Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Europeus pedem ‘transparência’
na definição da TV Digital


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 28 de fevereiro de 2006


TV DIGITAL
Daniel Castro


‘Falta transparência à TV digital’, diz Europa


‘O lobby do sistema de TV digital europeu (DVB) divulga hoje um documento em que critica a ‘falta de transparência’ e de ‘abrangência’ nas discussões sobre a adoção da tecnologia no Brasil.


O documento, assinado pela Coalização DVB Brasil, que reúne empresas como Philips, Siemens e Nokia, é um torpedo contra o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que defende o padrão japonês, o preferido das redes.


O governo promete decidir até 10 de março qual tecnologia adotará no país. Estão na disputa o padrão de modulação japonês, o europeu e o americano.


O documento da Coalização DVB sugere que a adoção da TV digital no Brasil leve em conta o ‘bem comum’ (e não apenas os interesses das redes). Com isso, querem discutir um modelo de televisão que rompa com o atual, em que as redes monopolizam o espectro de UHF e VHF. O sistema europeu privilegia a distribuição de novos canais de TV, mas sem alta definição (HDTV).


O documento pede um ‘debate balanceado’. ‘É recomendável protocolar debates e reuniões e disponibilizar as respectivas notas na internet’, opina.


‘Houve falta de transparência e de abrangência. Não se discutiu a convergência da TV digital terrestre com a por satélite, via parabólicas’, diz Mário Baumgarten, diretor de tecnologia da Siemens.


‘A decisão vai afetar a indústria nos próximos 30 anos. Não é só uma discussão de TV digital, mas de reposicionamento da indústria. A convergência do televisor com o computador vêm porque haverá aparelho convergido mais barato’, afirma Baumgarten.


A assessoria do ministro Hélio Costa diz que todos os interessados (redes, telefônicas, fabricantes) estão sendo ouvidos e que não há falta de transparência. Para as redes, os europeus querem mudar as leis brasileiras e impor sua tecnologia para permitir que as telefônicas ocupem o espectro de UHF e VHF e cobrem pela distribuição de conteúdo. As emissoras iniciaram no final de semana uma campanha na TV defendendo a TV aberta ‘100% grátis’.


OUTRO CANAL


Retorno Sonia Braga mandou um e-mail sábado a seus amigos no Brasil anunciando sua volta ao país. Depois de 26 anos, ela fará uma novela inteira, ‘Páginas da Vida’, próxima das oito da Globo. ‘Queria que vocês soubessem por mim’, escreveu. Mas a notícia já estava nos jornais.


Voz Carlos Alberto Ricelli vai ancorar em março e abril a sessão ‘Cine Brasil’, da TV Cultura, anunciando os filmes a serem exibidos.


Riso O ator Ângelo Antônio fará uma participação em ‘A Grande Família’. Será Menezes, que simula um suicídio para dar um golpe em Lineu (Marco Nanini).’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Uma cerveja e outra


‘Saiu Bono e entrou Diego Maradona.


Da escalada do ‘SBT Brasil’, na emissora que, ao lado da Record, cobriu o ex-jogador sem parar num dos camarotes cervejeiros do Rio:


– Tem argentino no samba. Maradona vai ao Sambódromo e suspira pelas passistas.


Se de um lado o argentino falou por meia hora com Milton Neves, no estúdio de uma cervejaria na Record, de outro ele foi mantido à distância por Globo e ‘Jornal Nacional’.


E deu à coluna de Mônica Bergamo, na Folha, a seguinte declaração:


– Lulaaaa. Lulaaaa. Eu amo o Lula… Se você não gosta do Lula, a mim não importa. Eu sim. Lulaaa, Lulaaa!


Mas não foi o que ecoou. Do argentino ‘La Nación’ às agências internacionais, o que mais se reproduziu das entrevistas carnavalescas de Maradona foi a aposta de que o Brasil é ‘o favorito máximo’.


É o ‘número um’, como ele saiu dizendo, em seu camarote cervejeiro.


O ‘JN’ viu ‘um desfile de presidenciáveis’:


– O prefeito José Serra esteve no sambódromo de São Paulo… Já o governador Geraldo Alckmin saiu do Carnaval paulista e foi pela primeira vez ao Sambódromo do Rio.


Os tucanos, de todo modo, encerraram o Carnaval em retiro. O primeiro, aliás, na Argentina. De Gilberto Dimenstein, na Folha Online:


– Serra decidiu passar o Carnaval em Buenos Aires. O dramático tango combina muito mais com seu estado de espírito. Se ele disser não [à candidatura], terá aberto mão de seu sonho maior. E sabe-se lá se terá outra chance.


De Josias de Souza:


– Em público, Alckmin recolheu baterias. Depois de assistir a parte do desfile no Rio, recolheu-se a Pindamonhangaba. Nos bastidores, porém, diz e repete que, se Serra quiser concorrer, terá de disputar com ele no partido.


Em campanha, o governador vai nos próximos dias a Santos, para evento com Lila Covas, e depois João Pessoa, com Cássio Cunha Lima.


Do outro lado, o serrista Andrea Matarazzo, subprefeito da Sé, assaltado ontem nos Jardins, discursava aos brados contra a segurança pública de Alckmin -sem dar o nome- ontem na rádio Bandeirantes.


SEM PREÇO Enquanto Maradona celebra Lula e o futebol brasileiro, na Argentina o comercial de um cartão de crédito traz cenas de corintianos (acima) e dizeres como ‘Corte [de cabelo] do Carlitos – R$ 15’ ou ‘Camisa do Corinthians – R$ 40’. Até mostrar Carlitos Tevez e encerrar: ‘Que o melhor jogador do futebol brasileiro seja argentino – Não tem preço’


Lhamas


Também tem venezuelano no samba. A Telesur noticiou como ‘brilhou a integração latino-americana no Rio’.


Era o desfile da Vila Isabel, que ‘com apoio da Petróleos de Venezuela’, de Hugo Chávez, ‘desfilou uma imagem esplendorosa de um dos próceres independentistas da América Latina, Simón Bolivar’.


Em contraste, o ‘JN’ relatou que ‘a Unidos de Vila Isabel cantou as belezas da América Latina, lhamas, sombreros’. Mais nada.


Mais um


Nem tudo vai para o mesmo lado, na região. Num título da agência Reuters, ‘Heróis mexicanos, não Chávez ou Lula, inspiram esquerdista’.


Era um perfil de Andres Lopez Obrador, favorito na eleição presidencial de julho. Ele só fala de Benito Juarez, o primeiro presidente indígena do México, no século 19.


Wall Street, diz a agência, teme que ele adote ‘uma posição antiamericana’. E ‘Lula, Chávez e Kirchner, cada um a seu modo, têm conflitos com os EUA’.


Contraste


E tome Wall Street. O site do ‘Wall Street Journal’ noticiou ontem que a Standard & Poor’s elevou a nota do Brasil, como sublinhou o título, ‘a oito meses da eleição’:


– A alta vem em contraste com os meses que antecederam a eleição de 2002, quando a S&P cortou a nota em função das preocupações do mercado com o então candidato Lula.


A perspectiva para o ano eleitoral é ‘estável’:


Unger lá


O filósofo Roberto Mangabeira Unger deu longa entrevista ontem ao ‘Guardian’, sob o enunciado:


– Ele quer ser presidente do Brasil. E ele acredita no direito humano de viver onde for.


Se o capital viaja livremente no mundo globalizado, ele defende que o trabalho tenha o mesmo direito. Aliás:


– Brasileiro por nascimento, foi educado em Nova York, é professor em Harvard e tem os olhos voltados para a presidência de seu país natal.’


TELEVISÃO
Bill Carter


‘Família Soprano’ anuncia seu final


‘Na parede de uma sala nos escritórios de produção de ‘A Família Soprano’ há uma foto de um homem com o rosto semicoberto por um chapéu.


Passando a seu lado com seu andar desajeitado, mais lento em função de um machucado na perna, James Gandolfini parou e perguntou: ‘Quem é esse?’. ‘Fellini’, respondeu David Chase.


Federico Fellini pode parecer uma escolha inesperada para adornar uma sala onde é planejado um seriado da TV americana -mas por que não? Essa televisão já teve algum seriado mais rico nas complexidades da vida familiar -em todas as suas conotações- e mais italiano em seu ambiente (ou, no caso, ítalo-americano) do que ‘Família Soprano’?


‘É um processo de descoberta’, diz Chase, criador e produtor executivo da série, resumindo como tudo ocorreu. ‘Acho que Fellini falou que criar um filme é como fazer uma viagem.’


A viagem de ‘Família Soprano’ vem sendo uma das mais elogiadas na história da televisão. O seriado mais popular da TV a cabo americana, ‘Família Soprano’ é uma força a ser levada em conta em toda a paisagem do meio televisivo e até mesmo da cultura mais ampla. Não existem duas pessoas mais importantes em conduzir essa viagem do que Chase, que participou de todos os episódios dos sete anos do seriado, e Gandolfini, três vezes premiado com o Emmy de melhor ator, que infundiu vida visceral e pungente ao personagem Tony Soprano.


Em entrevista concedida nos estúdios Silvercup, no Queens, onde são rodadas cenas de ‘Família Soprano’, os dois analisaram o homem fascinante, volátil e repleto de conflitos que criaram. Tão lacônico em pessoa quanto é volúvel no seriado, Gandolfini falou: ‘Odeio dizer isto, mas neste momento existe uma certa indefinição’. Chase interveio: ‘O interessante é que ser você mesmo é uma espécie de indefinição’.


Uma coisa que os dois já sabem ao certo é que a viagem de ‘A Família Soprano’ está chegando ao fim. Após anos de especulação, Chase e os executivos da HBO concordaram que a próxima temporada de 12 episódios, que começará a ser exibida nos EUA em 12/3, seria a última -mas renegociaram e inseriram uma minitemporada de oito capítulos, que irá ao ar a partir de janeiro de 2007.


James Gandolfini descreveu os episódios adicionais como ‘prorrogação’, algo que lhe permitiu adiar por algum tempo a reflexão sobre o que esse fim irá significar.


Embora não aparentem ser especialmente íntimos, fica claro que Chase e Gandolfini se sentem à vontade um com o outro, fazendo piadas sobre momentos desses últimos sete anos de trabalho criativo conjunto. A colaboração não foi do tipo que se ouve falar com freqüência na televisão, em que o astro começa a ditar tramas e traços do personagem. ‘Alguns atores fazem sugestões sem nem saber porque as estão fazendo’, disse Gandolfini. ‘Se começasse a impor minhas idéias, seria o pandemônio total.’


Chase esteve a maior parte de sua carreira pré-’Família Soprano’ em seriados de TV, por isso falou com base em anos de experiência quando explicou: ‘Os atores às vezes dizem ‘meu personagem não diria tal coisa’. Quem falou que é seu personagem?’ Gandolfini riu, e Chase acrescentou: ‘Jim nunca disse algo assim’.


Entretanto, Gandolfini já fez contribuições importantes -em especial, observou Chase, ao transmitir apenas com seus olhos, a sensação da profundidade emocional existente por trás da presença física ameaçadora de Tony.


Então como ‘Família Soprano’ vai terminar? Chase não revelou nada, é claro, exceto por reafirmar que ‘será o fim absoluto’. Mas, acrescentou: ‘Não posso prometer que a gente não volte e ainda faça um filme. Pode ser que dentro de três ou quatro anos eu esteja sentado em algum lugar e tenha uma idéia para um filme fantástico. Não imagino que isso vá acontecer. Mas, se um dia alguém acordasse e dissesse que isso daria uma história ‘Sopranos’ ótima, não excluiria essa possibilidade.’


Gandolfini tem planos tênues para seu primeiro trabalho pós-’soprano’. Ele pensa em protagonizar um filme sobre a vida de Ernest Hemingway na meia-idade.’


INTERNET
Marcelo Coelho


Duas ou três idéias sobre a internet


‘Pais e mães plugados na internet não precisam se preocupar. Alguns berçários e escolinhas maternais oferecem, graças a webcams espalhadas em toda parte -do escorregador ao tanque das tartarugas, do setor de peniquinhos à sala da diretoria- , a possibilidade de acompanhar em tempo integral, on-line, as atividades das crianças.


A idéia poderia ser adaptada para os nossos presídios, reconhecidamente falhos quando se trata de vigiar o comportamento dos internos. Quem sabe, para diminuir os custos, o Estado pudesse comercializar a exibição do que viesse a acontecer nas celas: eis um ‘reality show’ e tanto, para passar no horário da madrugada.


Volto depois ao tema dos presídios. Estava falando da pré-escola, passo agora ao primeiro e segundo graus. Um novo problema para os professores, nas classes de adolescentes, é o uso indiscriminado do celular. Não que os alunos fiquem falando no telefone enquanto o mestre se esfalfa lá na frente. Segundo reportagem publicada há alguns dias no ‘Estado de S. Paulo’, a desatenção e a indisciplina se fazem com mais insídia, em silêncio. São os joguinhos, os torpedos, as conversas pelo MSN o que dispersa a classe, inutilmente congregada entre quatro paredes.


Entre os adultos, comportamentos semelhantes não são novidade. Profissionais diante de um terminal de computador podem fingir que estão trabalhando, enquanto imergem nas salas de bate-papo. Inventaram-se dispositivos contra isso e, provavelmente, os antídotos desses dispositivos. Trata-se de outro tipo de vírus, na verdade, a sabotar os interesses industriais. Não existem só os que chegam por e-mail, atingindo o software eletrônico; há os que atingem, se podemos dizer assim, o software humano.


Como o consumo de álcool ou a destruição física das máquinas, característica dos primeiros movimentos contra a disciplina industrial no século 19, o vício dos joguinhos e dos chats constitui um dos muitos recursos que a estupidez inventa para preservar, entre escravos, alguma sensação de liberdade. Preso a tarefas burocráticas, o funcionário deixa alegremente que a internet roube o seu tempo, para não entregá-lo ao empregador.


É assim que, atualmente, a desatenção se tornou uma espécie de rebeldia. No trabalho, tanto quanto nas escolas, a presença física do funcionário ou do aluno não garante nada no que diz respeito à sua dedicação real.


Do mesmo modo, vai ficando antiquada a idéia de que guardar alguém entre quatro paredes equivale a extinguir sua periculosidade. Claro que o uso de celulares pelos presidiários tem de ser reprimido de qualquer modo; mas esta exigência é um sinal de que, aos poucos, a liberdade humana deixa de estar associada ao poder de entrar e sair de um lugar qualquer. Mais do que encarcerar um ser humano dentro de um cubículo, privá-lo da liberdade hoje em dia significa desconectá-lo, isolá-lo do espaço virtual.


Ou então conectá-lo mais ainda. Chips introduzidos na própria carne dos condenados permitem o acompanhamento de suas atividades à distância. Dispositivos simétricos estão, ao que se noticia, à disposição de milionários, permitindo seu rastreamento em caso de seqüestro.


Descrevo ainda um ou dois fenômenos do mesmo gênero, antes de arriscar uma conclusão. Por toda parte, circulam pessoas com fones de ouvido, ligadas a um iPod ou sei lá que outra geringonça, mentalmente alheios ao espaço físico que compartilham com seus semelhantes. Com o celular não é diferente.


A última novidade nessa área é o carro que já vem com aparelho de DVD; ouvir música ou falar no celular não é bastante para quem está no trânsito ou na estrada, e as crianças no banco de trás podem, agora, seguir uma viagem mental rumo a outros destinos.


Que significam todos esses exemplos? Não se trata de dizer, apenas, que, com o progresso tecnológico, as distâncias diminuíram, que a troca de informações se acelerou. Nos casos que relatei, está em jogo outra coisa: os próprios conceitos de ‘presença’ e de ‘ausência’ se tornaram problemáticos. Uma pessoa pode estar sentada ao nosso lado e ser, simultaneamente, inencontrável. Paralelamente, os pais que se ausentam de uma escolinha não deixaram de estar, o tempo todo, plugados nas atividades de seus filhos.


O desaparecimento da distância, assegurado pelos meios eletrônicos, faz com que ninguém, na verdade, esteja totalmente separado nem totalmente próximo dos seus semelhantes; não está ausente, quando se afasta, nem presente, quando está junto.


Não sei qual psicólogo ou filósofo disse isso primeiro, mas aqui vai: é a partir da ausência, da separação, que o ser humano começa a simbolizar. Um símbolo só se cria ‘no lugar’ de algo que está fora de nosso alcance, que se recusa a aparecer instantaneamente para nós. Uma tela de computador -para não falar do monitor da TV ou do celular- apressa cada vez mais, até levá-los ao curto-circuito, os processos de espera, de elaboração, de mediação imaginativa a que estávamos acostumados.


Décadas atrás, já se reclamava do uso de calculadoras eletrônicas; muitas pessoas, hoje em dia, ignoram totalmente as operações aritméticas mais simples. Outras operações mentais talvez estejam indo pelo mesmo caminho. Não sei até que ponto decorar a tabuada é essencial ao ser humano; não mais, talvez, do que as antigas bolas de ferro que se prendiam aos pés dos condenados.


Mas pode ser que a comparação valha ao contrário: todos nós, como prisioneiros, andamos de cá para lá amarrados a nossos aparelhos, laptops, palmtops, celulares e fones de ouvido, aos quais devotamos um amor, uma gratidão, uma fidelidade digna de cães.’


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O Globo


Quarta-feira, 28 de fevereiro de 2006


MÍDIA & POLÍTICA
Zuenir Ventura


Começou o ano. Começou?


‘Já ia escrevendo que com o fim do horário de verão e o término do carnaval o ano finalmente iria começar hoje. Mas aí me lembrei de que logo mais haverá a festa da escola de samba vencedora, que deve varar a noite, e no sábado acontecerá o desfile das campeãs. Decididamente, não se faz mais quarta-feira de cinzas como antigamente. Isso no Rio, uma cidade comedida. Imaginem em Salvador, Recife, Olinda, onde a festa começa antes e só pára depois, se é que pára. Parar por quê?


Este ano parece que Brasília também vai entrar no clima – não propriamente a cidade, mas um certo palácio da capital, onde surgiram inesperados motivos para comemorações. 2006 pode ainda não ter começado, mas promete muitas surpresas, principalmente em política. Quem seria capaz de prever alguns meses atrás, no auge da crise que desmoralizou o PT e o governo, o alegre e generoso pré-carnaval que estava reservado para Lula?


Quando a pesquisa eleitoral CNT/Sensus anunciou que ele venceria folgadamente os dois possíveis candidatos tucanos se as eleições fossem hoje, tendência que iria se confirmar pelo instituto Datafolha na semana passada, os números favoráveis ao presidente pareciam tão incríveis que alguns os aceitaram com espanto, mas aceitaram, enquanto outros, movidos pelo espírito udenista ressuscitado, quem sabe, pela minissérie JK, desqualificaram o levantamento.


Em lugar de consultar especialistas e estudar as causas, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, preferiu duvidar e pediu uma auditoria ao Tribunal Superior Eleitoral. O prefeito Cesar Maia suspeitou mais ainda e falou em fraude. Mais do que dúvidas, os dois pareciam ter certeza. Lá bem no fundo se escondia o desejo de apelar para o tapetão, a fantasia golpista. Ainda bem que pelo menos o senador (o prefeito preferiu passar o carnaval em Lisboa) resolveu não insistir no erro e, diante de tantas evidências, acabou reconhecendo a nova pesquisa.


Embora se saiba o quanto esses números são efêmeros – como diz o lugar comum, pesquisa é apenas retrato de um momento – o episódio contém pelo menos uma lição para a oposição, a de que não se deve tripudiar sobre quem está por baixo. A política, diz a velha metáfora, é inconstante como nuvem. Embriagados com o fracasso do adversário, tucanos e pefelistas bateram em Lula como se ele fosse cachorro morto. Não era, ele está muito vivo, não apenas nos grotões e entre os pouco instruídos, como se alegou logo que começou a recuperar prestígio. Houve crescimento também para cima. A lição, porém, vale igualmente para o governo. Ainda que diga o contrário, Lula já está usando um salto mais alto. E o ano mal começou.’


DIREITOS AUTORAIS
Alessandra Duarte


Alguma coisa está fora da ordem da música


‘Não foi dessa vez que os músicos conseguiram explicar para a sociedade sua causa contra a presidência da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB). Uma passeata no centro do Rio que havia sido marcada para o começo do mês, em protesto contra a antecipação de eleições da presidência da entidade e a cassação do registro do violonista Eduardo Camenietzki, não aconteceu por falta de quórum – só apareceram cerca de 40 pessoas. A pouca mobilização é uma das questões que a classe pretende mudar com um show no próximo dia 27, nos Arcos da Lapa, e com a criação de uma associação, para dar representatividade legal ao movimento. Para o show, já estão confirmadas as presenças de Roberto Frejat e Sandra de Sá.


Músicos pretendem denunciar Ordem ao MP


Os músicos não fizeram a passeata, mas realizaram uma assembléia, na qual decidiram, além da criação da associação, a preparação de uma cartilha explicativa do movimento, que deve ser distribuída em locais de shows e repassada pela internet, provavelmente por mala direta. Com patrocínio da prefeitura, o show na Lapa, para o qual foram convidados Chico Buarque e Gilberto Gil, também deverá ser gravado em CD e DVD, para arrecadação, com a venda dos produtos, de recursos para o movimento.


Num ofício da OMB de novembro de 2005, ao qual O GLOBO teve acesso, a seção Rio da Ordem pediria votos (para sua chapa nas últimas eleições) ao Sindicato de Músicos do Rio, ‘para que haja cada vez mais introsamento (sic) com a OMB-RJ’.


– Essa cassação do meu registro não vai pra frente, porque, para ser apreciado em nível federal pela Ordem, falta incluir no processo minha defesa, o que a seção no Rio não quer fazer – acrescenta Eduardo Camenietzki, que protestou contra a eleição, dizendo ter contado apenas 14 eleitores por todo o dia de eleição em novembro.


Segundo o presidente da OMB no Rio, João Batista Vianna, a defesa de Camenietzki não foi incluída no processo de cassação por ele não a ter enviado no prazo máximo de 30 dias:


– O registro dele foi cassado por falta de ética. Para nós da Ordem essa questão está encerrada. Eles não vão conseguir reunir nem dois mil músicos nesse movimento.


Os músicos do movimento (que se organizou no chamado Fórum Permanente de Música) pretendem entregar, aos ministérios do Trabalho e da Cultura, e ao procurador-chefe do Supremo Tribunal Federal, um abaixo-assinado com mais de 1.100 assinaturas (como as de Chico Buarque e Wagner Tiso). Devido a ações contra a OMB na Justiça, o STF está analisando a regulamentação da profissão.


Os músicos estudam ainda denunciar a Ordem ao Ministério Público federal. Também tramita no Congresso um projeto de lei, de número 2838/1989, de Max Rosenmman (PMDB-PR), que reforma a regulamentação da profissão de músico, mudando o funcionamento da Ordem. O projeto já foi aprovado pelas comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e de Trabalho e Administração do Serviço Público (CTAS) da Câmara.


– Além da mudança no modelo de eleição da Ordem, sugerimos pontos como o direito dos chamados músicos práticos, os amadores, a votarem nas eleições da OMB, e a inclusão dos DJs no registro da Ordem, já que ela não os reconhece como músicos – afirma o músico André Novaes, que tem carteira da OMB há 23 anos mas diz só ter sabido de uma eleição da entidade agora, com a polêmica da antecipação.’


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Exigência de deveres sem a defesa de direitos


‘Em julho de 2005, a presidência da OMB antecipou as eleições que seriam em novembro (segundo o presidente regional do Rio, João Batista Vianna, seguindo uma decisão de um juiz do Rio Grande do Sul, cujo nome não se lembra). O violonista Eduardo Camenietzki protestou, e teve o registro cassado, em processo que tramita na presidência da Ordem. O presidente nacional da entidade, Wilson Sândoli, está no cargo desde 1964; Vianna, desde 1982.


– Sândoli entrou como interventor e depois foi para a presidência. E se perpetua por seus votos de cabresto. É um ranço do militarismo – diz o compositor Tibério Gaspar. – Ele diz que convoca os músicos para as eleições, mas essa convocação é feita por notinhas no Diário Oficial e em jornais de pouca circulação, e da qual ninguém fica sabendo.


As eleições na Ordem são anuais, e feitas por terços: a cada ano, um terço da diretoria se elege (sendo que cada terço tem um mandato de três anos).


Segundo a advogada Deborah Sztajnberg, que tem clientes músicos, a principal queixa contra a OMB é a exigência do registro sem contrapartidas como defesa de direitos dos músicos (em litígios com gravadoras, por exemplo):


– Já entramos com diversas ações contra a entidade, e toda semana tem liminar da Justiça contra a OMB, dizendo não ser obrigatório o registro para que o músico se apresente. E a Ordem ainda usa de violência; já recebi várias reclamações do tipo ‘passou um fiscal da Ordem aqui no local do show, que disse que vai arrancar os instrumentos dos músicos, porque eles não têm carteira da entidade’.


Aconteceu com o cantor e produtor Rodrigo Quik:


– No festival Ruído de 2005, de bandas independentes, quatro homens chegaram lá exigindo a carteira da Ordem, e eu, do festival, fui advertido. É complicado, porque músico independente não tem dinheiro. Se a Ordem fizesse algo por nós… E essa carteira você tira depois de uma prova absurda de habilidade específica: na minha carteira está escrito ‘cantor e tecladista’, mas na prova só me pediram para batucar com a palma das mãos, e eu passei. É só você pagar.’


CARTOON MUSEUM
Fernando Duarte


Caricaturas tratadas como arte na Inglaterra


‘Caricaturas ultimamente têm sido o estopim para incêndios, tumultos e mortes por conta das polêmicas representações do profeta Maomé que tanto enfureceram muçulmanos pelos quatro cantos do mundo. Na quarta-feira da semana passada, porém, elas ganharam uma central de apreciação na capital britânica, com a abertura do Cartoon Museum, no bairro de Bloomsbury (e praticamente ao lado do imponente British Museum), em que 250 anos de história das charges britânicas estarão expostas, no que o curador, Oliver Preston, considera um justo tributo à habilidade de tirar sarro graficamente.


– Caricaturas nunca foram tratadas como arte, e já estava na hora de cartunistas terem um lar para que o público possa apreciar seus trabalhos. Especialmente porque charges são uma maneira muito mais eficiente de passar uma mensagem do que palavras – afirma Preston, numa declaração salpicada de mágoa, já que o museu não recebe verbas públicas e precisa de doações para funcionar.


O acervo do Cartoon Museum conta com 1.200 peças e uma biblioteca de três mil volumes, em que também serão realizados workshops para que adultos e criança arrisquem seus traços. Alguns dos itens mais interessantes são as primeiras caricaturas surgidas na mídia britânica, datadas de 1880, em especial os trabalhos de Gilray, criador de um dos primeiros personagens mais populares, o glutão John Bull.


Há também interessantes peças da época da Segunda Guerra Mundial, ainda que nelas sobre patriotismo onde falta humor. Não faltará gente para dar risada diante de charges mais modernas, como a fantástica caricatura de Chris Riddell, do jornal ‘Observer’, em que um obeso Tio Sam desdenha das acusações de que os Estados Unidos contribuem para o aquecimento global e diz que ‘só falta me convencer de que descendemos dos macacos’. O presidente americano George W. Bush, o ex-ditador Saddam Hussein e o presidente francês Jacques Chirac também são alvos dos caricaturistas.


Obviamente, diversas figuras famosas britânicas estão retratadas no museu, como o primeiro-ministro Tony Blair e a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher. Especialmente a rainha Elizabeth II, que invariavelmente ganha dentes enormes na interpretação dos artistas. Não deixa de ser curioso que seu marido, o duque de Edimburgo, seja o patrono do Cartoon Museum. A instituição, porém, pertence ao Cartoon Art Trust, que anteriormente expunha seu acervo numa acanhada instalação. Mesmo assim, as peças foram vistas por milhares de visitantes nos últimos anos.


– Esse é um museu da gargalhada e um dos poucos em que as pessoas saem menos aborrecidas do que quando entram – brinca Lord Baker, ex-ministro do Interior e fundador da organização.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 28 de fevereiro de 2006


PLÁGIO DE DAN BROWN
O Estado de S. Paulo


Julgamento de Dan Brown é adiado


‘O julgamento de Dan Brown, autor do best-seller O Código da Vinci que está sendo acusado de plágio, foi adiado para terça-feira. Michael Baigent e Richard Leigh, autores de Holly Blood, Holly Grail (O Santo Graal e a Linhagem Sagrada), afirmam que Brown copiou a tese central do livro que escreveram em 1982. O juiz quer tempo para estudar as duas obras e analisar se houve plágio.’


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Lost tem mais um concorrente


‘Embalados pelo sucesso de Lost, diversos seriados com temas de mistério chegaram à telinha americana no ano passado. Aqui no Brasil já existem alguns exemplares como Invasion e Supernatural, ambas do Warner Channel. Agora, é a vez do Universal Channel investir no gênero e estrear, no dia 17, às 23 horas, o seriado Surface.


No piloto são apresentados diversos personagens – de núcleos diferenciados – e um mistério. Desta vez, o monstro é marinho. Tudo começa com a descoberta de fatos misteriosos no mar. Diferentemente de Invasion, os estranhos eventos são observados em diferentes pontos dos Estados Unidos pelos personagens centrais. Há uma bióloga, um pesquisador, um pescador, uma criança…


No elenco estão Lake Bell (Boston Legal e The Practice), como a dra. Laura Daughtery; Jay R. Fergunson, como Richard Owen; e Carter Jenkins, como Miles Barnet. O grande astro é o ator croata Rade Serbedzija, que participou dos filmes Antes da Chuva, De Olhos bem Fechados e Stigmata. Ele vive o misterioso dr. Aleksander Cirko, o caçador do monstro marinho.


A trama é envolvente pelo mistério, pelas cenas de suspense e pela variedade de personagens. Quase exatamente como Lost – faltam o ineditismo e a riqueza de histórias.


COMÉDIA


Saindo do baú do suspense, o Warner Channel coloca no ar uma das poucas sitcoms lançadas na última safra de séries nos EUA. Freddie, protagonizada pelo astro do cinema Freddie Prinze Jr., chegará ao canal depois de amanhã, dia 3, às 20 horas. Na comédia, Freddie Moreno, um garoto solteiro que está aproveitando sua independência, perde toda a liberdade quando é obrigado a dividir seu apartamento com quatro mulheres de gerações diferentes.’


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