Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O sabor amargo do bolo de Lula

Luiz Inácio Lula da Silva, há 25 anos o número 1 do Partido dos Trabalhadores, não compareceu ao “ato político mais importante desde a fundação do PT”, como o presidente interino da sigla, Tarso Genro, definiu as eleições de ontem para a renovação dos seus órgãos de direção.

Com a missão impossível de dourar a amérrima pílula da ausência do presidente de honra na eleição que, se dependesse dele, teria sido adiada para dias menos turbulentos, o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, atentou contra a inteligência alheia. “O presidente está mais preocupado com o futuro do PT do que com a eleição interna”, disse ele, ao que se lê no Estadão de hoje.

Como se uma coisa não tivesse tudo a ver com a outra.

Na mídia, a Folha conseguiu ser ainda mais desastrada do que ele. Não fosse por uma matéria relegada ao pé de uma página interna e por uma observação do repórter Kennedy Alencar – no último parágrafo do seu texto – o jornal ficou a um fio de cabelo de ignorar o bolo de Lula nos seus companheiros, que a concorrência deu em manchete.

‘Lula não vota na eleição do PT”, proclamou o Estado. “Lula falta a eleições no PT, marcadas por denúncias”, destacou o Globo também na primeira página, numa síntese competente do que foi o tal “ato político mais importante desde a fundação do PT”. E emendou, em manchete interna: “Uma ausência histórica”.

Já o leitor da Folha que de nada soubesse por outros meios de informação só tomaria conhecimento do forfait do “eleitor mais famoso do PT” (Pedro Bial, no Fantástico, citado na coluna Toda Mídia, de Nelson de Sá, na mesma Folha) na décima-quinta linha da discreta chamada de primeira página “Voto de cabresto marca eleição nacional petista”. Ali se lê, apenas e tão-somente: “Lula não foi votar”.

Para o bem do leitorado da Folha que não fica só nas manchetes, Kennedy Alencar disse o essencial sobre a “ausência histórica”:

“Se queria se distanciar mais do PT, Lula não poderia ter feito melhor… Com isso [o não comparecimento] deu a entender que o PT não é problema seu. É, sim. E dos grandes. Como Lula não se cansa de cometer erros políticos, cometeu mais um. Ele e o PT são indissociáveis.”

Ficou faltando dizer uma coisa para fechar o círculo: a omissão de Lula não foi só um erro; foi um ato de covardia política.

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