
(Foto: Samuel Regan-Asante na Unsplash)
Relatório divulgado este ano pelo Reuters Institute, instituição britânica especializada no estudo do Jornalismo, mostra que mais da metade do público consultado (58%) afirma estar preocupada com o que é real e o que é falso quando se trata de notícias online.
Em sua 14ª edição, o Digital News Report 2025 coletou dados de quase 100 mil pessoas em 48 países de cinco continentes, em uma análise abrangente do contexto dos mercados digitais. Quando perguntada, a maioria dos entrevistados identificou duas fontes principais a recorrer quando existem dúvidas sobre a veracidade da informação: o canal de mídia jornalística em que confiam (38%) e os sites governamentais (35%). As redes sociais foram mencionadas por 14% dos entrevistados.
Para a verificação de uma notícia específica, o maior percentual dos pesquisados (44%) também respondeu que recorre às fontes oficias representadas pelos sites governamentais. Em seguida, 35% disseram que acessam sites especializados e, logo abaixo, empatados em 26%, aparecem a Wikipedia e a mídia jornalística tradicional.
O fato reforça a importância e a responsabilidade dos jornalistas que trabalham em assessorias de comunicação social de órgãos públicos nas várias instâncias de governo.
Influenciadores e políticos
O relatório de 170 páginas verificou que a preocupação com notícias falsas é maior entre o público dos Estados Unidos e da África (73%), e mais baixa na Europa Ocidental (46%). Quando se trata de fontes subjacentes de informações falsas ou enganosas, influenciadores e personalidades online são vistos como a maior ameaça em todo o mundo, juntamente com políticos nacionais (47%).
A preocupação com influenciadores é maior em países africanos como Nigéria (58%) e Quênia (59%), enquanto os políticos são considerados a maior ameaça nos Estados Unidos e Espanha (57%), e em grande parte da Europa Oriental, incluindo Sérvia (59%), Eslováquia (56%) e Hungria (54%).
A mostra revela ainda que pessoas mais jovens, na faixa de 18 a 34 anos, e entrevistados de 35 anos ou mais, tendem a confiar mais em fontes de busca e checagem. A diferença estaria no fato de que as pessoas mais jovens são muito mais propensas a dizer que confiam em comentários de outros usuários, mídias sociais e chatbots de IA.
Tratando-se de redes sociais, 21% dos mais jovens as usariam, contra 12% dos mais velhos. A diferença também ocorreria no que se refere aos chatbots de IA, nomeados por 13% dos mais jovens e 7% das pessoas com mais de 35 anos.
Nível educacional
Dados da pesquisa também apontam que o nível educacional influencia nas opções de ferramentas utilizadas na checagem das informações. Observou-se que os entrevistados com níveis mais baixos de educação formal (21%) estão muito menos propensos a dizer que recorreriam à mídia de notícias, fontes oficiais, mecanismos de busca ou verificador de fatos, ao contrário daqueles com níveis mais altos de escolaridade (33%).
Outro sinal relativamente positivo é que a confiança geral nas notícias (40%) permaneceu estável pelo terceiro ano consecutivo. A proporção de assinantes que pagam por notícias online se conservou em 18% em um conjunto de 20 países mais ricos – com a maioria ainda satisfeita com as ofertas gratuitas.
A análise da pesquisa foi divulgada pelo professor Rasmus Kleis Nielsen, professor de Jornalismo na Universidade de Copenhague e diretor do Reuters Institute entre 2018 e 2024 (‘How the public checks information it thinks might be wrong’, ou em tradução livre, ‘Como o público verifica informações que podem estar erradas’, em 17/6).
Menos TV como fonte de notícia
Sobre o Brasil, o relatório observa que após décadas de domínio da TV aberta, o mercado de mídia no país vem sendo desafiado pelas plataformas digitais e serviços de streaming. Em 2013, 75% dos brasileiros tinham a TV como fonte de notícias e em 2025 apenas 46%. A maioria dos brasileiros (78%) buscam informações on-line e 17% pagam pelo serviço.
As notícias impressas também tiveram uma forte queda no período, de 50% para 10%, enquanto as mídias sociais evoluíram de 47% para 54%, sendo as principais fontes de notícias para 33% dos brasileiros. Tratando-se de dispositivos de acesso às notícias, a TV registrou uma queda consistente, de 81% para 52%, com o celular dominando em 82% (em 2013 eram 23%).
Acerca do nível de confiança das notícias apresentadas nas diversas mídias houve uma queda de credibilidade no período de 2015 a 2025, de 62% para 42%, notadamente com as notícias online. O relatório assinala que 67% dos brasileiros se preocupam com as fake news.
No que diz respeito ao alcance de público, apesar da rede Globo estar à frente em termos de abrangência no noticiário de TV (41%) e notícias online (32%), o grau de confiança é menor (55%) em relação a outras emissoras, como a SBT News (64%), Record (62%) e Band (59%). A rede Globo também apresenta a maior taxa dos que não confiam (29%).
No caso de notícias impressas, o jornal O Globo soma 54% de credibilidade, um pouco acima de O Estado de S. Paulo (53%) e Folha de S. Paulo (52%). Porém, o percentual dos que não confiam é maior tratando-se de O Globo (27%) em comparação aos jornais paulistas, com 23% e 26% respectivamente.
O relatório destaca que o Brasil ocupa a 63ª posição entre 180 países no índice de liberdade de imprensa – World Press Freedom Index Score 2025 – da organização Repórteres Sem Fronteira. Dos oito países do continente americano incluídos na pesquisa, o Brasil é superado apenas pelo Canadá (21ª) e Estados Unidos (57ª), estando em melhor posição que o Chile (69ª), Argentina (87ª), Colômbia (115ª), México (124ª) e Peru (130ª).
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Sheila Sacks é jornalista formada pela PUC/RJ. Trabalhou em assessoria de comunicação social no serviço público de 1982 a 2024.
