Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Uma avaliação a ser avaliada

Os resultados do Pisa 2009 (Programa Internacional de Avaliação dos Alunos) continuaram a registrar que a educação brasileira, especialmente nas escolas públicas, apresenta deficiências que só serão superadas com tempo, investimento e muito trabalho.


Contudo, houve um avanço. Pequeno, mas significativo. O que deveria nos poupar de espantos e escândalos.


Comparações podem ajudar. No Pisa 2000, a média brasileira em leitura era de 396 pontos. A Finlândia (primeiro lugar) obteve 548 pontos. O México, para escolhermos um país latino-americano próximo a nós, alcançou 428 pontos. Uma década depois, analisando de novo as médias com relação à leitura, o Pisa 2009 mostra Finlândia (agora em terceiro lugar) com 536 pontos; México, com 425 pontos. E o Brasil, com 412 pontos.


México e Finlândia perderam pontos. Já o Brasil ganhou, e melhorou sua situação, em percurso acidentado, conforme o quadro abaixo: 



































Médias entre 2000 e 2009

Ano


Leitura

Matemática Ciências

Média geral


2000


396


334


375


368


2003


403


356


390


383


2006


393


370


390


384


2009


412


386


405


401


Realismo e decisões


Estes resultados devem conduzir ao realismo. De nada adiantam comentários batidos sobre a catástrofe educacional.


A revista Veja, em sua última edição, publica matéria intitulada ‘Na turma dos piores’. O editorial da IstoÉ desta semana, assinado por Carlos José Marques, ‘A chaga da educação’, tem expressões fortes: ‘a tragédia da educação brasileira’, ‘desempenho sofrível’, ‘humilhação’, ‘lamentável’…


No Estado de S. Paulo (12/12), Daniel Piza diz que o avanço no exame Pisa não merece comemorações de nenhum tipo. Na Folha de S.Paulo (10/12), Fernando de Barros e Silva queixa-se do tempo que ainda precisamos para melhorar: ‘Em `perspectiva histórica´, como diz Fernando Haddad, um bom sujeito, estamos, sim, avançando. Devagar, mas melhoraaaaaaaaaando – é um gerúndio exasperante esse.’


O realismo recomenda atitude equilibrada, com ânimo de luta. Avaliemos a avaliação. A evidente melhora, por modesta que seja, revela os esforços concretos, por parte do MEC e das secretarias de Educação. O essencial, neste momento, além de divulgar dados, é mostrar os pontos em que devemos concentrar nossa atenção. E que decisões devemos tomar? Que decisões as famílias, os governantes, os professores, os jornalistas devem tomar?


Cada um seu âmbito. As famílias devem assumir sua tarefa básica (óbvia e tão necessária) de acompanhar e incentivar os filhos. Aos professores, cabe cuidar de sua própria formação. Ninguém dá aquilo que não tem. Professores que não gostam de ler dificilmente formarão leitores. Quanto à mídia, cabe aos seus profissionais evitar a lamentação fácil e descobrir o porquê de nossas claudicações educacionais.


Um exemplo positivo foi a matéria de Mariana Mandelli, no Estadão, em 01/12, sobre a ausência de um plano educacional na maior parte dos estados brasileiros:




‘Dos 26 Estados brasileiros mais o Distrito Federal, 16 não têm plano estadual de educação, que é previsto por lei. Isso significa que eles não apresentam um conjunto de metas que direcionem as políticas públicas na área por até uma década, o que, segundo especialistas, pode dificultar investimentos para a solução de problemas estruturais. O levantamento, realizado pelo Observatório da Educação, da organização não-governamental Ação Educativa, mostra que Acre, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe não têm planos consolidados como lei e aprovados pelas respectivas assembleias.’


Se esses governantes (servidores públicos, afinal) não planejam, é porque ainda não desenvolveram um grau de responsabilidade à altura dos nossos desafios educacionais. Improvisam, fazem tentativas, mas ainda têm muito a aprender.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br