Wednesday, 11 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1317

Fernando Duarte

‘A BBC anunciou ontem uma série de novas regras editoriais para se prevenir de confusões como a que foi causada por uma reportagem na qual o governo Tony Blair foi acusado manipular informações de inteligência para justificar a participação britânica na invasão do Iraque.

A reportagem – no programa de rádio ‘Today’, em maio do ano passado – provocou sérios problemas para o conglomerado estatal de mídia e para o governo, dando margem até a especulações sobre cortes no financiamento das operações da estatal, sustentada com dinheiro público, por meio de um imposto sobre casas que têm aparelhos de TV.

De acordo com um relatório da BBC, preparado por uma equipe coordenada por Ron Neil, ex-diretor de jornalismo do grupo, histórias polêmicas com base em depoimentos de uma única fonte não apenas terão de passar por uma série de checagens extras como os editores poderão exigir que repórteres e produtores revelem suas fontes a superiores antes de as histórias irem ao ar.

Pela primeira vez desde sua fundação, em 1922, a BBC terá equipes de advogados em seus estúdios e criará uma espécie de universidade interna, que treinará seus funcionários e estará ainda à disposição de empresas de mídia internacionais.

Em janeiro, um inquérito inocentou o governo das acusações feitas na reportagem e e concluiu que a BBC pôs no ar alegações sem fundamento, ferindo ainda o código de conduta do funcionalismo público. A decisão provocou a renúncia de seu presidente, Gavyn Davies, do diretor-executivo, Greg Dyke, e do autor da reportagem, Andrew Gilligan.

Neil, chamado para chefiar uma espécie de comitê de reavaliação da situação da BBC, afirmou ontem, em comunicado: ‘O inquérito marcou a maior crise da BBC em seus mais de 80 anos de história e nosso compromisso de aprender e nos fortalecermos com nossos erros é uma prova de força, não de fraqueza’.

BBC planeja lançar TVpara países árabes

Já o novo diretor-geral do grupo, Mark Thompson, ressaltou que as novas regras são também uma garantia ao público do compromisso da BBC com a verdade. Ainda assim, a decisão foi recebida com apreensão pela União de Jornalistas Britânicos (NUJ), para a qual o pacote de regras fere o direito profissional e legal de proteção das fontes.

– O direito de proteger as fontes não apenas é garantido pela lei britânica, mas também pela União Européia – disse o diretor da NUJ para Rádio e TV, Paul McLaughlin

A BBC anunciou ontem ainda que planeja lançar um canal de TV em língua árabe a pedido do Ministério do Exterior. A emissora transmitiria sua programação para o Oriente Médio e a Europa, competindo com a TV qatariana al-Jazeera, que os EUA e a Grã-Bretanha acusam de ser porta-voz de terroristas.

A al-Jazeera tem divulgado vídeos enviados por terroristas que mostram reféns sendo ameaçados. A al-Hurra, TV em língua árabe lançada pelos EUA, tem tido dificuldade para ganhar credibilidade.’



Último Segundo

‘EFE: BBC estabelecerá escola de jornalismo depois do ‘caso Kelly’’, copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 26/06/04

‘A BBC estabelecerá uma escola de práticas jornalísticas para seus funcionários em resposta às críticas contidas no relatório Hutton sobre o chamado ‘caso Kelly’, informou hoje, quarta-feira, a rede pública britânica.

A criação desta instituição faz parte de uma série de reformas que serão implantadas depois da polêmica gerada por uma notícia da BBC, que no ano passado acusou o governo britânico de exagerar a ameaça iraquiana para justificar a guerra do Iraque.

As reformas são baseadas nas recomendações contidas em um relatório divulgado hoje, elaborado pelo ex-diretor de jornalismo da BBC Ron Neil, sobre o que deve ser corrigido depois do ‘caso Kelly’, que no ano passado criou uma polêmica entre o governo e a rede.

A fonte da notícia foi o especialista em armas David Kelly, que se suicidou em julho do ano passado perto de sua casa em Oxfordshire, no sul da Inglaterra.

Ao divulgar seu relatório sobre a morte do especialista em janeiro, o juiz Brian Hutton exonerou o governo e considerou ‘infundadas’ as críticas contra este contidas na informação da BBC, difundida pelo jornalista Andrew Gilligan no dia 29 de maio de 2003 no programa ‘Today’, da Rádio 4.

Gilligan baseou sua informação em uma única conversa que teve com David Kelly, especialista do Ministério britânico da Defesa.

O relatório de Ron Neil também destaca hoje que a BBC deve continuar elaborando histórias baseadas em uma única fonte, mas sempre que se tratar de um assunto de grande interesse público.

A audiência deve receber informação precisa, enquanto as histórias elaboradas de fontes anônimas deverão ter um ‘maior controle editorial’, afirma o documento.

Segundo Neil, nas práticas deve-se insistir nas anotações precisas e confiáveis, enquanto é primordial demonstrar transparência no jornalismo da BBC.

De acordo com as recomendações, é necessário impulsionar um sistema de esclarecimento e correção de erros.

Como o maior empregador de jornalistas no Reino Unido, a BBC tem a obrigação de impulsionar o debate sobre o nível do jornalismo e a ética na difusão, acrescenta o relatório.

Neil define os valores do jornalismo da BBC como busca da verdade, precisão, imparcialidade, diversidade de opiniões, independência, responsabilidade e interesse público.

O diretor de jornalismo da BBC, Richard Sambrook, disse hoje que o ‘comitê executivo e a junta de diretores (da rede) aprovaram todo o relatório e o implementarão em sua totalidade’.

Segundo a rede, serão investidas milhões de libras para criar uma escola de práticas jornalísticas, que deve entrar em funcionamento dentro de dezoito meses.

Depois das devastadoras críticas contidas no relatório Hutton, o então diretor-geral e o presidente da BBC, Greg Dyke e Gavyn Davies, respectivamente, apresentaram suas demissões. (c) Agencia EFE’



Folha de S. Paulo

‘BBC planeja canal de notícias em árabe’, copyright Folha de S. Paulo, 25/06/04

‘A rede BBC afirmou ontem que pretende lançar um canal de notícias 24 horas em árabe para concorrer com as TVs Al Jazira (Qatar) e Al Arabiya (Dubai). A emissora britânica está ainda negociando com o governo.

Além do Oriente Médio, o público árabe no Reino Unido e na Europa poderá assistir à programação, que terá notícias, debates e documentários, segundo a BBC.

A emissora estatal disse que está discutindo o projeto com a Chancelaria britânica, que também provê os recursos para o serviço mundial de rádio da rede. Como as negociações ainda não terminaram, a BBC não divulgou detalhes do projeto.

‘Após as discussões sobre as mudanças no cenário da mídia no Oriente Médio e à luz do crescente impacto dos serviços de TV regionais em árabe, a Chancelaria pediu à BBC para desenvolver uma proposta para uma TV árabe’, declarou a rede. ‘Os detalhes ainda estão sendo discutidos.’

O projeto está nos estágios iniciais de seu desenvolvimento e não há previsão de quando o canal será inaugurado.

A BBC chegou a comandar uma canal de TV em língua árabe na década de 1990, mas ele foi fechado dois anos depois, em 1996, devido a problemas de censura à sua programação e controle editorial.

No mesmo ano, surgiu a Al Jazira, que recrutou ex-funcionários da BBC árabe e hoje tem grande impacto na região.

O futuro canal irá rivalizar com a rede qatariana -que ganhou popularidade e reconhecimento internacional durante a Guerra do Afeganistão (2001), quando ofereceu ao mundo uma cobertura sob a ótica árabe. A Al Jazira é acusada de ser porta-voz dos extremistas -já transmitiu diversos discursos do terrorista Osama bin Laden, líder da Al Qaeda- e de ter uma programação antiocidental e anti-Israel.

A nova TV será transmitida de Londres, mas o canal terá uma equipe baseada em países do Oriente Médio. A iniciativa segue o lançamento do canal de TV Al Hurra (‘A Livre’), rede patrocinada pelo governo americano dirigida ao público árabe. O canal transmite sua programação 24 horas por dia em 22 países.

Apesar de se declarar independente editorialmente, a Al Hurra vem enfrentando críticas. Para o jornal sírio ‘Tishrin’, ‘o canal é parte de um projeto para recolonizar os árabes’. Em contrapartida, os EUA afirmam que os serviços de notícias árabes incitam à violência, deturpando os acontecimentos no Iraque. Com agências internacionais’

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‘BBC muda diretrizes de seu jornalismo por causa de escândalo envolvendo guerra’, copyright Folha de S. Paulo, 24/06/04

‘A rede britânica BBC anunciou ontem que adotará novas diretrizes de jornalismo em resposta às críticas contra seus padrões em um processo envolvendo o escândalo David Kelly, no ano passado.

O diretor da estatal britânica, Mark Thompson, afirmou que a rede adotará imediatamente as recomendações do relatório de uma comissão internacional que, entre outras coisas, sugere diretrizes rígidas para reportagens ao vivo, uso de fontes anônimas e anotações durante a apuração jornalística.

Problemas em todos esses pontos vieram à tona na reportagem de Andrew Gilligan, ex-funcionário da BBC que, usando como fonte um funcionário do governo cujo nome não era revelado, acusou o gabinete do premiê Tony Blair de ter manipulado informações e tornado ‘mais sexy’ um dossiê sobre a ameaça representada pelo ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, em 2002.

Durante a disputa com a BBC, o governo revelou que a fonte era o conselheiro da Defesa David Kelly, que se matou após ser identificado. O caso derrubou a cúpula da BBC.’