Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Época no limite da ética

Não resistiu a uma noite a insinuação – plantada no blog da revista Época, ao que tudo indica para salvar a cara do ministro Antonio Palocci – de que o caseiro Francelindo dos Santos Costa, que denunciou o que viu e ouviu no clube privê da patota do ex-prefeito de Ribeirão Preto, vinha recebendo desde janeiro dinheiro suspeito na sua conta na Caixa Econômica Federal. R$ 38,8 mil ao todo.


Mais do que depressa, o advogado do moço convocou uma coletiva na qual o seu cliente contou a origem dos depósitos, exibiu os respectivos comprovantes, explicou o que fez com o dinheiro – e soltou uma bomba:


Na noite de quinta-feira, ele esteve na Polícia Federal de Brasília para tratar da proteção que passou a receber desde que confirmou duas vezes, a jornalistas e na CPI dos Bingos, com fartura de detalhes, que o ministro da Fazenda frequentava a mansão do Lago Sul para se reunir na surdina com a sua gente e participar de colóquios com praticantes da mais antiga das profissões.


Em dado momento, quando abriu a carteira para tirar o RG e o CPF, um delegado viu que ele tinha um cartão de correntista da Caixa e pediu para que o entregasse juntamente com os outros documentos. O cartão ficou em poder da PF uns 20 minutos.


‘Eu não tirei o meu extrato e vazei para a imprensa. Nem minha companheira tem acesso à minha conta’, desabafou o caseiro na entrevista. ‘Então, como pode? Mexeram nas minhas contas. O que mais posso esperar? Me sinto invadido. Estou falando só a verdade. Pode vir dinheiro e dinheiro que a minha honestidade não conta.’


Os repórteres da Época, Gustavo Krieger e Andrei Meirelles, que divulgaram o extrato, embora tenham ouvido o que o dono da conta teria a dizer a respeito, por intermédio do seu advogado, chegaram ao limite da responsabilidade ética do ofício.


Não tropeçaram no extrato na rua. E são suficientemente experientes para saber que o seu repassador era no mínimo cúmplice do crime de violação do sigilo bancário de quem teve a temeridade de contradizer o mais poderoso ministro do governo Lula.

De novo para dizer o mínimo, a dupla não tem nada do que se orgulhar.


Jornalisticamente falando, por fim, essa é a grande pergunta que não pode deixar de ser respondida: quem e por que quis passar para a opinião pública a suspeita de que Francenildo recebeu grana para colocar Palocci numa fria – e acabou colocando numa fria o governo Lula.


Como diz a senadora Heloísa Helena, do PSOL, a quem Madame Jeanny Mary Córner contou o diabo sobre o que se passava entre as muitas paredes da sede da República de Ribeirão Preto, ‘esse governo consegue liminar para proteger os direitos sexuais do Palocci e seus esquemas de corrupção e invade os direitos individuais de um rapaz’.


O resto é com a Justiça.


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