Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

O dedo no pino da granada

Está na reportagem “Vai sobrar para todo mundo”, de Rodrigo Rangel, no Globo de hoje, o que parece ser a essência da operação limpeza de barra posta em marcha a quatro mãos pela dupla Delúbio-Valério.

É algo ainda mais ambicioso do que criar um cordão sanitário em volta do presidente Lula e em menor escala do ex-ministro José Dirceu, servindo aos incautos o uísque paraguaio de que o publicitário só fez o que o tesoureiro lhe pediu e de que este pediu, recebeu e repassou os milhões do bom samaritano sem consultar rigorosamente ninguém antes, nem dar satisfações a ninguém depois.

Trata-se de uma variação da ameaça atômica de “arrastar o Brasil”, como Dirceu teria dito sobre o que ele poderá acabar fazendo se, contra ventos e marés, a oposição conseguir que a CPI o convoque a depor.

Esse é o deterrente embutido nas declarações de Delúbio ao procurador-geral da República sobre onipresença do caixa 2 na política brasileira.

Arnaldo Malheiros Filho, advogado e porta-voz do tesoureiro, disse que o seu cliente teria afirmado que, além do PT, beneficiaram-se dos milhões valerianos o PP, o PL [acusados por Roberto Jefferson], o PTB [do acusador], o PcdoB, o PSB e o PMDB governista.

Quando o repórter do Globo lhe perguntou se Delúbio não teme pôr em risco os mandatos dos políticos da base parlamentar, registrou a seguinte resposta:

”Aí teria que cassar também os políticos da oposição, de partidos que também trabalham com caixa 2. Aí o que vai acontecer? Quem governaria o país? O Ministério Público? Há duas alternativas: ou rifar oposição e situação ou dar um jeito nessa prática. Do jeito que está, a classe política brasileira é obrigada a viver na marginalidade.”

E arrematou com uma frase que, embora esperável da boca de um advogado, desde já o credencia ao troféu Óleo de Peroba 2005: “O PT resolveu iniciar uma faxina nessa prática política brasileira.”

Mas o que importa não é a enormidade, de lembrar os melhores momentos do doutor Paulo Maluf sobre os milhões que ele nunca teve no exterior. O que importa é que Delúbio e Dirceu estão avisando em alto e bom som que estão prontos a arrancar o pino da granada se a oposição quiser levar a CPI às últimas consequências.

Logo se saberá se ela vai pagar para ver. Suspeito que, mesmo não querendo, será impelida a fazê-lo pela opinião pública – pelo menos no que diz respeito às culpas em cartório dos partidos. Clima para uma descomunal operação-abafa, que exigiria a cumplicidade da mídia, não existe nem em sonho.

Daí que, não sendo Dirceu e Delúbio conhecidos por rasgarem notas de mil, com perdão pela metáfora, e principalmente se o mandato de Lula não for posto em xeque, é provável que desistam de detonar o sistema que os abriga a todos.