Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

No Roda Viva, mais do mesmo

Quando começou o segundo bloco da entrevista com o deputado Roberto Jefferson no programa Roda Viva da TV Cultura, agora há pouco, o entrevistado desafiou os entrevistadores: “Estamos perdendo a oportunidade de discutir a questão de fundo, o sistema de financiamento de campanhas.”

Ele mostrava espanto com o que disse que lhe parecia ser o desconhecimento dos jornalistas sobre como funciona o mundo dos negócios políticos. “Que conversa é essa?!”, admirou-se. “Vocês não sabiam? Parece que estamos num convento.”

Alguns dos entrevistadores reagiram com alacridade. Ainda bem, porque o programa até então parecia um soporífero replay do depoimento de Jefferson ao Conselho de Ética da Câmara e das suas entrevistas à repórter Renata Lo Prete, da Folha (que por sinal também estava na bancada), com um ou outro detalhe adicional da mesma história do mensalão, com os mesmos vilões: José Dirceu, José Genoíno, Sílvio Pereira e Delúbio Soares.

Quando ele voltou a dizer, por exemplo, que não denunciou antes o alegado esquema “porque ainda tentávamos um acordo” e repetiu, ao ser provocado, a resposta – implausível – de que o acordo era simplesmente parar o mensalão, ficou por isso mesmo.

Mas, passada a irrupção dos entrevistadores – cobrando dele mais informações concretas sobre a bandalheira e o porquê de sua insistência em blindar o tempo todo o presidente Lula – voltou-se a um padrão de entrevista em que as respostas eram muito mais eloquentes, embora de duvidosa credibilidade, do que cortantes as perguntas,.

Houve o palpitante momento em que se indagou do deputado se ele achava que a imprensa estava no bom caminho na cobertura dos escândalos. Sua Excelência respondeu que sim, sem dúvida. Todos devem ter se sentido gratificados.

A passagem mais rica foi a do “fio da navalha”, expressão já usada pelo deputado no Conselho de Ética: uma coisa é o mensalão, o aluguel de bancadas; outra são as relações financeiras entre partidos coligados (como PT e PTB). Um entrevistador comentou e insistiu, direto ao ponto: “Mas nos dois casos o dinheiro é público.” Ele acedeu como quem diz que a vida é assim mesmo.

Para Jefferson, a diferença está no “por dentro” e no “por fora”. Quando a empresa que transaciona como uma estatal dá dinheiro para um partido “por dentro” – o que, segundo ele, muito poucas fazem – tudo bem. Errado é só o “por fora”.

No bloco final, a repórter Renata Lo Prete resgatou, como se diz, o problema das motivacões dos doadores. “Empresário que contribui tem direito a quê?”, perguntou. E ele não sonegou a verdade: no que a escolha dos fornecedores do governo tem uma margem de subjetividade, quem doou está em situação melhor do que os outros. Mas ele acha a idéia do financiamento público de campanhas uma abominação.

O programa bem que podia ter terminado sem a derradeira pergunta do apresentador – “Onde o senhor quer chegar com essa cruzada?” – como se ele fosse o redentor da moralidade na política nacional. Promovido a santo guerreiro, a pergunta fez cair no seu colo, como ele gosta de dizer, o fecho glorioso da momentosa entrevista: “A sociedade sairá ganhando.”