Saturday, 18 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

Do “jornalismo errático” ao “jornalismo de quadrinhos”

O título acima é mais ou menos o resumo da angustiante busca por um novo modelo de jornalismo em plataforma digital, que nos últimos dias assistiu à morte do projeto The Daily e o nascimento do Symbolia. Duas propostas diferentes voltadas para um mesmo objetivo e com desfechos ainda incertos.

O projeto The Daily, lançado em 2011 com pompa e circunstância pelo controvertido conglomerado News Corporation, do milionário Rupert Murdoch, incinerou 33 milhões de dólares na vã tentativa de se tornar o primeiro jornal feito para a internet, usando como plataforma exclusiva o iPad. Mas a distância entre o sonho e a realidade foi maior do que o realismo financeiro de Murdoch.

Já o Symbolia, com muito menos dinheiro, nasceu no início de dezembro de 2012 com a ambiciosa proposta de usar a estratégia das histórias em quadrinhos para buscar um meio termo entre a informação visual e o jornalismo tradicional. Começa como uma periodicidade bimensal e pretende tornar-se mensal, se conseguir equilibrar despesas e receitas nos próximos 10 meses.

The Daily fracassou porque sua receita de combinar jornalismo tradicional com os recursos multimídia da internet não deu certo. A fórmula foi desenvolvida de forma errática, pois em alguns momentos insistiu mais no tradicional, noutros apostou na inovação multimídia. Sem uma cara definida, acabou não conquistando nem a fidelidade do publico jovem, mais antenado nas novidades, e nem a do leitor convencional, que ainda não abandonou o hábito da leitura em papel.

Há muitas outras explicações possíveis para o novo insucesso de Murdoch no ambiente digital. Antes disso, ele já havia sofrido um dolorido revés com a rede social MySpace, comprada por 538 milhões de dólares em 2005 e vendida por magros US$ 35 milhões, em 2011. Também existem dezenas de especulações sobre o futuro da Symbolia, considerada uma combinação de revista em quadrinhos com o jornalismo investigativo da esquerdista Mother Jones, conforme definição de Jessica Weisberg, da Columbia Journalism Review.

O que as duas publicações têm em comum é o fato de participarem deste enorme laboratório onde estão sendo testadas novas fórmulas para o jornalismo. Trata-se de um processo no qual ninguém tem a fórmula mágica do sucesso e todos estão experimentando várias hipóteses, uns com maior e outros com menor êxito. Esta etapa é inevitável quando se está explorando um território desconhecido cujas regras ainda são uma grande incógnita.

Isso nos leva a ter que relativizar os erros e fracassos, porque eles são também inevitáveis. O fim do The Daily pode não ser um fracasso como muitos estão rotulando, se as causas que levaram ao seu fechamento forem devidamente investigadas para que lições sejam aprendidas. Não há nada de degradante quando algo não dá certo num ambiente de incerteza. The Daily não será o primeiro e nem o último dos projetos que entopem o cemitério de iniciativas online.

Da mesma forma, não se pode ver a revista Symbolia como a solução para todos os dilemas do jornalismo na internet. Há uma expectativa para que tenha sucesso, mas a aposta é bem arriscada. A estratégia de jornal no formato de quadrinhos numa plataforma multimídia ainda não foi testada por ninguém. Mas não dá para excluir a possibilidade de êxito porque a internet ainda é uma caixinha de surpresas em matéria de publicações jornalísticas.