Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Falta bom senso aos jornalistas nas redes sociais

Em uma era de mídias digitais conectadas em rede, onde todos vigiam todos – e isso não é mérito exclusivo do governo norte-americano –, ter uma boa postura nesses ambientes digitais não é pedir demais; é puro bom sendo. E quando falamos em “boa postura”, isso não significa, por exemplo, abdicar de seus valores, de suas posições políticas, filosóficas e nem mesmo deixar e lado suas crenças religiosas. Boa postura significa seguir adiante de forma minimamente honrosa, dentro dos padrões legais estabelecidos dentro de uma sociedade.

Assim como no caso da jornalista que criticou os médicos cubanos, afirmando no Facebook que os mesmos não possuíam “cara de médico”, mas de “empregadas domésticas”, a profissional cometeu um erro tão primário que a lista de equivocidades seria imensa. Um profissional que critica outro profissional só para fazer média é um profissional antiprofissional. E um profissional sem postura que critica a postura de outro profissional é pior ainda.

Jornalistas comumente são vistos como profissionais gabaritados, “entendidos” de muitos assuntos e que geralmente estão expostos na mídia, seja televisão, jornal impresso, rádio e, agora, a internet. Acontece que em todos esses ambientes citados o jornalista sempre foi obrigado a manter uma postura, digamos, mais profissional, já que a sua imagem e a imagem da empresa estavam em jogo. Com a internet, a linha tênue entre o que é público e o que é privado quase não existe.

Mundo autovigiado

Como assim? Oras, o Facebook não é seu, assim como o Twitter ou demais redes sociais. A rede, por mais que você altere as configurações de privacidade, é um ambiente público e qualquer um pode “printar” uma mensagem sua e jogar para o mundo. É como se todos os usuários andassem o tempo todo com escutas e micro câmeras. Ao menor deslize, suas falas preconceituosas, ignorantes e racistas vão parar na rede e, consequentemente, na opinião daqueles que te julgavam como um profissional íntegro.

O que deve ser feito, então? Bom, jamais confunda boa postura com “teatralização” de sua vida. Não dá para fingir o tempo todo que você é um no pessoal e outro na vida profissional. Boris Casoy que o diga, pois suas palavras absurdas contra garis ecoam e desestabilizam até hoje sua reputação, que até então, era inabalada. Nas redes sociais é como se o tempo todos nós, jornalistas, estivéssemos com o áudio vazado.

É obvio que bom senso e boa postura não corrigem profissionais já distorcidos, ou seja, se você é preconceituoso ou racista, não adianta nada querer posar de bom moço, pois uma hora a máscara cai. O que vale para o item boa postura é saber que o tempo todo você, como profissional, está diante de uma plateia com milhares de pessoas, e que por isso você tem a obrigação de tomar medidas e realizar ações sob uma determinada ótica. Autocensura? Não, mas um profissional da imprensa deve, acima de tudo, estar ciente de que no atual mundo conectado e autovigiado todos nós podemos ser reféns daquilo que a sociedade julga ser errado, bizarro ou condenatório.

Estudar a internet

A ideia central é que todos os jornalistas passem por uma auto avaliação e procurem entender que tipo de profissional eles são. Há a opção um, que são os jornalistas com posturas antiéticas e que nem deveriam ser chamados de jornalistas. E há a opção B, que são jornalistas com convicções políticas, religiosas e ideológicas que mesmo que divergentes jamais podem ferir alguma estrutura legal vigente na sociedade. Para os primeiros, meus pêsames, pois logo a sociedade os julgará. Para os pertencentes ao segundo grupo, alguns macetes podem ser levados em conta, como o não envolvimento em grupos ilegais no Facebook, evitar comentários que possam ser classificados como racistas ou preconceituosas, ter a consciência de que somos ainda mais observados do que antes, ainda mais por sermos jornalistas, e ter em mente que boa postura significa ser um profissional maduro, e não um profissional que teatraliza sua vida.

Ainda falta muito para os jornalistas entenderam a dimensão da internet. Se até hoje profissionais da imprensa publicam comentários absurdos na rede, com que mente os mesmos irão trabalhar sobre elas? Se um jornalista acha que pode ofender alguém e, posteriormente, apagar o comentário, como ele irá trabalhar em prol do jornal nesses ambientes? Se você não sabe usar uma ferramenta em benefício próprio, você também não sabe usá-la em benefício do trabalho e da sociedade. Jornalistas, por favor, revejam seus conceitos e comecem a estudar de uma vez por toda essa coisa chamada internet.

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Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro e editor do Mídia8!