Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Necessidade de um novo currículo

O conceito de Novo Jornalismo ganhou, nas palavras de inúmeros autores, conotações diversas ao longo da história. Nesse mundo pós-moderno, no qual a ampla maioria dos jornalistas formados trabalha fora das redações, permitam-me especular a respeito do futuro da profissão.

A lei do mercado é clara: o público consumidor quer produtos que ainda não tem. É por essa razão que as universidades estão investindo, cada vez mais, em cadeiras de empreendedorismo, a fim de estimular os graduandos a construírem suas próprias empresas. No jornalismo, novas agências de assessoria de imprensa nascem corriqueiramente, atuando em diferentes segmentos.

Em minha cidade (Porto Alegre), duas assessorias me chamam a atenção. Uma se dedica a empresas do agronegócio, um dos mais fortes do Estado, e outra ao segmento náutico, no qual se comunicam as proezas de navegadores que assumem diversos desafios pelo mundo. Estes dois enfoques empreendedores garantiram um diferencial aos jornalistas idealizadores. Hoje eles contam com uma carta invejável de clientes.

A despeito de empreendimentos de sucesso, o ensino de assessoria de imprensa nas universidades é incipiente. Quando existem, as disciplinas relacionadas compõem poucos créditos do currículo. O porquê disso é um mistério. Reluto em aceitar que se trate de uma pressão feita pelos conselhos de relações públicas, que consideram a área privativa dos seus. Não havendo legislação específica sobre o tema, e respaldados por decisões judiciais, os jornalistas estão livres para atuar na função – fazendo escola, inclusive.

Revisão dos currículos

A gestão da ciência não constitui tendência apenas no jornalismo, mas também em outras áreas. Com um mercado engessado, em momento de crise econômica, um futuro de estabilidade pode ser encontrado no investimento na própria empresa. No caso dos jornalistas, por qual razão não estimular, em ambiente universitário, um apreço maior pelas cadeiras de assessoria de imprensa? Os currículos permanecem focados em plataformas tradicionais. Talvez um novo jornalismo esteja para nascer.

Um assessor que atua de forma transparente, seguindo a premissa da lógica da notícia, e ofertando valores-notícia representativos aos veículos, faz jornalismo. O primor ético é seguido de perto por inúmeras assessorias que, conhecendo os interesses da imprensa, atuam como verdadeiras sucursais das redações em áreas muito específicas, que exigem pesquisa e engajamento. Estes novos cenário de possibilidades devem entrar na agenda das universidades, sob pena de uma procura cada vez menor pelo curso.

O que acontece, normalmente, é uma adaptação dos conhecimentos adquiridos nas disciplinas de mídias tradicionais para a função de assessoria de imprensa. E aí entram produtos muitos comuns nas organizações, como informativos, revistas, webjornalismo etc. Ainda assim, matérias específicas que estabeleçam as nuances da função nunca foram tão necessárias. Convergir o jornalismo do passado com o jornalismo que será praticado no futuro compõe agenda urgente do ensino superior. Sempre haverá espaço para reportagem, bem como para profissionais que trabalhem no nível das fontes. A realidade do mercado assim demonstra.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo