Sunday, 19 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

Aparelho ainda não mostra a que veio

Minha expectativa com relação ao iPad era a mais alta possível. Depois de passar semanas acompanhando a extensa cobertura na mídia americana e de ter lido críticas elogiosas nos principais veículos, esperava nada menos do que um aparelho do qual eu não pudesse mais abrir mão.

Mas, ontem [sábado, 3/4], ao final do test-drive que descrevo a seguir, a sensação é a de que o iPad ainda não mostrou a que veio.

Do início: recebi o aparelho via correio, ao meio-dia de ontem, depois de passar a manhã inteira pensando que teria sido mais garantido enfrentar filas para conseguir o meu. O carteiro tirou sarro da minha ansiedade. Não devia ser o primeiro iPad que entregava.

O impacto inicial, positivo, foi parecido com o que senti quando abri os dois outros aparelhos da Apple nos quais me viciei, o iPod e o iPhone -devo dizer que, no mais, não sou uma ‘garota Apple’. Belo design, leve e, aparentemente, simples.

Nem tanto. Aos poucos, o iPad foi me devolvendo à realidade. Primeiro, é necessário um computador com iTunes (loja virtual da Apple) para que comece a funcionar. Quando o iPad liga, percebo outro fator do ‘sistema fechado’ da Apple: o aparelho não carrega quando ligado a um PC, diferentemente do iPod.

Próximo obstáculo: o iPad não encontra uma conexão Wi-Fi (sem fio) livre no meu apartamento. Sem conexão, a novidade não tem graça nenhuma.

Por sorte, alguém esquecera um AirPort por aqui, uma base da Apple que, ligada à tomada e ao modem, transforma a banda larga em sinal sem fio. Sem isso, talvez o meu iPad fosse inútil.

O uso do Safari (navegador da Apple) é como no iPhone, só que mais confortável, por causa da tela maior e de um teclado que, embora também sensível ao toque, tem mais espaço entre as letras e é fácil de manipular. O Flash Player (programa da Adobe) é um problema: proibido, faz com que parte dos sites e mais da metade dos vídeos na web fiquem inacessíveis.

‘Apps’

Mas YouTube e sites como o da TV ABC já trataram de fazer versões especiais para a Apple; o primeiro, que já vem no desktop do iPad, traz novo formato, com vídeos em definição mais alta. A ABC oferece um aplicativo gratuito que dá acesso a várias séries – e, embora elas estejam repletas de propagandas indesejadas, se adaptam perfeitamente à tela do iPad.

Entre os inúmeros outros ‘apps’ (aplicativos), há ainda aqueles para usar redes sociais, jogar, ler jornais, revistas e livros – até o Kindle (leitor de livros da Amazon) já tem sua versão para o aparelho, embora a Apple também possua um aplicativo, o iBooks.

Nele, as páginas, coloridas, obedecem ao toque e viram imitando a dobra das folhas de um livro ‘real’, com velocidade controlada pelos dedos. Ícones permitem mudar o tamanho das letras e viajar a qualquer parte do livro. A biblioteca da Apple, porém, é bem menor do que a que a Amazon oferece.

Minha vontade era a de baixar todos os aplicativos de livros possíveis. Temia que, ao levar o aparelho para as ruas, ele não achasse uma conexão Wi-Fi e passasse a ser apenas uma mistura de leitor eletrônico e iPod (a Apple disponibilizará versões mais caras, com conexão 3G, no fim do mês).

Também poderia pagar por filmes e games, na tentativa de abastecer o iPad para ter vontade de sair com ele. Ou seja: depois de desembolsar US$ 499 em sua versão mais simples (16 GB), eu teria um sem-fim de opções para continuar gastando dinheiro.

No fundo, o iPad é uma loja gigante, onde a internet faz o caminho oposto ao que estamos habituados: menos conteúdo é disponibilizado de forma grátis, aberta e livre.

No fim do dia, passei a considerar a reclamação de alguns consumidores irritados com o preço salgado -para que eu preciso de um iPad se já tenho laptop e celular inteligente? Os netbooks, que chegam a custar menos da metade, são multifuncionais e, embora maiores do que um iPad, suficientemente práticos de carregar.

Após horas usando o novo grande lançamento da Apple, tudo o que consigo responder é: não sei. Não compraria um.