Domingo, 22 de junho de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 2025 - nº 1343

Economia de mídia

(Foto:
Valter Campanato/Agência Brasil)

As lições do século 20 são claras e desafiam a Europa, o Brasil, os EUA e todos os regimes do mundo ameaçados pela tecnopolítica e pela ascensão da extrema direita. Encoberta sob a narrativa da tolerância democrática e da liberdade, o neonazismo cresce. “Devemos (…), em nome da tolerância, reivindicar o direito de não tolerar os intolerantes”, afirmou o filósofo Karl Popper (1902-1994), após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), estabelecendo o clássico paradoxo: a tolerância não é um valor absoluto, mas um contrato social que exige a defesa ativa contra quem busca destruí-la.

No mesmo período, também Hannah Arendt (1906-1975), ao expor a “banalização do mal”, assinalou que nazismo e fascismo se consolidaram não tanto pela maldade de quem reproduziu narrativas, mas pela incapacidade de reflexão crítica. Combater a intolerância exige ação coletiva, não apenas regras abstratas, diz Arendt, para quem a palavra e a ação, quando convertidas em política, constituem uma esfera pública, na qual emerge a pluralidade e a diversidade, enquanto a liberdade se dá na relação com o outro, dentro da perspectiva da ética e do bem comum.

Vale a pena resgatar os fundamentos da economia, cuja finalidade é atender às necessidades básicas das pessoas e promover o desenvolvimento, com responsabilidade social e respeito à ecologia. O mercado do lucro e o consumo desmedido acabam por destruir a vida e, muitas vezes, o próprio homem. Defendemos uma “ecologia integral”, em que a economia esteja centralizada na natureza e no homem — e não no dinheiro. Refletir sobre o sistema financeiro é sempre crucial.

Torna-se um exercício ainda mais importante na atualidade – vivemos outra significativa crise econômica que está assombrando sociedades, nações e instituições pelo mundo afora. Em algumas regiões do planeta a crise é sentida mais agudamente, noutras de maneira menos forte. Contudo, sempre cabe questionar a lógica do sistema financeiro e monetário internacional.

Consideramos urgente e inadiável a necessidade de se refletir uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional. Uma reforma que alimente a esperança de um futuro melhor, com mais dignidade e capacidade para as pessoas fazerem o bem. Essa reforma nasce do compromisso de cada indivíduo em buscar melhorias nas condições de vida de todos, preservando os valores e a riqueza de tradições, o verdadeiro tesouro sustentador da vida como dom que dá gosto ao viver.

A grave crise econômica e financeira deste momento tem causas variadas. São muitas as opiniões, das que apontam erros de políticas econômicas e financeiras, passando pelo comprometimento da ética nas intervenções diversas e de diferentes níveis, até o quadro de uma economia mundial dominada pelo utilitarismo e pelo materialismo. Concluímos que a crise é resultado de uma combinação de erros técnicos e de irresponsabilidades morais.

É urgente continuar avaliando o grande desenvolvimento econômico e social do século passado, com suas luzes e sombras, a tecnologia, os progressos do mundo digital e suas aplicações na economia, para alcançar a compreensão sobre a crise financeira atual.

O Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pontua o papel das big techs nos problemas atuais. Diz que a economia de mídia é minada pelo domínio do GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) na distribuição de informações. O 𝑟𝑎𝑛𝑘𝑖𝑛𝑔 é um índice que mede as condições para o livre exercício do jornalismo em 180 países do mundo. O índice tem cinco indicadores: político, social, econômico, marco legal e segurança. Com base na pontuação de cada um, é definida a pontuação geral por país. O Brasil está na 63ª posição no RSF em 2025.

A ascensão global de populismos e da polarização política impacta a liberdade de imprensa, mas deve-se lembrar que ela é uma das principais ferramentas para preservar as instituições democráticas que esses fenômenos tendem a desestabilizar. Não à toa, o educador e poeta mineiro Abgar Renault (1901-1995) disse, em 𝐑𝐞𝐟𝐥𝐞𝐱𝐨̃𝐞𝐬 𝐄𝐟𝐞̂𝐦𝐞𝐫𝐚𝐬 (1994), que “80% da inquietação humana têm por causa a imprensa e o banho frio de chuveiro”.

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Marcos Fabrício Lopes da Silva é Doutor e Mestre em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (FALE/UFMG). Poeta, escritor, professor e pesquisador. Jornalista diplomado pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), e autor do livro 𝐌𝐚𝐜𝐡𝐚𝐝𝐨 𝐝𝐞 𝐀𝐬𝐬𝐢𝐬, 𝐜𝐫𝐢́𝐭𝐢𝐜𝐨 𝐝𝐚 𝐢𝐦𝐩𝐫𝐞𝐧𝐬𝐚 (Outubro Edições, 2023-2024). É participante do Coletivo AVÁ, coorganizador do Sarau Marcante e Membro da Academia Cruzeirense de Letras – ACL (Cruzeiro-DF).