Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Media training ao avesso [2]

Quando, às 8h45 deste domingo, comentei aqui a complacente entrevista do Estadão com o candidato tucano ao Planalto, Geraldo Alckmin [ver nota abaixo], não tinha lido ainda outra entrevista com o mesmo personagem, de autoria de Flavio Freire, no Globo também de hoje. Acabo de fazê-lo e me desculpo pelo atraso.

Com 17 perguntas, a entrevista do jornal carioca é mais suscinta do que a outra, com 26. Mas essa é a menos importante diferença entre as duas.

A mais importante é que o entrevistador do Globo não deixava barato qualquer coisa que o entrevistado dissesse.

Por exemplo:

Depois de Alckmin dizer, logo de saída, que ‘não houve disputa’ pela candidatura do PSDB, a pergunta seguinte quase permite o leitor ver o repórter arregalando os olhos. ‘Não ficou evidente uma disputa individual pelo poder?’

Depois de Alckmin dizer, em outro momento, que Serra é ‘um candidato excepcional’, o entrevistador rebate: ‘Excepcional para São Paulo e não para a presidência.’

Depois de Alckmin dizer, adiante, que não é da Opus Dei, não é da TFP, mas respeita quem tem religião, e o Estado é laico [diante de uma pergunta, na lata, sobre sua relação com as duas organizações], o entrevistador insiste: ‘Essa pecha de conservador o incomoda?’ [O Estado se limitou a perguntar se ele era conservador].

Depois de Alckmin citar Perón, que aconselhava falar muito das coisas, pouco das pessoas e nada de si, o repórter foi em cima: ‘O senhor é muito cuidadoso com as palavras. Há muita diferença entre o que o senhor pensa de fato e o que fala?’

E o grand finale:

‘O que o tira do sério?’

‘Desvio de dinheiro público.’

‘O jantar do triunvirato com o Serra não o tirou do sério?’

A resposta nem vem ao caso.

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