Saturday, 27 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Para a Fortune, é a Rússia que compromete o futuro dourado do BRIC

Volta e meia, nos últimos tempos, a imprensa internacional tromba com o que dizem os maiores jornais e revistas brasileiros. Na maioria absoluta das vezes, a opinião externa tem sido mais positiva em relação ao país. O fenômeno se repetiu outra vez na Fortune de 27 de fevereiro, p 24 e 25, em reportagem que aborda o BRIC, o bloco dos países emergentes – Brasil, Rússia, Índia e China – que, segundo análise do banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, irá superar dos Estados Unidos, Europa e Japão – hoje as economias mais ricas do planeta.

O crescimento pífio da economia brasileira durante o ano passado, além das inevitáveis comparações com outros países pobres e em desenvolvimento, também levou muitos analistas a concluir que o Brasil não merecia fazer parte do BRIC. Em editorial de algumas semanas atrás, O Estado de S.Paulo, por exemplo, atribuía a negação do Brasil ao futuro dourado do BRIC às trapalhadas do governo Lula.

O texto da Fortune também informa de onde vem a atual fase de prosperidade da Rússia e, por tabela, novamente desautoriza comparações com o Brasil.  Desde 1998, quando quebrou, a Rússia tem crescido à média anual de 6,4%, sobretudo graças aos preços internacionais do petróleo. Hoje, embora não faça parte da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a Rússia é o primeiro exportador de gás e o segundo maior exportador de petróleo do mundo, abaixo somente da Arábia Saudita. Os dois combustíveis sustentam a economia do país com participação de mais de 20% no PIB (Produto Interno Bruto).



‘Essa fonte de riqueza levou o Kremlin a ignorar a necessidade de diversificação da economia russa. Brasil, Índia e China não têm as mesmas reservas de petróleo e gás da Rússia, mas, em compensação, não têm as mesmas resistências da Rússia para o recebimento de investimentos externos’. (…) ‘Em 2003, segundo documento produzido pelos economistas do Goldman Sachs, a Índia recebeu US$ 4,3 bilhões em investimentos diretos, o Brasil US$ 10,1 bilhões e a China US$% 53,5 bilhões, enquanto a Rússia atraiu apenas US$ 1,1 bilhão’.

‘China, Índia e Brasil emergiram como potências econômicas em potencial, em graus distintos. A Índia move-se lentamente na abertura de sua economia, A política no Brasil está contaminada pela corrupçãoNa China, a pressão da sociedade por reformas políticas pode trazer alguma instabilidade. Mas, diferentemente da Rússia, esses três países têm aproveitado a globalização para se desenvolver-se e crescer. A Rússia também tem um enorme potencial, mas depende que o governo promova a diversificação da economia e passe a tratar o investimento externo como oportunidade e não como risco. Se os economistas da Goldman Sachs quisessem incluir um país com crescimento influenciado pela energia, mas com resistência à globalização e centralização de recursos, investimentos e autoridade política, por certo teriam escolhido a Arábia Saudita para fazer parte do bloco’.