Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Dona Raquel foi uma. Falta o outro

Da massa de textos sobre a crise da corrupção, que ocupam praticamente todo o espaço do noticiário nacional nos jornais de hoje, nenhum se compara em teor potencialmente explosivo à matéria do Estado “Secretária de Perillo recebeu oferta de mesada” e à da Folha, “Tucano diz que recebeu oferta do PT”.

Em maio do ano passado, segundo a versão do governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, ele teria contado a Lula, num deslocamento de automóvel, que dois deputados federais tucanos foram cantados por gente ligada ao governo com a oferta de mesada de R$ 40 mil e bônus anual de R$ 1 milhão para baterem asas rumo a outros ninhos.

Sempre segundo Perillo, Lula respondeu que essas eram coisas que “o (falecido ministro) Sérgio Motta fazia” no governo passado. O governador teria replicado que se referia a fatos ocorridos no atual governo, e a conversa morreu por aí.

Agora, a repórter Sheila Amorim, do Estado, identificou um daqueles parlamentares, a atual secretária de Ciência e Tecnologia de Goiás, Raquel Teixeira. A fonte é outro político tucano local, amigo de Raquel – que lhe teria confidenciado o episódio.

“Ela chegou a comentar, inclusive, quem teria feito a proposta”, contou. Mas não quis dar nome ao quem. “Não vou falar agora, porque acho que ela deverá fazer isso”.

À repórter, Raquel primeiro negou, depois fugiu, por fim passou a bola para a frente, quando foi achada. “Se o governador achar que deve falar, falará no momento adequado. Eu prefiro não falar.”

Fale ou cale Raquel, Perillo não terá saída a não ser identificar os correligionários visados, do contrário se desmoralizará. Mesmo porque a qualquer momento a mídia chegará aos nomes, o que só fará aumentar as pressões sobre ele – que decerto não quer pôr mais lenha na fogueira, talvez para o seu governo não sair, também ele, chamuscado por alguma razão. Mas, se assim é, é o caso de perguntar: por que falou? Falou por quê?

A repórter Marta Salomon, da Folha, por exemplo, já descobriu a identidade de um dos dois tucanos. Pelo menos foi o que escreveu na matéria que o jornal, estranhamente, relegou a um pé de página. “Sob o compromisso de não ter seu nome revelado por ora”, relata a repórter, “o congressista disse que teria sido procurado por um alto escalão do PT e do governo”. (A frase é mal construída: obviamente ele não disse que “teria sido”, mas que foi. Se é verdade ou não, são outros 500.)

“O congressista” pode ser, ou não, “a congressista” licenciada que o Estado identificou. Se não for, tanto melhor para a apuração da denúncia. Porque, nessa hipótese, a imprensa teria cravado desde já os dois políticos abordados.

Seja como for, é o mais perto que se chegou de confirmar as suspeitas sobre os métodos piores do que os do fisiologismo a que o PT-governo pode ter recorrido em 2003 para transferir cerca de 20 tucanos – além de pencas de pefelistas e pemedebistas – às bancadas amigas do PTB, PL e PP.

Porque uma coisa é acenar com cargos, verbas para emendas parlamentares e investimentos sociais nos redutos dos aquinhoados, capazes de pavimentar o caminho para a sua próxima eleição. Outra coisa é grana viva. E que grana!

É continuar cavando.