Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Já não deixam perguntar nem ao povo

Na matéria ‘Tela de galinheiro para afastar repórteres’, o Estado de hoje informa que, na visita do presidente Lula ao assentamento de Vitória da Conquista, onde ele disse que tinha ‘coração de mãe’ e que faz parte dos seus encargos ‘cuidar para que a família brasileira viva em harmonia’, os jornalistas ficaram confinados.

O confinamento da imprensa em viagens presidenciais não é propriamente uma situação insólita, não se limita ao atual governo, nem ao Brasil. É do jogo chefes de Estado e outras autoridades não quererem ser abordados pelo reportariado em circunstâncias sobre as quais têm escasso ou nenhum controle, ou em meio a crises, e assim por diante.

Mas a tela de galinheiro de que fala o jornal não afastava os repórteres apenas do presidente. Impedia-os de circular entre as cerca de 3 mil pessoas que o escutavam. Claramente, a intenção não era poupar Lula de perguntas incômodas, mas de preservá-lo de respostas que podiam ser constrangedoras para a sua imagem e a sua populariade. Ou de bloquear a informação de que um certo número dos presentes poderia não estar lá voluntariamente nem ter chegado ao lugar pelos próprios meios.

‘Um tapa no pé da orelha’

A repórter Mariana Campos, da Agência Folha, ouviu do mestre-de-obras Jackson Inácio da Silva, um dos 15 irmãos e meio-irmãos ainda vivos do presidente, membro do PT há 14 anos, que Lula devia saber dos escândalos que agora estão na boca do povo.

‘Falar que ele não sabia de nada é muita ingenuidade’, julgou. ‘Uma namorada pode me trair um mês, mas, se ela me trair a vida inteira, um dia eu vou saber’.

Pior ainda foi o que disse que o pai dos dois faria se ainda estivesse vivo: ‘Dava um tapa no pé da orelha dele para ele ser mais vivo. Meu pai ia chamar a atenção e cobrar mais coerência e maturidade.

P.S. Delúbio é dose. Acabou de dizer na CPI do Mensalão que ‘opinião do presidente não se discute: se respeita. Falou, tá falado’. (Quando perguntado sobre Lula ter dito que se sentia ‘traído’.)