Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

O caso é grave; a matéria também

”Para governo, caso é grave e exige resposta de ministra”.


O caso a que se refere o título acima, da Folha de hoje, sobre matéria de Kennedy Alencar e Valdo Cruz, é o do alegado preparo de um dossiê com gastos por meio de cartões comporativos para o então presidente Fernando Henrique e a sua mulher, Ruth.


Em manchete de primeira página e ao lado da rubrica “exclusivo”, o jornal atribui à secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, “braço direito” da ministra Dilma Rousseff, a responsabilidade pela montagem da relação – um documento de 13 páginas a que a Folha diz ter tido acesso ontem.


Grave, além do caso, é a mencionada matéria sobre os efeitos políticos potenciais do furo do jornal.


Por trechos como os seguintes:

”A cúpula do governo avalia que a situação da ministra […] se agravou […]”.


”Ontem, integrantes da cúpula do governo demonstraram preocupação com a situação da ministra […]”.


”[…]um ministro de Lula classificou a informação [da Folha] de gravíssima e disse que Dilma pode ser arrastada para o centro da crise.”


”Cúpula do governo”? “Integrantes da cúpula do governo”? “Um ministro de Lula”?


A vaguidão desses termos, numa reportagem sobre assunto de tamanha importância, depõe contra a credibilidade do texto.


Se os autores não podem identificar as suas fontes, podiam ao menos dizer quantas são e quais as áreas do governo em que atuam. Podiam dar a idéia mais aproximada possível, sem publicar os seus nomes, do seu lugar no sistema de decisões do Planalto e de sua presumível influência junto ao presidente da República. Por que eles – supondo que de fato sejam mais de um – representam, ou integram, a “cúpula” do Executivo?


E quanto às suas eventuais motivações? Ou isso não pesa?


O público não tem por que dar cheques em branco a jornalistas. Estes é que deveriam se sentir obrigados a lhe dar um mínimo de garantias de que as opiniões de seus informantes anônimos merecem ser levadas em conta por serem eles efetivamente quem se sugere que sejam


P.S.


No último dia 16, há menos de duas semanas, portanto, a nota “Para quem é pobre bacalhau basta” tratava de outro caso do gênero, embora menos explosivo, envolvendo o mesmo jornal e um dos seus repórteres aqui citados.