Onde você vê as fotos do último encontro com seus amigos? Como chegam a você as notícias sobre o que acontece no mundo? Cada vez mais latino-americanos dão a mesma resposta a essas perguntas: por meio das redes sociais. Os usuários mais avançados vão além e podem contar que conseguiram seu trabalho graças a uma das redes, o LinkedIn, ou outra, o Instagram, o melhor lugar para explorar a faceta de fotógrafo.
As redes sociais estão mudando o mundo – e a América Latina, mais especificamente – em âmbitos que incluem algo tão pessoal como o início de um namoro até algo extremamente público, como um político prestando contas. O levantamento sobre essas transformações foi feito pelo Grupo de Diarios América, que reúne 11 jornais da região.
Com quase 109 milhões de usuários na região, o Facebook é a maior rede da América Latina. Até no Brasil, onde o Orkut, da Google, era favorito até agosto de 2011, a criação de Mark Zuckerberg hoje já tem mais que o dobro do de seu rival: 42,4 milhões de internautas ante 20,6 milhões, diz a comScore.
Um dos principais motivos, segundo especialistas, foram os investimentos do Facebook em sua versão móvel. Além disso, houve forte migração de internautas das classes D e E para a rede:
– Quando o Facebook começou, era uma rede social da elite. Com o passar do tempo e o aumento das aplicações no site, como games e e-commerce, a migração ganhou força. O Orkut deve perder ainda mais espaço – diz Carlos Fernandes, especialista em internet.
Bem abaixo do Facebook – mas com nicho nada desprezível de 33 milhões de usuários e crescimento de 60% no último ano –, está o Twitter, microblog em que muitos políticos estão interagindo diretamente com os cidadãos.
A batalha política na Venezuela, por exemplo, já tem reflexo nas redes sociais, em especial desde que, em 27 de abril de 2010, Hugo Chávez criou seu perfil no Twitter. Seu objetivo era “tomar de assalto um espaço que os burgueses acreditam que pertence a eles”, disse. Hoje, Chávez é o segundo chefe de Estado com mais seguidores (3,3 milhões, só superado por Barack Obama).
As redes sociais começaram a se popularizar nos EUA há quase uma década. Sites como MySpace e Hi-5 mostraram uma mudança de atitude: perdeu-se o medo de compartilhar informações pessoais.
Junto à chegada do gigante das redes sociais, a América Latina teve um aumento na disseminação da internet. O verdadeiro empurrão às redes, porém, veio da internet móvel. Enquanto em 2010 havia 52 milhões de conexões móveis à internet de banda larga na região, em 2012 há cerca de 100 milhões, e espera-se 344 milhões para 2015, segundo a Associação GSM.
A associação, que une fabricantes e operadoras de telefonia em todo o mundo, qualifica de “espetacular” o ritmo de crescimento da banda larga móvel na América Latina, marcada por desigualdades, onde milhões encontram no celular a forma de entrar na internet. Não em vão, a tecnologia de redes móveis de terceira geração (3G) é, desde 2010, a mais usada na América Latina. Em 2011, já contava com mais de 65 milhões de assinantes.
Banda larga pode elevar até o PIB
“As tecnologias de banda móvel estão conectando muitos latino-americanos, que atuam como catalisadores para o desenvolvimento e a inovação no continente”, indica o informe 2011 da Associação GSM sobre a América Latina.
Para os especialistas, o acesso à banda larga já muda o entorno social, cultural, econômico e político da América Latina. Informe publicado em setembro pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) o propõe como forma de alcançar os Objetivos do Milênio das Nações Unidas. Calcula-se que um incremento de 10% na penetração da banda larga aumenta 1,38% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto de bens e serviços produzidos) de um país. Há oportunidades como maior criação de emprego “com a possibilidade de desenvolver milhares de aplicações e conteúdo”, defende Carlos Slim, o bilionário mexicano dono de um império de telecomunicações:
– A forma como pensamos e trabalhamos terá de mudar – sentencia.
***
[Pablo Fonseca Q. é do La Nación/Costa Rica e Bruno Rosa, de O Globo]