Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Aproximações de uma percepção do mundo

Para o filósofo brasileiro Dimas Künsch, no livro Comunicação: Saber, Arte ou Ciência? (2008), é um desafio ter uma ‘percepção do mundo em sua heterogeneidade, onde muitas e diversas são as entradas ou aproximações possíveis’, diferente da visualização da vida pelo regime fechado da lógica dualista e maniqueista. O jornalista Milton Jung, da rádio CBN, com seu projeto ‘Adote Um Vereador’, vê diversas gamas de cores como o pensador e aceita o desafio ao fugir de um debate com apenas preto e branco na paleta, evitando separá-los entre heróis e vilões.

Künsch defende a ‘teoria compreensiva da comunicação’ e Jung a coloca em prática, uma visão pluralista que no ‘Adote Um Vereador’ defende os interesses dos cidadãos ao fiscalizar as atitudes dos agentes políticos na Câmara Municipal paulistana por meio de blogueiros contribuintes que não visam a recompensa financeira pelo serviço.

O âncora da CBN São Paulo poderia usar sua ferramenta para favorecer um amigo, ou determinada filiação. Entretanto, pelos blogueiros é observado o maior número possível atores políticos. Jung pode ter suas preferências políticas pessoais, porém reconhece que fala com uma grande plateia e não um mero segmento e, diferente de muitos de seus colegas, não deixa sua preferência transparecer de forma agressiva, respeitando as diversas vozes na ágora e não buscando a crítica infundada e tampouco o elogio demasiado.

Poderes semelhantes

O fato da CBN pertencer a Organizações Globo pode ser alvo de críticas por opositores ao grupo, porém se não fosse dentro desse ‘escudo’, o jornalista e os blogueiros poderiam ser vítimas de achaques. Afinal, independente de ideologia ou partido, existem políticos que acreditam no poder pelo poder e reprimem aqueles que os questionam.

Com a expansão midiática, jornalistas e até celebridades ganham poderes semelhantes aos de um político. Torna-se prudente compreender que o mundo vai muito além de uma mera explicação simplória, dualista e, portanto, pobre, para dar o maior espaço possível das diversas partes envolvidas dentro de um conjunto deliberativo. Jung, talvez mesmo sem conhecê-la, compreendeu a teoria de Künsch.

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Jornalista e mestrando em Comunicação