Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Se Deus é por Ele, quem será contra Ele?

O presidente Bolsonaro inaugura um novo estilo ao fazer seu primeiro discurso, no estilo evangélico americano. Se Deus é por Ele, quem será contra Ele? Quais serão as outras novidades?

Citando um versículo bíblico, em João 8.32 (Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará) e com oração de olhos fechados, à maneira evangélica, dita por um pastor, no estilo dos crentes norteamericanos, e dizendo o lema nazista traduzido para o português (Deutschland uber alles), “o Brasil acima de tudo”, Bolsonaro fez seu primeiro discurso de boas intenções como presidente, mas sem precisar nenhuma medida especial embora tenha repetidamente afirmado que irá cumprir a lei e a Constituição.

Sem dúvida, muitos católicos devem ter se arrependido do voto, pois pela primeira vez na história do católico Brasil, um presidente adotou a maneira evangélica americana, digna de um Trump. Adeus laicidade.

Uma decisão ficou bem clara, logo no começo de seu discurso – a de que acabou o que chamou de flerte com o socialismo, comunismo, populismo e extremismo de esquerda. Se aplicar isso só no seu governo, será seu direito, mas o perigo é o de se tornar um regra para entidades, associações, manifestações e opções artísticas.

Como agora o Brasil vai só acompanhar os grandes países liberais, deverá haver uma mudança total da política internacional brasileira, seguindo principalmente os Estados Unidos, deixando de ser o incômodo país dentro da Organização Mundial do Comércio, que questionava o protecionismo americano.

E o Acordo de Paris, Bolsonaro fará como Trump? Houve um desmentido durante a campanha, porém resta ainda a dúvida – a ecologia será respeitada ou o Brasil, como os EUA, dirá também que o aquecimento global nada tem a ver com os predadores humanos?

Sem dúvida, a insistência na citação da Bíblia e de Deus, mais a oração pública guiada por um pastor evangélico são um agradecimento ao esforço dos evangélicos em considerar Bolsonaro como um “messias” enviado para solucionar os problemas brasileiros. Sem o apoio dos evangélicos não teria sido possível a vitória.

No passado, houve sempre a presença próxima do clero católico junto do poder, porém é a primeira vez que um conglomerado de igrejas evangélicas substitui o populismo apenas político, dando uma coloração de influência teocrática numa competição presidencial. Infelizmente, isso lembra a rapidez com que as denominações protestantes alemãs apoiaram Hitler e nos faz entrar no mesmo esquema de governos muçulmanos, como o Irã, onde o poder supremo é religioso.

Aonde iremos? Estamos realmente intrigados em saber. E, nos inspirando em Bolsonaro, dizemos, que deus nos proteja, mesmo se nele não acreditamos e preferimos que fique longe da política. A participação de carros com militares na comemoração da eleição, reforçou nossos temores.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI. Editor do Direto da Redação.