Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Vazar informação sigilosa é ‘roubo’, diz presidente

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 24 de setembro de 2008


 


VAZAMENTO
Daniel Bergamasco


Para Lula, liberdade de imprensa não pode acobertar ‘vazadores’


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Nova York que vazar informação sigilosa à imprensa é ‘roubo’ e, portanto, uma atitude que deve ser punida criminalmente.


Para Lula, é preciso ‘responsabilidade’ para que se possa ‘conviver’ com a liberdade de imprensa. ‘A liberdade de imprensa pressupõe aumentar a responsabilidade de todos para podermos conviver com ela. A liberdade de imprensa não pode pressupor que alguém possa roubar informações, que essas informações sejam divulgadas e que a pessoa que as tenha roubado fique impune, porque senão você terá dois tipos de cidadãos no Brasil: você terá um que estará subordinado à Constituição e à legislação, e você terá um que pode tudo. Então, é apenas ter cuidado’, disse o presidente, afirmando que sua posição não é ‘contra-senso’.


A afirmação foi dada em resposta a um jornalista que perguntou se a defesa da liberdade de imprensa feita por Lula na segunda-feira não contrariava o projeto de lei enviado dias antes ao Congresso que propõe criminalizar vazamento de informação sigilosa a órgãos de comunicação.


Na prática, a lei oferece brecha também para punição a veículos que divulguem escutas telefônicas ilegais ou legais sob segredo de Justiça.


Ao receber um prêmio da agência de notícias IPS (Inter Press Service), o presidente havia enaltecido a mídia livre diversas vezes. Disse também, contudo, que críticas negativas podem não ter efeito, já que ‘o povo’, disse, consegue perceber a verdade ‘nos olhos de quem fala na TV’, ‘na voz de quem ouve no rádio’, ‘nas palavras que lê nos jornais’. Pela manhã, havia sido divulgada pesquisa que mostrava aprovação recorde de seu governo.


‘Quando defendo a liberdade de imprensa, é porque eu digo todo santo dia: só sou o que sou porque no Brasil há liberdade de imprensa, mesmo quando falavam mal de mim. Não quero liberdade para falarem bem, quero liberdade para dizer a verdade. Quando as pessoas não disserem a verdade, o povo fará o seu julgamento’, disse.


A ANJ (Associação Nacional de Jornais) não se manifestou ontem sobre a declaração do presidente. Em nota divulgada na semana passada, o vice-presidente da ANJ, Júlio César Mesquita, afirmou que o projeto de lei enviado ao Congresso ‘atinge diretamente a liberdade de imprensa’ e que a entidade ‘estranha e condena a insistência do governo em buscar formas de punir jornalistas e meios de comunicação pelas informações que divulgam’.


‘Tais atitudes e posições do governo vão na contramão das repetidas declarações públicas do presidente, de que, sem uma imprensa livre, não teria tido condições de realizar seu projeto político e de chegar onde chegou’, afirmou Mesquita.’


 


 


VÍCIOS
Ruy Castro


Erros contra ou a favor


‘RIO DE JANEIRO – De repente, jornais e revistas deram para escrever que tal livro ou peça ‘é sofrível’, querendo dizer que é péssimo, chatérrimo -que faz o espectador sofrer. Mas ‘sofrível’, como sabem os que não faltaram àquela aula, significa o contrário. É o que, não sendo grande coisa, ainda é suportável. Ou, segundo o ‘Aurélio’, ‘razoável; acima de mediano’. Enfim: sofrível.


Outra mania é a de chamar um filme de ‘longa’. Como se houvesse um surto de ‘curtas’ na praça, a ponto de se precisar distingui-los dos filmes comuns, de uma hora e meia, classificando estes de ‘longas’. Mas longas de verdade eram ‘E o Vento Levou’, ‘El Cid’ ou ‘Cleópatra’, com três, quatro horas de duração, e mais o ‘Canal 100’. Sei de gente que morreu de velhice durante a sessão. E morreu feliz.


Pelo mesmo motivo, jogos (de futebol) deixaram de ser chamados de jogos e se tornaram ‘duelos’ ou ‘desafios’. Fico imaginando um duelo a floretes no grande círculo do Maracanã entre Obina, do Flamengo, e Richarlyson, do São Paulo, com o juiz trilando o apito final ao primeiro sangue. Ou um desafio repentista entre Alan Kardec, do Vasco, e Maicosuel, do Palmeiras, reeditando a peleja do Cego Aderaldo contra o Zé Pretinho, em Pimenteira, no Piauí.


São vícios de escrita, espero que temporários. Um que ainda está limitado aos locutores de basquete ou vôlei é dizer que o time xis ‘se personalizou’ em quadra -ou seja, reagiu, ganhou ‘personalidade’. De onde tiraram esse verbo?


Tudo bem, é a ‘contribuição milionária de todos os erros’, como dizia o outro. Mas só se deviam admitir os erros a favor da língua. Como o proposto, outro dia, por meu amigo Jorge, do Andaraí. A certa altura da conversa e do feijão com pé de porco, ele me interrompeu dizendo, ‘desculpe intervi-lo, mas…’. Gostei, vou adotar.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Venda difícil


‘Fed e Tesouro ‘avisam de conseqüências funestas’, na manchete on-line do ‘Washington Post’, à tarde. ‘Cobram ação urgente’, no ‘Wall Street Journal’. ‘Empurram’ o Congresso, no ‘Financial Times’.


Mas o ‘New York Times’ já avisava que era uma ‘venda difícil’ junto aos democratas, ‘céticos’ não só com o custo, mas com os efeitos do pacote. Fim do dia e até os republicanos se mostravam ‘hesitantes’.


Daí para queda em Wall Street, Bovespa etc.


NÃO É SOLUÇÃO


Fim do dia no alto da home do ‘FT’ e o colunista Martin Wolf, com a ilustração, escrevia que o ‘Plano de Henry Paulson não foi uma solução verdadeira para a crise’


ADEUS, GEORGE W. BUSH


O presidente dos EUA fez seu último discurso na ONU e ‘assegurou líderes quanto à economia’, no destaque do ‘NYT’. Mas ele mal citou a crise, ressaltou o ‘WP’, antes priorizando ‘seus temas familiares’ de terrorismo e da ‘promoção da liberdade’. De resto, observou o ‘NYT’, serviu para ‘photo-ops’ de Sarah Palin com aliados como o afegão Hamid Karzai e o colombiano Álvaro Uribe.


Na manchete da Reuters Brasil e em despachos pelo mundo, ‘Lula lamenta discurso’, por fugir da crise.


RECONSTRUÇÃO


Em despacho por todo lado nos EUA, a Associated Press destacou que o presidente do Irã ‘responsabiliza os EUA pelo colapso do mercado’.


Dos discursos, como a britânica Reuters, a agência americana selecionou Nicolas Sarkozy e Lula, que cobraram reforma do regime financeiro global para, respectivamente, ‘reconstruir o capitalismo’ e conter a ‘angústia de povos inteiros’. A chinesa Xinhua ressaltou o brasileiro.


E OS POPULISTAS


Por aqui, Lula foi manchete por todo lado, sob enunciados como ‘Só política combate a crise financeira, diz Lula’, no UOL, e até ‘Lula acusa ricos de nacionalismo populista’, no Terra e na BBC Brasil.


Esta última, como a chinesa Xinhua, deu atenção especial a uma citação do economista Celso Furtado pelo brasileiro, dizendo ser ‘inadmissível que os lucros dos especuladores sejam sempre privatizados e as perdas, socializadas’.


AMERICAS SOCIETY


Antes da ONU, Lula foi premiado e falou na instituição hoje dirigida por William Rhodes, do Citigroup. O brasileiro, segundo a Bloomberg, cobrou ‘mais investidores’. E Rhodes saudou a redução na pobreza


SEM AFINIDADE COM A AMÉRICA


O ‘Los Angeles Times’ deu alto de página para afirmar desde Itaguaí, no Rio, com foto de fábrica da Honda na região Norte, que o Brasil vai bem ‘em meio à crise americana’. Que já não ‘pega pneumonia toda vez que os EUA tossem’ -dando como frase de Lula. Que o país está ‘a salvo ao menos no curto prazo’. E até já ‘perdeu a afinidade com a América’


‘LA CRISE? DEMANDEZ À BUSH’


As tiradas de Lula ecoam mundo afora. ‘Que crise? Vai perguntar para o Bush’, da semana passada, foi parar ontem no francês ‘Le Monde’, ressaltando o prognóstico lulista de que seria pequeno o efeito da crise no país.


Na americana ‘Time’, que entrevistou o brasileiro às vésperas da viagem para Nova York, o enunciado ontem era ‘Brasil vive boom por seguir o caminho de Lula’. No longo texto, citações como ‘God is Brazilian’ e referências à nova classe média, à sua popularidade recorde etc.


TEMPESTADE


Nem tudo é oba-oba, com Lula e o Brasil. O ‘Christian Science Monitor’ deu a longa reportagem ‘Emergentes são atingidos duramente’. Logo abaixo: ‘Mas Brasil e China têm crescimento interno e reservas para agüentar a tempestade de Wall Street’.


E PRUDÊNCIA


E o ‘FT’ traz hoje, em sua série sobre o ‘alcance global’ da crise, longa reportagem sobre a China. Afirma que tem, ‘relativamente, pouca exposição a bancos como Lehman’, mas já ‘passou a ver o mundo com prudência’. Amanhã é a vez do Brasil.


SEM CABEÇA


A crise afasta até colunistas como o conservador George F. Will do republicano John McCain. Pela reação de dias atrás, quando pediu a queda do presidente da comissão de valores mobiliários, foi comparado à rainha de ‘Alice no País das Maravilhas’. No título, ‘McCain perde a cabeça’.’


 


 


PLÁGIO
Rafael Garcia


USP condena físicos acusados de plágio


‘A investigação de uma acusação de plágio contra professores da USP (Universidade de São Paulo) terminou com uma moção de censura ética da reitoria contra o diretor do IF (Instituto de Física), Alejandro Szanto de Toledo, e o vice-diretor da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), Nelson Carlin Filho.


Os dois lideram o grupo de físicos que assinou um artigo na revista internacional de física ‘Physical Review C’ com diversos trechos de texto copiados de um trabalho de outro físico da USP, Mahir Hussein, incluindo alguns parágrafos inteiros. Houve cópias de trechos de estudos de outros autores, também, em pelo menos mais um artigo em outra revista.


Aparentemente, a Comissão de Ética da USP não considerou que houve má fé ou intenção deliberada de plágio nos estudos do grupo de Szanto e Carlin. ‘Houve um desvio ético na redação dos mesmos por uma inaceitável falta de zelo na preparação dos artigos publicados’, diz o comunicado da reitoria (leia íntegra ao lado).


O Instituto de Física vive uma crise política interna desde junho de 2007, quando a denúncia de plágio foi divulgada pela Folha. Professores do Departamento de Física Matemática afirmam ter sofrido retaliações por parte de Szanto, que teria usado sua influência para dificultar a permanência de Hussein, agora aposentado, em sua sala no instituto.


Szanto, por outro lado, havia encaminhado à reitoria relatos apontando ofensa verbal e falta de decoro contra dois dos professores que o acusaram de assédio moral. Élcio Abdalla e João Barata, da Física Matemática, foram repreendidos.


Abdalla afirma que considera uma moção de censura contra Szanto e Carlin insuficiente para resolver o caso agora.


‘Não podemos aceitar que o vice-diretor da Fuvest seja um ‘colador’, porque a fraude no vestibular é severamente punida’, disse. ‘Ele teria pelo menos que perder o cargo. Ele e o diretor do IF.’


Quando a acusação de plágio veio a público, Szanto disse à Folha que os trechos copiados eram ‘erros de referenciamento’ e que a motivação da denúncia foi política. Professores do Departamento de Física Matemática são antigos adversários do grupo ligado a Szanto em eleições internas do IF. Em carta à ‘Physical Review’, Carlin assumiu responsabilidade pessoal pelos trechos copiados, apesar de todos os físicos do grupo assinarem os artigos.


Investigação sigilosa


Apesar de o comunicado da reitoria descrever em linhas gerais a resolução da Comissão de Ética sobre o plágio, os autos do processo continuam sob sigilo. Abdalla afirma que vai tentar ainda algum recurso para obter os documentos. ‘Estamos estudando’, diz. ‘Ainda não sabemos se vamos tentar obter isso pela ouvidoria da universidade ou pela Justiça comum.’


Físicos que tentaram defender Hussein no conflito contra Szanto chegaram a reclamar da reitoria, que havia tornado públicas apenas as autuações éticas por ofensas verbais de Abdalla e Barata. Até anteontem, a reitoria sustentava que o resultado da investigação sobre o Szanto continuaria em sigilo.


Segundo o grupo mais próximo a Hussein, a partir de um certo momento, a situação de conflito no IF passou a ser mais grave do que a discussão sobre a denúncia de plágio em si.


Um episódio que gerou uma celeuma foi uma votação do conselho administrativo do IF que determinou a desocupação da sala de Hussein, após o professor ter pedido para continuar na universidade como colaborador aposentado. João Barata acusou o órgão de agir em nome de Szanto para tentar barrar a solicitação.


‘As atitudes tomadas pela atual direção e seus cúmplices contra o prof. Hussein não têm outra origem e motivação que não a mais repugnante e abjeta vingança pessoal’, escreveu Barata, na carta que lhe rendeu uma moção de censura pela Comissão de Ética. A troca de acusações foi toda publicada pela diretoria numa página do site do IF (www.if.usp.br/compesq/etica.shtml).


Como neste caso o órgão corregedor não hesitou em divulgar a diversos professores a condenação de Barata por ofensas verbais, alguns físicos passaram a reclamar da reitoria pela demora em revelar a condenação contra Szanto.


‘É um tratamento com dois pesos e duas medidas’, diz Abdalla. Segundo ele, denúncias de assédio moral contra Szanto chegaram à reitoria em 2007, quando Szanto teria ameaçado revelar um dossiê apontando plágios em trabalhos de adversários. Desde o início do caso, a Folha pede entrevistas com a reitora Suely Vilela e com Carlin sobre o assunto. Szanto falou ao jornal apenas uma vez, em junho do ano passado. No fim da noite de ontem, os dois físicos não estavam no IF para comentar a moção de censura.’


 


 


RÁDIO
Folha de S. Paulo


Rádios faturam R$ 1,7 bi por ano; anúncio representa 89% da renda


‘As rádios faturaram R$ 1,673 bilhão ano passado, de acordo com pesquisa encomendada pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) à FGV (Fundação Getulio Vargas). A principal fonte de receitas do setor foram anúncios -89,2% da renda obtida pelas empresas.


Os principal anunciante é o setor privado (comércio varejista, com 45% da receita publicitária na média nacional).


A dependência dos anúncios públicos de governos municipais e estaduais é maior no Nordeste e no Norte. O governo federal anuncia mais nas rádios do Sudeste.


O faturamento das rádios obtido com a pesquisa da FGV é mais do que duas vezes a estimativa anterior usada no setor (R$ 767,2 milhões), produzida pelo projeto Inter-Meios (uma associação do jornal especializado ‘Meio e Mensagem’ com as empresas do setor).


De acordo com a Abert, a pesquisa do Inter-Meios levava em conta as 113 maiores rádios, enquanto o faturamento divulgado pela FGV foi obtido por meio da extrapolação de dados de uma pesquisa que ouviu 917 rádios.


Setor público


O peso do setor público na receita das rádios varia de acordo com o tipo de governo (municipal, estadual ou federal) e com a região do país.


Os anúncios veiculados por prefeituras, por exemplo, são responsáveis por 6,2% da verba publicitária em nível nacional, mas na região Nordeste representam 10,2%.


Os governos estaduais bancam 6,7% da publicidade na média nacional, mas no Nordeste a participação deles sobe para 18,2%.


Já o governo federal responde por 4,9% da verba publicitária na média nacional, mas no Sudeste esse percentual chega a 6,7%, enquanto que no Norte cai para 2,3% e no Nordeste, para 3,2%.


Programação


Nas rádios AM, os programas de variedades ocupam a maior parte da programação, 24,2% do tempo durante a semana. Em segundo lugar, vem a execução de músicas nacionais (21,1%), seguida por jornalismo (17,5%).


O perfil da programação muda um pouco nas rádios FM. A execução de músicas nacionais lidera o tempo de programação, com 37,5%, seguido pelos programas de variedades, com 20,3%, e pela música estrangeira, com 17,8%.’


 


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Celular do Google chega aos EUA em outubro


‘Depois de anos de especulações sobre o Google Phone, foi demonstrado ontem o primeiro celular equipado com o Android, sistema operacional desenvolvido por um consórcio que tem o gigante das buscas à frente.


Mas o celular, chamado de G1, foi desenvolvido pela taiwanesa HTC e entra em um mercado em que a estrela é o iPhone. O aparelho conta com teclado deslizante e tem tela sensível ao toque, sensor de movimentos e capacidade 3G. Ele ainda terá acesso à loja da Amazon.


O smartphone vai chegar ao mercado norte-americano em 22 de outubro, por US$ 179, com contrato de dois anos. A operadora responsável será a T-Mobile. Não há previsão para a chegada ao Brasil.


Com agências internacionais’


 


 


PUBLICIDADE
Rachel Costa


Professora de Harvard vê risco em anúncios voltados para criança


‘A publicidade e o marketing para as crianças, atualmente, estão entre os principais fatores que levam a distúrbios alimentares -como a obesidade e a anorexia-, à sexualização precoce, a comportamentos agressivos e a problemas familiares. O alerta é da professora e pesquisadora de Harvard, a americana Susan Linn, que está no Brasil para o 2º Fórum Internacional Criança e Consumo -que termina amanhã. ‘Hoje, elas [as crianças] são bombardeadas por uma série de estímulos para que consumam cada vez mais’, afirma. De acordo com a pesquisadora de Harvard, em 1983, o gasto com publicidade voltada para crianças nos Estados Unidos era de US$ 100 milhões por ano. Atualmente, afirma Linn, esses valores chegam a US$ 17 bilhões por ano. Em entrevista à Folha, a especialista conta sobre os impactos da propaganda sobre crianças e adolescentes.


FOLHA – Qual o impacto da propaganda na vida das crianças?


SUSAN LINN – O marketing está relacionado à saúde pública e a problemas sociais. Ele não é a causa [única desses problemas], mas é um fator e leva a distúrbios de alimentação, à sexualização, a problemas relacionados com a violência juvenil e também a problemas familiares. Segundo pesquisas, as crianças que têm mais valores voltados para o lado material [que associam a felicidade à aquisição de produtos] são menos felizes.


FOLHA – O fórum foca a relação entre a propaganda para crianças e a necessidade de redução do consumo, ampliando o debate -antes muito focado nos impactos no indivíduo. Por que essa mudança?


LINN – Hoje em dia, qualquer pessoa precisa estar preocupada com a saúde do planeta e com o aquecimento global. Quem tem esse tipo de preocupação tem que estar atento ao consumo, porque é ele que tem que mudar. Isso está muito claro. Os hábitos começam com a criança e hoje em dia elas são bombardeadas por uma série de estímulos para que consumam cada vez mais.


FOLHA – Por que é importante discutir a publicidade para crianças?


LINN – Nos Estados Unidos, em 1983, gastava-se US$ 100 milhões por ano em marketing voltado para crianças. Hoje em dia, os gastos nessa área já chegam a US$ 17 bilhões por ano. É um aumento de 170 vezes em um período de 25 anos. Isso somado a uma combinação de mídia extremamente sofisticada para fazer todo esse marketing.


FOLHA – Como se pode estabelecer um diálogo entre empresas e governo para a regulação?


LINN – As corporações sempre vão brigar por seus interesses, mas, por outro lado, precisa haver o compromisso com a saúde pública. Sempre vai haver o conflito entre esses dois lados. Uma das coisas que o país precisa fazer é tomar uma decisão sobre qual a importância da criança. Países como a Suécia decidiram valorizar a criança e por isso têm todo um trabalho relacionado à televisão e à regulamentação das propagandas. O que acontece é que a sociedade como um todo não está fazendo isso. Ela optou por não valorizar as crianças.’


 


 


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‘Mídia pode subsistir sem afetar criança’


‘Também no Brasil para o fórum, Cecília Von Feilitzen, pesquisadora e coordenadora do International Clearinhouse -observatório que estuda a relação entre mídia e infância- traz ao país a experiência sueca, onde é proibida a publicidade para menores de 12 anos. O modelo é semelhante ao projeto de lei 5.921/2001, que tramita na Câmara dos Deputados. Se aprovado, ficam proibidos no Brasil todos os tipos de publicidade em todos os horários e em qualquer tipo de mídia.


FOLHA – Como funciona a regulamentação na Suécia?


CECÍLIA VON FEILITZEN – Não é permitido fazer propaganda nem antes nem depois da programação infantil. Nem para adultos nem para crianças. Durante a programação [em geral, sem ser a infantil], pode haver propagandas, mas não para crianças.


FOLHA – Outras mídias também possuem regulamentação?


FEILITZEN – Não. O que existe é uma lei geral relacionada ao marketing. A propaganda tem que ser bastante ética e levar em consideração que as crianças não têm muita experiência, que elas não têm tanto senso crítico quanto o adulto.


FOLHA – Como foi a aceitação dessas leis?


FEILITZEN – [Na Suécia], desde o começo não há propaganda na TV para crianças. Não tivemos, até hoje, que fazer esse tipo de publicidade. A mídia pode subsistir sem ter de afetar a criança diretamente por meio da propaganda. Na Suécia temos essa preocupação com a qualidade da programação infantil. [Também] passamos a programação infantil em um horário em que as crianças possam assistir junto com seus pais.


FOLHA – A propaganda gera impactos diferentes de acordo com a idade da criança?


FEILITZEN – Há muita diferença entre as formas de influência sobre a criança. Aos 12 anos, elas podem compreender totalmente qual é o objetivo de uma propaganda. Mas a propaganda tem que ser claramente diferenciada [dos programas infantis] para ela perceber.


FOLHA – Quais os desafios para frear o consumo entre meninos e meninas?


FEILITZEN – A [diversificação da] mídia está cada vez maior. Há outras formas de consumo [como celulares e computadores], o que torna mais difícil a diferenciação entre conteúdo de mídia e propaganda. A indústria da propaganda percebeu que a família é muito influenciada pelo o que a criança quer. Os pais acabam direcionando [as compras] para a vontade dos filhos. Há uma grande pressão [para o consumo infantil], em toda a mídia.’


 


 


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‘Crianças são estimuladas a consumir mais’


‘Abaixo trechos da entrevista com Susan Linn.


FOLHA – Qual o impacto da propaganda nas crianças?


SUSAN LINN – Ela não é a causa [única], mas é um dos fatores e leva a distúrbios de alimentação, sexualização e problemas relacionados com a violência e com familiares.


FOLHA – O fórum se preocupa com redução do consumo


LINN – Os hábitos começam com a criança e hoje elas são bombardeadas por uma série de estímulos para que consumam cada vez mais.


FOLHA – Por que é importante discutir essa publicidade?


LINN – Nos EUA, em 1983, gastava-se US$ 100 milhões por ano em marketing voltado para crianças. Hoje em dia, são US$ 17 bilhões por ano. Isso somado a uma combinação de mídia sofisticada para fazer esse marketing.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo prepara programa para Pedro Bial


‘O jornalista Pedro Bial deverá apresentar um novo programa na Globo no segundo semestre de 2009. Uma equipe de profissionais já trabalha no projeto, um dos segredos mais bem guardados da emissora.


Se vingar, o programa de Bial ocupará a recém-criada terceira linha de shows, atualmente apenas às terças, com ‘Profissão Repórter’, de Caco Barcellos. A cúpula da Globo quer diversificar os programas exibidos após a novela das oito, quase todos humorísticos.


As pessoas que têm informações sobre o projeto de Bial estão proibidas de falar sobre o assunto até mesmo para colegas de trabalho. Fora desse círculo, sabe-se apenas que seria um programa jornalístico. A atração, inicialmente, seria um quadro do ‘Fantástico’, mas a Globo decidiu ampliá-lo.


Nos bastidores da emissora, especula-se que o projeto seria um programa de entrevistas. A amigos, Bial já manifestou interesse em ter um talk-show.


O projeto não afastará Bial das próximas edições de ‘Big Brother Brasil’. Foi por causa do reality show que a emissora decidiu apostar no jornalista, visto por muitos como um showman cujo potencial precisa ser mais bem explorado.


Antes de se dedicar ao novo programa e ao próximo ‘BBB’, o ex-apresentador do ‘Fantástico’ irá trabalhar na cobertura das eleições norte-americanas. Ele viaja para os Estados Unidos no início de outubro.


ALERTA


A Globo está preocupada com ‘A Favorita’. Mas não é só com a audiência, que ainda não bateu nos 40 pontos de média. A novela está estourando seu orçamento em R$ 1,8 milhão por mês. A ordem na emissora é controlar gastos com rigidez.


TENTE OUTRA VEZ


O ‘Jornal Nacional’ foi finalista do Emmy Internacional de jornalismo pela quarta vez nesta década. Mas não foi desta vez que William Bonner trouxe uma estatueta de Nova York. Em cerimônia anteontem, o prêmio saiu para a Romênia.


CARONA


A Record voltará a exibir em outubro o seriado ‘Um Maluco na TV’, que tirou do ar. O programa, originalmente ‘30 Rock’, ganhou o último Emmy de melhor série cômica.


ROUPA NOVA


A Record passará a usar nesta sexta um novo slogan: ‘Record – TV de Primeira’. O ‘antigo’, ‘A Caminho da Liderança’, lançado em janeiro de 2005, permanecerá no material enviado ao mercado publicitário.


CONTEÚDO VELHO


Por falar em qualidade, a Record regravará, amanhã, o novo ‘Show de Piadas’. A primeira gravação foi jogada no lixo, por falhas na iluminação.


CENÁRIO


Marcos Paulo apresentou à Globo projeto de gravação de uma novela no Ceará. Mas, segundo o autor Walther Negrão, não seria um remake ou uma continuação de ‘Tropicaliente’, de 1994. ‘Seria uma outra história, ambientada em Fortaleza, para explorar o visual que fez sucesso no exterior’, diz.’


 


 


Folha de S. Paulo


GNT Fashion visita semana nova-iorquina


‘Como acontece a cada temporada, o GNT Fashion visita a semana de moda de Nova York.


A Mercedes-Benz Fashion Week inaugura a temporada de desfiles internacionais, que segue por Londres, Milão e Paris.


Na semana de NY, sobressaíram-se as coleções de Marc Jacobs e do brasileiro Francisco Costa para a Calvin Klein.


Mas, neste programa, o assunto é a participação das marcas Carlos Miele, Iódice, Herchcovitch; Alexandre e Rosa Chá -o maior número de grifes brasileiras na temporada nova-iorquina desde 2006. O economista e apresentador do ‘Manhattan Connection’ Ricardo Amorim e a diretora da Fashion Week nova-iorquina Fern Mallis comentam a participação brasileira. Em meia hora, a apresentadora Lilian Pacce mostra o desfile de Alexandre Herchcovitch, vai ao Chelsea com Valdemar Iodice e visita a recém-inaugurada loja da Rosa Chá, no Soho.


Há um mês, o GNT estreou em sua grade o programa ‘Full Frontal Fashion’, traduzido aqui como ‘Moda Explícita’, que exibe seus desfiles quase na íntegra. Em seu quarto programa, repassa a temporada primavera-verão londrina de 2008, o que serve como um complemento, ainda que tardio, aos poucos 30 minutos do GNT Fashion.


GNT FASHION


Quando: hoje, às 22h


Onde: GNT


Classificação indicativa: não informada’


 


 


CAMPANHA
Mônica Bergamo


Afiado


‘A campanha de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) deve manter por alguns dias ainda no ar o anúncio de TV em que associa Gilberto Kassab (DEM-SP) aos ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta -a quem o atual prefeito apoiou no passado. ‘As pesquisas qualitativas mostram que o efeito tem sido muito bom’, diz o deputado Edson Aparecido (PSDB-SP), coordenador da campanha.’


 


 


Daniela Arrais


Candidatos querem cidades digitais


‘Se depender das propostas dos candidatos às eleições municipais de 2008, São Paulo se tornará uma ilha digital, em que a população acessa a internet sem fio em qualquer ponto da cidade, as burocracias dos serviços públicos são resolvidas em apenas alguns cliques e os telecentros funcionam em horário ampliado e podem ser usados como se fossem o computador de casa, sem limitações a sites como o Orkut.


Marta Suplicy (PT) prometeu, na semana passada, cobrir toda a cidade com internet sem fio em um prazo de quatro anos -o comando da campanha reconheceu que a universalização consumiria pelo menos oito anos, ou dois mandatos.


O projeto, que custará R$ 64 milhões, prevê a instalação de antenas em 3.000 prédios públicos. ‘Para aqueles que não têm acesso a um computador, nossa idéia é investir nos telecentros, implantando novos e reequipando os existentes onde for necessário’, disse Marta.


A candidata do PPS à Prefeitura de São Paulo, Soninha, afirma: ‘Sou a favor de se implantarem redes sem fio pela cidade, mas sem esquecer das dimensões monstruosas do território e dos obstáculos físicos. Cobrir a cidade, sem que as pessoas paguem tarifa pelo uso, tem um impacto orçamentário que eu nem sei começar a imaginar’, disse à Folha.


Soninha pretende ampliar cobertura on-line para desburocratizar serviços, instalar redes de Voip na administração para reduzir custos com telefonia, aumentar o número de computadores nas escolas e nas ruas, investir em mão de obra para manutenção e serviços de informática e espalhar micros pela cidade.


O prefeito Gilberto Kassab (DEM) pretende dar continuidade a iniciativas de sua gestão, como o SAC Eletrônico e o São Paulo Mais Fácil, que visam desburocratizar atividades.


Também afirma que irá dobrar o número de telecentros na cidade -para 600 unidades-, tornando-os acessíveis a todos os cidadãos, ‘com um projeto de instalação de 159 softwares especiais de leitura, que possibilitarão aos deficientes visuais não apenas acesso à leitura, como também aos programas para a criação de planilha eletrônica, editor de textos e internet’.


Geraldo Alckmin (PSDB) pretende ‘ofertar banda larga em todo o município como política pública, seja por redes de fibra óticas, por linhas telefônicas digitais, modems de TV a cabo, satélite e redes sem fio’.


O candidato afirma, ainda, que irá ampliar o uso de tecnologia na administração, para facilitar abertura e fechamento de empresas, obtenção de alvará de construção e licença de funcionamento, marcação de consultas médicas e fiscalização, entre outros. No Rio de Janeiro, a candidata Jandira Feghali (PC do B) pretende integrar os serviços públicos, dar acesso à banda larga para o bairros, com pontos de habilitação ao uso do equipamento, integrar escolas à rede de ensino e pesquisa, além de dar incentivo fiscal e tributário para as empresas de base tecnológica.


O candidato Fernando Gabeira (PV) também ressalta a universalização da banda larga, além da criação de ‘infovia’ entre órgãos da prefeitura, para integrar estruturas tributária, financeira e administrativa.


Gabeira também pretende criar um sistema georreferenciado, para que a população receba sugestões ou solicite providências quando se deparar com um problema na cidade.


Em Recife, Mendonça (DEM) promete criar um documento com chip capaz de armazenar todas as informações necessárias à relação do cidadão com a prefeitura, como os dados biométricos para a saúde e a situação cadastral.


Colaborou a Agência Folha’


 


 


EDITORA
Eduardo Simões


Brasiliense inicia reestruturação


‘Para Yolanda da Silva Prado, a Danda, 78, filha do historiador Caio Prado Júnior (1907-1990), a história da Brasiliense sempre se confundiu com o dia-a-dia e a trajetória de toda sua família. ‘Para mim, tudo era editora. Com freqüência havia alguém na casa do meu pai para almoçar e era alguém ligado à editora. Mais tarde, meus filhos chegaram a vender livros no Natal. E era como uma brincadeira’, afirma Danda.


Hoje, 65 anos após a criação da Brasiliense, Danda, à frente da editora desde 1992, vem resistindo às dificuldades -como a perda para a editora Globo, no ano passado, dos direitos da obra de Monteiro Lobato, que esteve ligado a sua criação, e até mesmo o assédio de grupos editoriais nacionais e estrangeiros. Mas ela anuncia que reestruturou seus departamentos administrativo, financeiro, editorial e de marketing.


A Brasiliense também mudou de endereço -do bairro do Tatuapé para uma casa de 500 m2 na rua Mourato Coelho, em São Paulo. Até o fim de outubro, a editora inaugura no mesmo local uma livraria, com ‘wine bar’, um café e espaço para eventos literários.


‘A abertura da livraria nesta interseção de Pinheiros e Vila Madalena, que tem uma grande vocação cultural, será o marco zero da reestruturação da editora’, diz Cleide Almeida, atual vice-presidente da Brasiliense. ‘Vimos que alguns autores, clientes, distribuidores estavam um pouco abandonados. Formamos um conselho gestor e estamos refazendo os contatos com estas pessoas.’


Lançamentos e projetos


Na última Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em agosto, a editora lançou seis títulos: três deles da coleção ‘Primeiros Passos’, seu carro-chefe, ‘Teoria da História’, dos historiadores Pedro Paulo Funari e Glaydson José da Silva, e os romances ‘Fé e Fogo’, de Marco Adolfs, e ‘Chuva em Havana’, do escritor cubano Julio Travieso Serrano.


Para o futuro, um dos sonhos de Danda Prado é criar uma nova série de livros voltada para o público adolescente, de preferência nos moldes da coleção ‘Jovens do Mundo Todo’, que ela cuidou por três anos no início dos anos 60.


‘Eram livros juvenis extraordinários, vindos da Alemanha, da Áustria e principalmente da Inglaterra. Tinham uma visão humanitária e já abordavam assuntos hoje mais comuns, como meio ambiente’, diz Danda.


A editora gostaria ainda de implantar uma série para mulheres e outra sobre sexualidade, abordando assuntos polêmicos, na linha dos temas que marcaram a presidência, a partir de 1975, do seu irmão Caio Graco Prado, morto em 1992 num acidente.


‘Tratar de assuntos polêmicos nunca assustou a Brasiliense, muito pelo contrário. E a editora o faz de maneira adequada, com seriedade, sem sensacionalismo’, diz Cleide.


Outro projeto da editora é relançar a coleção ‘Primeiros Passos’, a série de livros didáticos criada por Caio Graco em 1979, junto com o editor Luiz Schwarcz, hoje dono da Companhia das Letras. Até 1984, a coleção havia vendido 2,5 milhões exemplares, sendo seu best-seller ‘O que É Ideologia’, da filósofa e professora da USP Marilena Chaui.


‘Alguns temas são eternos, imutáveis. Mas queremos atualizar e revisar assuntos que foram abordados nos anos 80 e 90’, afirma Cleide.


Para Danda, a reestruturação da Brasiliense, que sobreviveu não só às dificuldades financeiras, mas à perseguição política do Estado Novo e do regime militar, exige ‘muita coragem’.


‘A marca, o nome Brasiliense não se perdeu. Mas, à medida que a Danda decide recuperar o prestígio da casa, trata-se de uma grande empreitada, de muita coragem’, conclui Cleide Almeida.’


 


 


CINEMA
Marcelo Coelho


Filmar pobre não é pecado


‘DEPOIS DE ‘Abril Despedaçado’, criei certa preguiça de ver os filmes feitos por Walter Salles Jr. Claro que é um cineasta excelente.


Acho que não andei sozinho, contudo, ao reclamar do excesso de correção política e de intenções esperançosas num filme como ‘Central do Brasil’. E também de uma estetização meio enevoada e fácil em ‘Abril Despedaçado’.


Assim, não tive muita pressa para ver ‘Linha de Passe’, o mais recente filme de Walter Salles, em colaboração com Daniela Thomas. O público, por sua vez, parece dar mostras de cansaço diante de tanta gente pobre no cinema brasileiro.


Ainda mais quando um dos pobres é motoboy (operários e camponeses já desapareceram do nosso horizonte), e quando se abordam os temas onipresentes do futebol e da fé evangélica. Com um ou outro toque de narcotráfico, para não se perder o costume.


Nos domingos, pobres vão ao culto. Intelectuais de esquerda vão ao Espaço Unibanco. Juntei-me ao meu rebanho. Gostei de ‘Linha de Passe’.


Não vi no filme tanta correção política assim. Hoje em dia, parece que só se pode evitar esse defeito caindo no exagero inverso. ‘Linha de Passe’ não é incorreto nem correto: é equilibrado, sem que esse equilíbrio pareça resultado de uma dosagem quimicamente produzida entre uma coisa e outra.


A faxineira pobre vivida por Sandra Corveloni pode sofrer um bocado com a indiferença e a pressa de sua patroa, mas não é apresentada como vítima da opressão burguesa.


Grávida de seu quinto filho, ela fuma sem parar.


Se lembrarmos da Fernanda Montenegro de ‘Central do Brasil’, o papel de Sandra Corveloni em ‘Linha de Passe’ dá mostras de muito mais contenção estética. Fernandona era reconhecível, simpatizável, emocionável, ‘chorável’. Corveloni é seca, áspera, e sua personagem parece estar a contragosto no filme e na vida.


Os demais personagens de ‘Linha de Passe’ também são tratados a uma nítida distância emocional.


Aquele garotinho bonzinho e perdido de ‘Central do Brasil’ deu lugar a um pré-adolescente de péssimos bofes, e talvez até o mais generoso psicopedagogo da ONG Projeto Pivetinho o julgasse merecedor de alguns cascudos antes das primeiras aulas de violino e de cerâmica.


Quanto a seus irmãos mais velhos, todos se ressentem de muita adversidade e frustração, mas nunca o roteiro pretende convencer-nos de que são apenas vítimas de um sistema injusto.


Trata-se, sobretudo, de personagens duros, ou, se quisermos, endurecidos pelas circunstâncias. Gestos de carinho são raríssimos, a trilha sonora é das mais econômicas, a câmera não afaga nem lambe o rosto de ninguém.


Correção política? Os pobres de ‘Linha de Passe’ não acendem as esperanças de nenhum coração de esquerda. De resto, xingam-se, maltratam-se, exibem preconceitos o tempo todo. Só de forma muito indireta é que seus sonhos apontam para alguma coisa como um ideal comum de salvação.


Um quer ser jogador de futebol; outro aposta na retidão da alma; o garoto quer ser chofer de ônibus.


Três imagens do ‘coletivo’, do ‘comunitário’, do ‘nacional’. São, contudo, reinterpretadas num prisma individualista.


A torcida, em transe coletivo, importa menos do que o projeto de ascensão de um rapaz cujo principal defeito é ser ‘fominha’ em campo. O comunitarismo cristão nada significa para outro personagem, fechado em sua pura e dura redenção individual. O ônibus que o menino quer conduzir está sem passageiros.


Estetização da pobreza? Tampouco vi qualquer coisa nesse sentido em ‘Linha de Passe’. Qualquer continuidade coreográfica dos movimentos de câmera é substituída, aqui, por uma linguagem que privilegia o corte, a interrupção, a montagem. Recursos anti-sentimentais e ‘distanciadores’ por excelência.


Mesmo os closes dos personagens dão a impressão de serem filmados a uma certa distância, de tal modo cada ator se recusa à cumplicidade sentimental com o público.


Desconfio que, se ‘Linha de Passe’ desagrada, é pelas suas qualidades; ou por outros defeitos (certa monotonia, por exemplo) que, em todo caso, não são aqueles que eu esperava quando entrei na minha resignada fila dominical. Que assim seja, e que o filme seja louvado.’


 


 


I’M A PC
Folha de S. Paulo


Anúncio da Microsoft foi feito em computador da Apple


‘Para mudar sua imagem careta em relação à descolada Apple, a Microsoft chamou o humorista Jerry Seinfeld para ser garoto-propaganda de sua nova campanha publicitária, orçada em US$ 300 milhões.


As peças ganharam a internet e chamaram a atenção dos usuários, mas também deixaram um ponto de interrogação na cabeça deles por conta do humor bastante peculiar -para não dizer incompreensível -da atuação de Seinfeld e do fundador da Microsoft, Bill Gates.


Depois do contrato de US$ 10 mi com Seinfeld, a Microsoft lançou outra parte da campanha, a ‘I’m a PC’, em que gente comum e celebridades, como a atriz Eva Langoria, se mostram orgulhosos de usar um PC.


O problema: a campanha foi feita em um computador Mac, da Apple. A descoberta, anunciada pelo AppleInsider, foi feita pelo usuário do Flickr LuisDS e garantiu a alegria dos ‘macmaníacos’.


57 bi de dólares é a fortuna estimada de Bill Gates, fundador da Microsoft. Pelo 15º ano consecutivo, ele lidera o ranking de mais ricos dos EUA feito pela revista ‘Forbes’


1,9 mi de pessoas fizeram o download do Chrome, o navegador do Google, nos Estados Unidos. O número representa 1,4% dos usuários de internet dos EUA, de acordo com a Nielsen’


 


 


INTERNET
Bruno Romani


Vídeos em toda parte


‘Assistir a vídeos na internet já não é como antes. Filme na rede deixou de ser sinônimo de YouTube. Ao reencarnar nas redes sociais, no celular, no e-mail, em blogs, em canais de TV on-line ou em programas populares como o iTunes, o vídeo assume um caráter íntimo e quase onipresente -há até serviços que documentam rotinas e gostos pessoais.


Sites que concentram clipes amadores e que permitem organização precisa de vídeos ganharam espaço ao se mesclares com outros formatos populares da rede, fazendo o YouTube parecer um bagunçado arquivo de imagens.


O Kyte (www.kyte.com), por exemplo, é um serviço que permite a qualquer pessoa fazer transmissões ao vivo com uma câmera de aparelho celular diretamente para um canal pessoal hospedado no site.


O canal ainda pode ser inserido em redes sociais, como MySpace e Facebook, ou acompanhado de outro aparelho celular. O serviço ganhou popularidade entre os fãs de rap ao transmitir vídeos de bastidores da turnê do cantor americano 50 Cent feitas por meio do próprio celular do artista.


Microvídeos


Enquanto no Kyte o vídeo on-line invade os territórios de canais de TV e celulares, no 12seconds (12seconds.tv) a invasão se dá no ainda pouco explorado mundo dos microblogs, como o Twitter.


No site, pessoas carregam vídeos com duração de 12 segundos para dizer ou mostrar o que estão fazendo naquele instante. A similaridade entre Twitter e 12seconds é tão grande que muitos posts no primeiro já carregam link para os minivídeos do segundo.


Focando em gostos, a SonicSwap (www.sonicswap.com) coloca o vídeo mais perto do iTunes. A rede social construída dentro do aplicativo da Apple busca na internet, principalmente no YouTube, vídeos para todas as listas de canções do usuário. Assim, o iTunes se torna uma biblioteca de vídeos previamente determinada pelo gosto musical do seu dono.


Já o Blinkx (tv.blinkx.com) entra no campo de batalha dos buscadores e também dá atenção a gostos pessoais.


O serviço é conta com uma ferramenta de pesquisa de episódios inteiros de programas de TV encontrados gratuitamente na rede. É possível encontrar desde ‘Os Simpsons’ até ‘Barrados no Baile’ na íntegra e com alta qualidade de imagem.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 24 de setembro de 2008


 


ELEIÇÕES NOS EUA
AP, Nova York


Imprensa é proibida de acompanhar as reuniões de Sarah com Karzai e Uribe


‘A campanha do republicano John McCain proibiu ontem os jornalistas de acompanharem os encontros da candidata a vice da chapa, Sarah Palin, com os presidentes do Afeganistão, Hamid Karzai, e da Colômbia, Álvaro Uribe. A agência Associated Press fez um protesto formal à campanha e a rede CNN, responsável pela captação das imagens de TV, ameaçou tirar sua equipe da cobertura. Os estrategistas de McCain, então, cederam e permitiram a entrada apenas de fotógrafos e de um produtor de TV. Repórteres de jornais e revista ficaram de fora – o que é incomum em reuniões desse tipo.


A conversa entre Palin e Karzai, porém, só pôde ser acompanhada por 30 segundos. Os dois falaram sobre assuntos familiares. Karzai contou do nascimento de seu filho. Em seguida, os jornalistas foram acompanhados para fora da sala. O mesmo aconteceu na reunião entre Palin e Uribe, realizada pouco depois.


Quatro pesquisas da Universidade Quinnipiac, divulgadas ontem, mostraram o democrata Barack Obama à frente de McCain em quatro Estados-chave: Michigan (48% a 44%), Colorado (49% a 45%), Wisconsin (49% a 42%) e Minnesota (47% a 45%).


PESQUISAS


4 pontos porcentuais – É a diferença em favor de Obama em Michigan (48% a 44%)


7 pontos porcentuais – É a diferença em favor de Obama em Wisconsin (49% a 42%)’


 


 


CAMPANHA
Marcelo Auler e Ricardo Rodrigues


Radialista desponta em Maceió com 81%


‘O radialista, cantor de forró e prefeito de Maceió, José Cícero Soares de Almeida (PP), despontará como o maior fenômeno eleitoral nas capitais – se confirmada previsão do Ibope -, superando até mesmo o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB). Enquanto o tucano do Paraná aparece com 74% das intenções de voto, Almeida atinge 81% nas pesquisas.


Sua reeleição carimba seu passaporte para a briga pelo governo de Alagoas em 2010.


A vitória de Almeida, 50 anos, que prefere ser chamado como ‘Ciço’, ocorre à revelia dos principais políticos alagoanos.


O ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB) é um dos que o apóiam. ‘Eles sentiram que não tinham a menor condição de uma aliança contrária e estão aliados’, explica Almeida sobre o grupo político do ex-presidente. Neste final de campanha, o prefeito dará ‘uma força’ ao filho de Collor, Fernando James Braz Collor de Mello (PTB), que luta pela Prefeitura de Rio Largo.


Apoio mesmo Almeida recebe do usineiro João Lyra, candidato derrotado ao governo do Estado em 2006. Em 2004, ele desistiu da disputa pela prefeitura ao constatar a popularidade de Almeida. Em troca, Lyra indicou a filha Lourdinha para vice, cargo em que ela permanece.


Com o governador Teotônio Vilela (PSDB), o prefeito mantinha boa relação: em 2002, Almeida o apoiou e a Renan Calheiros (PMDB) ao Senado. ‘Com a ambição pelo poder ninguém tem limites, se esquecem das amizades e do respeito ao próximo’, desabafa o prefeito, que reclama das pancadas que tem recebido da adversária Solange Jurema (PSDB), que está com 6% nas pesquisas. A crítica mais contundente da tucana é por causa do forró que Almeida gravou: Locadora de Mulher.


GOVERNO ESTADUAL


A disputa pela prefeitura antecipa a briga pelo governo do Estado, cobiçado oficialmente por Vilela e Collor. ‘As coisas na minha vida, inclusive profissional, aconteceram naturalmente, por reconhecimento. Se disser que passa por minha mente ser governador, eu estaria cometendo um ato medíocre’, desconversa Almeida, para dizer em seguida que pesquisas o apontam com 57% das preferências contra 36% de Collor. ‘Se for uma coisa por unanimidade da sociedade, talvez isto aconteça’, admite.


Renan vê Almeida como um aliado. Entre os planos está se reeleger senador em uma chapa com o prefeito para governador e na vice Luciano Barbosa (PMDB), atual prefeito de Arapiraca.


Para os alagoanos, não será novidade Almeida deixar o possível segundo mandato antes do fim. Em oito anos de vida política, o ex-servente de pedreiro, ex-cobrador de ônibus, ex-taxista e radialista já foi vereador e deputado, mas só cumpriu um mandato por inteiro: o de prefeito.


Sua passagem pela Assembléia foi rápida, mas não o livrou do indiciamento pela Polícia Federal na Operação Taturana, que apura desvio de R$ 280 milhões do Legislativo. Seu nome está ligado a um empréstimo de R$ 150 mil no Banco Rural, que, segundo Almeida, foi feito a pedido do então presidente da Casa, Celso Luiz. ‘Não sabia que poderia dar complicação’, defende-se.’


 


 


Roberto DaMatta


A utopia existe


‘Se você é um neoliberal relativamente descrente das utopias, saiba que elas estão mais vivas do que nunca. Onde? Na propaganda eleitoral, é claro, onde um enlouquecido sistema de proporções que desafia o bom senso é compensado.


Vendo-a, você se questiona por que todos esses projetos maravilhosos jamais foram realizados. Mas você logo percebe que – tirando as exceções de praxe – o que os candidatos oferecem são promessas. São planos ideais, musicados em samba, falados ao sabor da empatia e do sorriso, sem nenhuma avaliação de sua exeqüibilidade. E como o candidato sabe que, uma vez ‘empossado’, ninguém vai cobrá-lo porque, afinal, ‘aquilo foi por conta da campanha eleitoral’, aquele instante de fantasias cívicas e sociais, começando pelas alianças partidárias, não é exagero ligar eleição e carnaval.


O que aproxima esses momentos é o direito à licenciosidade. É o fato de o candidato (tanto quanto o folião) se permitir criticar o poder estabelecido sem levar troco. Quanto menor for o prestígio do candidato e quanto mais alto é o cargo que pleiteia, mais carnavalizada será a sua campanha. Como é que esse ‘pé-rapado analfabeto’ quer ser presidente, governador, deputado, prefeito ou vereador? Como é que esse joão-ninguém ousa demonstrar esse rasgo de igualdade e tem o desplante de criticar a pessoa que ocupa um cargo obviamente ‘superior’ e que tem sido possuído por uma autoridade – ‘alguém’ que, bem ou mal, ‘entende’ alguma coisa? Enéas, Deus o tenha, foi um formidável exemplo. Lula foi outro, daí o seu imenso peso simbólico, pólo no qual se assenta uma estrondosa capacidade para tudo dramatizar, logo traduzida em popularidade. Lula é a figura que ousou desafiar a elite brasileira e hoje tem o poder de fazê-la lamber-lhe os pés e beijar-lhe a mão. Quem não se lembra dos avisos desavisados de catástrofe que a sua eleição iria trazer para o sistema?


Em diferentes níveis, outros ilustres desconhecidos caem na mesma plataforma simbólica, provando como, no Brasil, a desigualdade é um valor. De fato, se nossa vida social fosse fundada na igualdade, não ‘causaria espécie’ um desconhecido disputar qualquer cargo público. Mas como conciliar essa liberdade que eventualmente iguala com um sistema que também se pensa como graduado e constituído de pessoas maiores e menores? Uma sociedade segmentada entre pessoas que podem; e, de indivíduos, que não podem?


Entre os poderosos e os que pretendem entrar neste campo que a todos abre as portas da elitização aristocrática, essa nobreza política – baseada no ‘quem foi rei, sempre é majestade’ – é preciso cautela. Daí esse estilo de ‘ser candidato’ abusando de promessas, mentindo sobre realizações pessoais ou simplesmente expondo programas políticos realistas. Opção menos rotineira, mas que vai ganhando corpo em cada disputa eleitoral.


Penso que os jingles em ritmo de samba de breque, na voz bem marcada de um sambista que acompanha os candidatos, exprimem bem a dificuldade de levar a campanha para o terreno mais sério e desafiador do civismo, fazendo com que ela fique no terreno intermediário: entre projetos e promessas inconseqüentes. Ademais, entendo que não deve ser fácil fazer uma campanha eleitoral marcando posições políticas, mas preservando o lado pessoal e os eventuais laços de família ou de amizade que ligam os candidatos entre si. O nosso estilo aristocrático de vida, que logo transforma o candidato pobre, renunciante do mundo, num sofisticado baronete intoxicado de amor por si mesmo, não tem muitas afinidades com o espírito crítico que necessariamente permeia a campanha eleitoral num sistema liberal. Daí o velho dilema: como apresentar o programa e, radicalizá-lo, sem falar em nomes e pessoas? Não é por outra razão que esse momento se caracteriza pela eventual violência alimentada do desequilíbrio entre o programático (sempre crítico, denunciador, acusatório e fantasioso) e o pessoal (sempre ponderado, realista e concreto). A saída, como estamos sendo obrigados a assistir no ‘horário eleitoral’, é uma mistura de programas de conteúdo cívico sério, que atacam os problemas da cidade ou do estado e de candidaturas messiânicas e carnavalescas que prometem tudo realizar. Nos Estados Unidos, eles – pasmem com quem viu e vê – rezam e cantam o hino nacional; aqui, a invocação carnavalesca relembra que a troca de lugar só pode mesmo ocorrer num tempo extraordinário, provavelmente para, depois da tempestade de votos, tudo continuar como está.


Daí, a combinação estranha de programas e promessas, tocadas ao familiar sambão que emoldura o postulante no esforço de ligá-lo ao único festival brasileiro nacionalmente popular, mas que ninguém, exceto algum antropólogo maluco, deve levar a sério.


P.S.: Quem achar que sou vago e estou obviamente errado, recorra aos economistas e contorno que, nos últimos dias, descobriram que o responsável pelas tais ‘leis imutáveis do mercado’ é mesmo o estado nacional. Seria bom intercalar Hayek com Polanyi e Hirschman.’


 


 


TECNOLOGIA
Renato Cruz, com AP e Reuters


Celular do Google é lançado nos EUA


‘A operadora T-Mobile anunciou ontem nos Estados Unidos o lançamento do G1, primeiro celular equipado com o Android, software de telefones móveis criado pelo Google. O aparelho, fabricado pela taiwanesa HTC, chegará ao mercado americano em 22 de outubro, à Inglaterra em novembro e a outros países europeus no começo do próximo ano. A HTC ainda não tem previsão de quando o celular chegará ao Brasil.


O G1 vai concorrer com o iPhone, da Apple, e tem algumas características parecidas com ele, como uma grande tela sensível ao toque. O software permite uma integração mais simples com os serviços do Google, como o Gmail, o YouTube e o Google Maps. Com um contrato de dois anos, o aparelho custará US$ 179 nos EUA.


A T-Mobile planeja vender 400 mil aparelhos com o Android este ano, e lançar novos modelos em 2009. O objetivo do Android é tornar mais fácil a navegação na internet pelo celular. O software tem código aberto, e pode ser usado de graça pelos fabricantes e modificado livremente por programadores. Sergey Brin, um dos fundadores do Google, disse que a empresa está interessada no mercado de publicidade móvel.


‘De maneira geral, achamos que, se existirem ótimos (sistemas operacionais) no mercado, que permitam às pessoas terem ótimos aparelhos e ótimas aplicações, elas usarão a internet nos celulares muito mais’, disse Brin. ‘E, quando as pessoas usam mais a internet, elas acabam usando nossos serviços e, no final, isso é bom para nossos negócios. Não existe plano secreto de ter anúncios que aparecem de repente ou nada parecido.’


A expectativa do Google é que o Android incentive a criatividade de desenvolvedores de software, que poderão escrever aplicações para ele livremente. ‘Não existem muitos recursos surpreendentes nele’, disse Lance Ulanoff, editor-chefe da PC Magazine. ‘Acho que podemos esperar que ele será um bom celular para a internet.’


Os desenvolvedores poderão enviar aplicações para uma loja online do Google, que pretende usar ao mínimo seu poder de veto. A Apple lançou uma loja parecida para o iPhone no começo do ano, mas mantém um controle maior das aplicações disponíveis. Ela bloqueia programas que competem com os programas dela mesma.


Brin contou que criou um programa para o G1. Ele usou o sensor interno do telefone para medir quanto tempo demora para o aparelho atingir o chão quando é jogado para o alto. Mas concordou que não seria muito inteligente incluir esse programa num aparelho de preço alto como o G1. ‘Não o incluímos na configuração padrão’, disse.


SEM RECEITA


Assim como o navegador Chrome, lançado no começo do mês, o Android é um produto do Google que não gera receita direta para a empresa. Há outros produtos, como o serviço de fotos Picasa, o software de desenhos tridimensionais SketchUp, os avisos via e-mail Google Alerts e o software de busca no computador Google Desktop, que são gratuitos e não têm publicidade. O Orkut também não tem publicidade no Brasil.


‘Se o produto tem aceitação, e está relacionado com o objetivo do Google de organizar a informação, ele recebe apoio da empresa’, disse Felix Ximenes, diretor de Comunicação do Google Brasil. ‘Não existe nenhum compromisso de achar uma veia lucrativa em dois, três ou quatro anos.’


A principal fonte de receita do Google é a venda de publicidade, na forma de links patrocinados, pequenos anúncios de textos que aparecem ao lado das buscas.


A empresa também oferece serviços corporativos, que têm uma participação muito pequena no faturamento. Existe um equipamento de buscas para as empresas conectarem às suas redes. O Google cobra também assinaturas para o uso profissional do Google Docs, concorrente do Microsoft Office, e do Google Earth.’


 


 


INTERNET
Dow Jones Newswires


Presidente da GM defende empresa no YouTube


‘O presidente-executivo da General Motors, Rick Wagoner, foi ao YouTube para tentar convencer o mundo de que a montadora vai sair de sua recente crise, em um movimento que pretende recuperar a confiança na companhia. Wagoner, em uma atitude incomum para um executivo de uma das maiores companhias do mundo, usou o popular site de compartilhamento de vídeos, pertencente ao Google, para destacar que a GM está fazendo o que é preciso para superar os desafios que tem enfrentado.


O executivo observou que alguns fatores que pesam sobre a GM – desde a crise financeira em Wall Street e a desaceleração econômica dos Estados Unidos até a volatilidade dos preços do petróleo – levaram muitas pessoas a se perguntarem: ‘Como será o futuro da GM?’


No vídeo, que pode ser visto no endereço http://www.youtube.com/watch?v=NhJ7LXxShCc, Wagoner afirma acreditar que a GM tem um futuro sólido e destaca os esforços da companhia para crescer nos mercados globais e criar novas tecnologias para economia de combustível. A mensagem faz parte de uma série de vídeos que a General Motors pretende divulgar, chamada ‘The Case for GM’.


Nas últimas semanas, a montadora tem usado meios não convencionais para se defender ante investidores, consumidores e funcionários, preocupados com a viabilidade da companhia. Entre esses meios está o site gmfactsandfiction.com, no qual a empresa contesta afirmações que considera equivocadas.’


 


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Próxima parada: Rio


‘Bruno Barreto tem vivido dias de intensa agitação. Começaram na semana passada, quando seu longa Última Parada 174 foi escolhido pela comissão do MinC para representar o Brasil na briga por uma vaga no próximo Oscar de filme estrangeiro. ‘Vivemos numa cultura adolescente’, avalia o diretor. ‘A simples indicação do filme para concorrer à vaga cria um fato, mas é só a competição. Se Última Parada não for confirmado lá fora, todo mundo esquece, é como se não tivesse nenhum valor.’ Por isso mesmo, Bruno, escolado de guerra – há dez anos, já foi indicado para o prêmio por O Que É Isso, Companheiro? -, é cético.


Seu verdadeiro teste, antes da estréia apontada para 24 de outubro, será a pré-estréia nacional, amanhã, quando Última Parada 174 abrir o Festival do Rio. Pelo segundo ano consecutivo, o festival mais charmoso do País inaugura-se com um filme brasileiro, e violento. No ano passado, foi Tropa de Elite, de José Padilha, marcando uma posição do festival em defesa do mercado e da afirmação do direito de autor. Em setembro de 2007, a versão pirata de Tropa já virara um fenômeno em camelódromos de todo o Brasil. Agora, é a vez da versão ficcional do episódio que o próprio Padilha filmou como documentário, Ônibus 174.


Entre a indicação para concorrer a uma vaga no Oscar e a sessão de abertura do Festival do Rio, Última Parada já foi ao Festival de Toronto, onde sua violência deixou muita gente sem fala. E, antes da estréia nos cinemas, será visto na Mostra de São Paulo. Haja emoção. Bruno Barreto reconhece que fez um filme forte – o mais forte de sua carreira. ‘Para mim, é muito importante que esteja estreando no Festival do Rio, cidade com a qual mantenho uma relação de amor e ódio, e aos pés do Cristo Redentor, onde ocorreu toda essa tragédia.’ O seqüestro do ônibus 174 terminou com a morte do seqüestrador, Sandro, e de uma das reféns, no Parque Lage, bem aos pés do Cristo.


Iniciando-se sob o signo de uma obra que promete provocar polêmica, o Festival do Rio 2008 começa na sexta para o público, devendo exibir, até dia 9 de outubro, 350 filmes de 60 países. A menina dos olhos da diretora artística do evento, Ilda Santiago, é, como sempre, a Première Brasil, principal vitrine das novas produções brasileiras no próprio País. Mas tem também Panorama do Cinema Mundial, Mostra Expectativa, Midnight Movies, Mundo Gay, Première Latina, Mostra Geração, etc. Durante 15 dias, a partir de amanhã, o Rio vira capital do cinema.’


 


 


AP


Hari Puttar ganha disputa contra Warner


‘O filme de Bollywood Hari Puttar estréia esta semana logo após um tribunal indiano ter rechaçado uma ação da Warner Bros., que argumentava que o nome era muito parecido com a de sua série, Harry Potter. O tribunal decidiu que quem já assistiu aos filmes e leu os livros do jovem bruxo saberá a diferença entre a série criada por J.K. Rowling e o filme de Indian Punjabi, intitulado Hari Puttar – Uma Comédia de Terror. A empresa produtora, Mirchi Movies, afirmou que seu filme não tem nenhuma semelhança com a famosa série. Hari é um nome comum na Índia e significa Deus em hindu, enquanto Puttar quer dizer filho em punjabi.’


 


 


TELEVISÃO
Alline Dauroiz


Filha de SS: ‘Sucessão é natural’


‘Restrita a convidados que não incluíam jornalistas de outros veículos, a festa dos 50 anos do Grupo Silvio Santos na Sala São Paulo, anteontem, foi testemunhada por nossa reportagem. ‘Acho que meu pai nunca se preocupou muito com a sucessão das filhas na empresa’, disse ao Estado a atual diretora-artística do SBT, Daniela Beyruti, filha de Silvio Santos apontada como sucessora do pai à frente da rede. ‘Ele sabia que, com o tempo, seria natural que nós tomássemos gosto pelo negócio e ficássemos à frente. Ele ainda me orienta bastante e dá palpites. Mas com jogo de cintura, consigo mostrar minhas idéias. Quero que minha administração tenha a cara dele.’


Em seu discurso, com a Sala São Paulo lotada, o ‘homem do Baú’ lembrou do tempo em que subia em caixotes para convencer as pessoas a acreditarem no Baú da Felicidade e agradeceu aos funcionários presentes. ‘Eu sou só a cara do Grupo. Vocês, meus colaboradores, são o coração. Silvio Santos ainda atribuiu sua carreira à sorte. ‘Muitos de vocês são melhores do que eu nos negócios. Mas por que eu fui bem-sucedido? Acredito que foi por sorte.’


Sentado na sétima fileira ao lado da mulher, Íris Abravanel, Silvio assistiu animado aos shows de Agnaldo Rayol, Elba Ramalho, Tato da banda Falamansa, Luiza Possi, Dudu Nobre e Fafá de Belém. O patrão acompanhava as canções com palmas e era só afagos com dona Íris.


Entre as canções, Cintia Benini e Celso Portioli apresentavam com imagens uma retrospectiva do que acontecia no Brasil e no Grupo Silvio Santos, desde 1958.


Todos os apresentadores do SBT passaram pelo coquetel, mas Hebe, Ratinho e Adriane Galisteu – que enfrentam problemas de renovação de contrato – ficaram menos de uma hora e nem viram os shows.’


 


 


 


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