Wednesday, 17 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Quem foi mesmo Cláudio Abramo?

O Estado foi o primeiro a dar a notícia, na quinta-feira, com poucas palavras: uma escultura de duas pedras superpostas, em homenagem a Cláudio Abramo, na praça que leva o seu nome, na região dos Jardins, em São Paulo, foi retirada como entulho por uma empresa contratada pela prefeitura da cidade, depois de ter sido danificada em um acidente de trânsito.


Ontem a Folha entrou na história com uma matéria mais alentada. Hoje o Estado volta a ela também com mais destaque e novas informações.


Se dependesse apenas do Estado, tudo que o leitor ficaria sabendo sobre a figura principal do episodio se resumiria a isso: Cláudio Abramo era jornalista. Nasceu em 1923 e morreu em 1987. Nenhuma palavra sobre o fato de ele ter sido secretário de Redação do jornal [e depois diretor de Redação da Folha]. Muito menos uma referência ao fato de ter sido ele o melhor jornalista que já passou pela casa – e um dos maiores nomes da imprensa brasileira em todos os tempos.


Os Mesquitas, com raras exceções, não gostavam do Cláudio, nem do seu sobrinho Perseu, já também falecido, que foi chefe de reportagem do jornal. Não gostavam principalmente de suas posições políticas.


The feeling was mutual, como diriam os ingleses – e o editorial de hoje do Estado, a propósito do encantamento da mídia britânica com o presidente Lula e a confissão dele de que nunca foi tão bem tratado no estrangeiro.


Certa vez Cláudio escreveu que os editoriais do Estadão eram ‘medievais’.


Ao noticiar a destruição da escultura e não dizer que a pessoa que ela celebrava foi chefe de redação do jornal – não precisava nem dizer que nele implantou mudanças revolucionárias para os padrões da casa -. o Estado como que se dissociou do seu nome. E de um pedaço de bom tamanho de sua própria história.


Outro dia, como já comentei aqui, o Estado foi o único jornal a noticiar a carteirada do comandante do Exército em Viracopos sem dar o nome do jornalista [Elio Gaspari] que destampou o episódio. Jornal e jornalista estão rompidos.


No passado, porque o abominava – não sem bons motivos – o Estado não publicava por inteiro o nome do governador paulista Adhemar de Barros. Era A. de Barros. [Não publicava, nem abreviado, o nome da deputada estadual de má reputação Conceição Santamaria, depois da Costa Neves.] O Adhemar só voltou a sair no jornal quando ambos ficaram do mesmo lado da trincheira, apoiando o golpe de 1964, que um e outro chamavam Redentora.


Os direitos do leitor, ora os direitos do leitor.


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