada 10 leitores deste blog se manifestam sobre a mídia brasileira. Ótimo. É em ampla medida para isso que existe o Verbo Solto.


O problema, como dizia o alemão Bismarck, é que em geral as pessoas não sabem como se fazem as leis e as salsichas.


De fato, raramente o leitor tem a oportunidade de saber como se fazem as notícias – e como teria? Sabendo, isso talvez pudesse levá-lo a ser ainda mais crítico do que é em relação à imprensa, mas já então com base antes em situações concretas do que em generalidades, pressupostos ou mesmo estereótipos. Que, por definição, induzem a erro e enfraquecem, no varejo, as acusações feitas por atacado.


Mas desde ontem à noite o leitor do Observatório da Imprensa ganhou acesso inédito à intimidade de um órgão de mídia, no caso a revista IstoÉ.


Isso porque o reto e tarimbado jornalista Luiz Claudio Cunha, editor de Política da revista em Brasília, teve a grande idéia de compartilhar com o público, por meio de cópia de uma carta de sua autoria, os fatos que, nas suas palavras, fizeram da IstoÉ uma IstoEra.


O destinatário da carta é Carlos José Marques, diretor-editorial da revista. O destinatário da cópia, Alberto Dines, editor-responsável do Observatório da Imprensa.


A carta é extensa, devastadora e repleta de exemplos deprimentes. Um deles, saído do forno:


“ISTOÉ, pelo jeito, não quer afligir mais ninguém, principalmente os poderosos. Deve ser por isso que a ISTOÉ desta semana consegue o milagre de produzir uma matéria sobre o caseiro Nildo, aquele que viu as bandalheiras da ‘República de Ribeirão Preto’, sem citar uma única vez o santo nome de Antonio Palocci. E discorre sobre a vergonhosa quebra de sigilo do caseiro omitindo acintosamente o nome do assessor de imprensa Marcelo Netto, um dos suspeitos de envolvimento no crime. Reclamo porque fui eu que escrevi a matéria, e nela constavam os dois nomes – Palocci e Marcelo. Meu texto foi lipoaspirado, desintoxicado dos nomes do ministro e do assessor, e assim publicado. Por isso, recusei assinar a matéria, que não refletia o que o repórter mandou de Brasília na noite de quinta-feira 23 . E nem precisaria tanto drama, porque os nomes da dupla já estavam, desde manhã cedo, nas edições da Folha de S.Paulo e do Correio Braziliense. A revista não estaria fazendo carga contra ninguém, estaria apenas sendo fiel aos fatos. Perdeu uma bela oportunidade de não ficar calada. Até porque, momentos atrás, o Palocci acaba de se demitir, por todos os motivos que tínhamos e não explicitamos.


Tem mais. Bastante mais. Se me permitem um lugar-comum, fará um favor a si mesmo o leitor que gastar 15 minutos do seu dia com esse texto. É, para usar outra frase-feita, leitura obrigatória.


Clique aqui para ler.

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