Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Lula e o Ibope: o leitor se esqueceu ou enjoou do mensalão?

A possibilidade de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assegurar a reeleição já no primeiro turno, caso a consulta às urnas trouxesse o adversário do PSDB fosse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é um dos temas dominantes do dia, perdendo em projeção apenas para os novos reveses do governo federal na CPI dos Bingos e para os resultados de mais duas votações sobre cassações de mandatos na Câmara dos Deputados.

A pesquisa do Ibope, feita para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), apesar da contundência dos números – 46% para Lula, contra 22%  de Alckmin –, aquece o noticiário de hoje, mas tem uma imperfeição incorrigível, pois foi concluída dois dias antes de o PSDB ungir Alckmin para enfrentar Lula em outubro próximo. Sem a migração natural a favor de Alckmin dos eleitores do prefeito José Serra, que levaria a disputa para o segundo turno, caso fosse o tucano escolhido, a pesquisa só não é totalmente despropositada porque aprofunda a recuperação de Lula iniciada em janeiro passado. Todos os índices de reprovação e desconfiança que o ameaçavam por causa da crise política foram neutralizadas. Hoje, a maior parte do eleitorado (55%) aprova o desempenho de Lula como presidente, 77% consideram seu governo entre regular e ótimo/bom e apenas 15% dos eleitores têm na lembrança as notícias que vinculam o PT à acusação de que ‘o partido dava mensalidade aos parlamentares.

‘A recuperação da imagem do governo se dá em todos os segmentos, nas cinco regiões do país e em todas as faixas sócio-econômicas’, registra O Estado de S.Paulo numa das reportagens que sustentam sua manchete principal , ‘Eleitor esquece mensalão e volta a aprovar o governo’.

O Globo também vai de Ibope no título nobre, mas não faz nenhuma das ilações e comparações do Estado. Sequer traz a palavra ‘mensalão’ ou menciona a crise moral que se abateu sobre o governo e o PT na reportagem de apoio à sua manchete principal, ‘Lula teria hoje mais que o dobro dos votos de Alckmin’.

O Jornal do Brasil não cita diretamente a pesquisa em nenhuma manchete, mas abre a primeira página para fotos de Lula e Alckmin, prontos para o enfrentamento.

Já o Valor Econômico e a Gazeta Mercantil, os dois mais importantes jornais econômicos do país, registram o resultado da sondagem do Ibope. Assim como O Globo, ambos limitam-se aos números apurados.

A Folha de S.Paulo isola-se dos demais – e inova: pela primeira vez, não chama a pesquisa do Ibope. A única menção aos dois principais candidatos (até o momento) nas próximas eleições está na submanchete ‘Alckmin ataca Lula e defende a família e as tradições’. Somente na p A-6, reproduz a sondagem com ‘Lula ganharia de Alckmin já no primeiro turno, diz Ibope’.

De todas as abordagens feitas pelos jornais, a do O Estado de S.Paulo diferencia-se porque procurou interpretar o sentimento do eleitor com relação ao governo Lula e ao PT. A tentativa é positiva, pois tenta fornecer ao leitor algo mais do que a mera reprodução dos percentuais, mas escorrega ao não aprofundar na razão do ‘esquecimento’ do leitor. A conclusão da pesquisa é mais do que discutível, posto que o assunto não saiu dos jornais um dia sequer, incluindo as semanas de entressafra de notícias do período de Festas.

Ficam as perguntas:

Como poderia haver esquecimento de um assunto que se renova todo santo dia nos jornais?

Trata-se de esquecimento ou enfado?

Lula estaria hoje em situação confortável nas pesquisas, se as CPI não tivessem se rendido aos interesses políticos e investigassem todos os partidos que usaram os serviços de Marcos Valério?