Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Veja ignora atualização sobre reflexos da gripe do frango no Brasil

Houve um tempo em que as revistas semanais, por terem uma semana para serem editadas, procuravam acrescentar inteligência nas abordagens oferecendo, quando possível, os desdobramentos do assunto tratado no futuro breve. A reportagem ‘Especial’ da Veja desta semana, sobre as conseqüências da gripe aviária para a economia do Brasil, é uma evidência de que essa busca, pelo menos na revista semanal mais vendida do país, é coisa do passado.

O texto em questão – ‘A gripe aviária até agora fez bem ao Brasil’ – reproduz um vício novo da revista. Ele se manifesta por meio de títulos afirmativos e categóricos que, na reportagem propriamente dita, não se sustentam. Em alguns casos, o esvaziamento é enunciado ainda no subtítulo.
A reportagem em questão estava com prazo vencido quando ainda se encontrava em produção, como mostra a seqüência de textos publicados reproduzida abaixo.


A gripe aviária até agora fez bem ao Brasil – Veja – 08/03/06

Mas os novos focos surgidos na Europa podem afetar o crescimento do mercado aviário

Do ponto de vista comercial, a gripe aviária até agora havia beneficiado o Brasil. O país, que em 2003 era o segundo exportador mundial de frango, hoje ocupa a primeira posição no ranking, à frente dos Estados Unidos. No ano passado, o volume nacional de exportações atingiu um resultado recorde: 2,8 milhões de toneladas de carne vendidas, o que significa um crescimento de mais de 15% em relação ao ano anterior. Esse salto se deve, sobretudo, a um motivo: sem registro de focos da doença até agora, o Brasil abocanhou mercados antes dominados por grandes produtores como a China e a Tailândia. Atingidos pelo retorno da epidemia no fim de 2003, esses países diminuíram drasticamente suas vendas à Europa e ao Japão.



Consumo de aves pode ter queda de 3 milhões de toneladas O Estado de S.Paulo – 1º/3/06

O medo da gripe aviária se traduzirá neste ano em uma queda mundial no consumo de aves que pode chegar a 3 milhões de toneladas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). A FAO calculava para este ano um consumo de produtos avícolas de 83,6 milhões de toneladas. Mas o pânico que se instalou na Europa, no Oriente Médio e na África pode provocar uma queda ainda maior.
Na Europa, a diminuição do consumo oscila de 70% (na Itália) a 20% (na França). Na África, egípcios e nigerianos estão deixando de comprar aves de granja e ovos. Na Índia, foi registrada uma queda de 25% no consumo. Os maiores exportadores de produtos avícolas são EUA, Brasil e União Européia. No Brasil, onde as exportações correspondem a 30% da produção, o preço dos animais recém-nascidos caiu bastante. No mundo todo, 200 milhões de frangos já foram sacrificados ou morreram por causa da epidemia.


Santa Catarina amarga os reflexos da gripe das aves Valor Econômico, 1º/3/2006

O avanço da gripe das aves na Europa começa a trazer reflexos para a produção e comercialização das agroindústrias com sede em Santa Catarina. No porto de Itajaí, há sinais de desaceleração dos embarques, como registra um dos grandes armadores no Estado, a Aliança Hamburg Süd. Algumas empresas também começam a reduzir a produção, informa o Sindicato das Indústrias de Carnes de Santa Catarina (Sindicarnes-SC).
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No porto de Itajaí, os embarques de carne de frango caíram 2% em janeiro. Foram embarcadas no mês 131.579 toneladas. A queda é pequena, mas a previsão das empresas é que ela seja maior em fevereiro, já que em janeiro ainda foram enviados pedidos de contratos firmados no último trimestre de 2005. Os principais destinos das carnes de frango exportadas via Itajaí são Oriente Médio, Ásia, União Européia e Estados Unidos, nessa ordem.
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A Aliança Hamburg Süd, com forte atuação no setor de carnes, já sente os reflexos da retração do setor. Nos últimos anos, explica o diretor-presidente, Julian Thomas, os embarques de frango efetuados pela empresa vinham crescendo cerca de 15% ao ano. Neste início de 2006, a retração chega a 20%, mas não só em Santa Catarina. O cálculo leva em conta clientes de todo o país.


Frango fica 27% mais barato por causa da gripe Gazeta Mercantil – 02/03/06

‘Desde 2001, a produção cresce, em média, 8% ao ano, principalmente, devido às exportações’, diz o secretário-executivo da Apinco, José Carlos Godoy. Ele conta que uma das conseqüências da possível queda dos embarques de carne de frango será a diminuição da idade da utilização das matrizes para menos de 70 semanas, ante a média atual de 70 a 74 semanas. ‘As matrizes abatidas são vendidas como carne de galinha ou para fabricação de embutidos’, diz.

Em janeiro, os embarques de carne de frango somaram 213,720 mil toneladas, com aumento de 14% em relação a janeiro de 2005, mas recuo de 13% na comparação com dezembro, segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). A Abef atribuiu a retração à queda do consumo de carne de frango em países importadores, que resulta em aumento dos estoques mundiais. ‘O país mais afetado pela redução do consumo mundial é o Brasil, que lidera as exportações’, afirma Godoy.


Gripe do frango deixa de ser objeto de piada Jornal do Brasil, Informe JB – 05/03/06

Quando surgiu, na Ásia, a gripe aviária – na época, mais conhecida como gripe do frango, saborosa matéria-prima para humoristas – turbinou as ações de exportadores brasileiros de alimentos congelados, como Sadia e Perdigão. Agora, com a doença cruzando fronteiras e escapando ao controle das autoridades sanitárias, cresce a incerteza no mercado sobre as perspectivas destas empresas. Na semana, até sexta, os papéis preferenciais da Sadia acumulavam queda de 5,9%, e os da Perdigão, 5,1%.

Em janeiro, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), as vendas externas do produto fecharam em alta de 14% na comparação com igual mês de 2005, mas caíram 13% frente a dezembro. O recuo não é surpresa, devido à sazonalidade. O que preocupa é o tamanho do tombo, ampliado pelos gordos estoques em países europeus, onde o consumo está praticamente paralisado. Em fevereiro, analistas apontam queda ainda maior, segundo dados extra-oficiais.

Um baque nas exportações do alimento-símbolo do Plano Real traria prejuízos sérios ao país. O negócio é cada vez mais importante: no ano passado, as vendas externas totalizaram 2,845 bilhões de toneladas de carne de frango, o equivalente a uma receita de US$ 3,5 bilhões, 35% mais do que em 2004.
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Gripe aviária faz Avipal paralisar três unidades Valor Econômico – 6/3/06

Mesmo sem chegar ao Brasil, a gripe aviária já está provocando danos aos frigoríficos do país. Com a queda das exportações provocada pela redução do consumo de carne de frango no Oriente Médio e na Europa, a Avipal colocará em férias coletivas durante o mês de abril os seis mil funcionários de suas unidades de Porto Alegre e Lajeado (RS), e de Dourados (MS). Se o quadro não melhorar depois da medida, poderá fazer demissões. A Doux Frangosul, com sede em Montenegro (RS), também admitiu que pode reduzir o quadro de empregados por causa da redução da demanda externa.

Segundo o diretor de relações com investidores do grupo Avipal, Francisco Ávila, as três unidades que terão as atividades suspensas abatem 675 mil aves por dia, sendo 80% para o mercado externo, em especial Oriente Médio e leste europeu. Apenas o frigorífico de São Gonçalo dos Campos, na Bahia, com 1,6 mil funcionários e abate de 140 mil frangos por dia destinados ao mercado interno, permanecerá em operação. No total, a empresa tem quase 10 mil funcionários, incluindo 1,6 mil da divisão de produtos lácteos Elegê e 400 em funções administrativas.




Faltou explicar que o ‘até agora’ do título aplicado na reportagem da revista refere-se a 1º de janeiro deste ano.