Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

2016: um divisor de águas

Um dos estragos causados pelas prisões em cadeia de dirigentes do Partido dos Trabalhadores, nas últimas semanas, foi a guinada à direita resultante das mudanças de humor dos eleitores. Nas eleições municipais, as duas cidades capazes de captar as intenções de voto para presidente do Brasil em 2018 revelaram um surpreendente conservadorismo. Apostaram no PRB, Partido Republicano Brasileiro, Marcelo Crivella no Rio de Janeiro e em João Dória, um estreante na política. No Rio , Lula e Chico Buarque fizeram campanha pelos candidatos de esquerda , Marcelo Freixo do PSOL e Jandira Feghali do PCdoB. Freixo passou ao segundo turno e agora passou a ser a grande esperança da esquerda num segundo turno que promete ser dramático. Em São Paulo o PSDB , mesmo com o partido fragmentado entre a ala FHC, Serra, Aécio e a de Geraldo Alckmin, conseguiu superar as divisões e conseguiu uma inesperada vitoria já no primeiro turno, consolidando o cacife politico do atual governador paulista dentro da sigla.

Tristes tempos em que o advogado do ex-ministro Antônio Palocci ,o suposto “italiano”, comparou à ditadura a prisão do seu cliente , acusado de ser o elo entre a Odebrecht e o PT, o operador de propinas no valor de R$128 milhões. O criminalista José Roberto Batochio tinha razão , só que ao contrário, nas prisões da ditadura toda a massa inteligente do país estava ao lado do preso , o que não aconteceu no caso de Palocci. Só espanto, impotência . Se Dilma foi traída por Temer e o impeachment, tudo ficou para trás diante do peso dos milhões geridos pelo coordenador de campanha da presidente ,homem forte do governo petista entre 2008 e 2013 .
O resultado das eleições deste domingo deixará sequelas num país traumatizado. O PT terá o consolo de ter vencido na capital do Acre, Rio Branco. E mesmo que no resto das capitais, PSDB e PMDB sejam siglas com chances de vitória no segundo turno, como João Leite, em Belo Horizonte (PSDB) ou Sebastião Melo em Porto Alegre (PMDB), Rio e São Paulo deixaram a marca do conservadorismo com as votações obtidas por Russomano e Crivella.

O efeito Lava Jato

A desorientação ideológica no eleitorado ficou explícita na declaração de Marta Suplicy. Depois de 34 anos de militância, a candidata ex-PT, agora PMDB, se reinventou , diz que nunca foi de esquerda e sofreu uma sangria de votos, ficando em quarto lugar na votação. O vice do prefeito paulista Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PDT) , tinha razão quando disse que a esquerda não votaria em Marta. Rendeu pontos para Haddad que , como o resto dos candidatos petistas , paga o preço do efeito Lava Jato.

“Russomano e Doria foram um pesadelo para a esquerda”, desabafou o vereador Andrea Matarazzo(PSD), o preferido por FHC, Serra,Aécio para disputar a prefeitura pelo PSDB mas que perdeu para Doria, o candidato que o governador Geraldo Aickmin enfiou goela abaixo do partido.

No tabuleiro de xadrez eleitoral , se a queda de Marta rendeu votos a Haddad ,o petista não conseguiu os votos necessários para chegar a um segundo turno em São Paulo e derrotar Doria, um autodenominado antipolítico. Na mesma linha, Freixo e Feghali  usaram o fôlego para baixar a onda de Crivella, conseguindo superar Pedro Paulo do PMDB, apoiado pelo prefeito carioca Eduardo Paes; Flávio Bolsonaro do PSC  e Índio da Costa do PSD ,ambos receptores embolados do voto útil da centro-direita carioca.

O resultado nas urnas mostrou uma tendência conservadora que aumenta a importância do segundo turno no Rio de Janeiro, onde esquerda e direita travarão uma batalha eleitoral que pode alterar o mapa politico do país para 2018. Mas independente do resultado da nova votação no dia 30 de outubro, uma coisa já parece clara: 2016 é um divisor de águas na política brasileira.