Saturday, 05 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Gilson Caroni Filho

‘Navegar é preciso, conviver quase impossível. Em tempos de capital desterritorializado e novas mídias criando subjetividades requeridas pela acumulação contemporânea, é preciso atualizar o poeta. Mais que isso, é necessário revisitar o significado de termos como comunidade e amizade. A primeira, independentemente do prisma sociológico escolhido, sempre foi compreendida como um lócus territorial específico. Seja como unidade sócio-cultural ou agregado biológico, os elementos definidores sempre foram sua materialidade e participação efetiva dos membros constituintes. A segunda, a enaltecida palavra amizade, significava, até então, processo de afetividade recíproca. Algo construído com cumplicidade e reconhecimento do outro como sujeito dotado de direitos e desejos..

Mas os novos tempos não são alentadores. A ordem societária do neoliberalismo não comporta projetos coletivos e utopias que lhes ameacem os axiomas. Solicita relações fragmentadas, atomizadas. Uma identidade de espelho partido. Em meio à circulação indiferente de códigos e à autonomia das coisas em relação às idéias, a inteligibilidade do mundo se evapora. Resgatá-la como totalidade, ocultando as fraturas permanentes da sociedade de classes, é, como destacou Guy Debord, função do espetáculo. Urge dar às pessoas o simulacro do que lhes falta na vida real. Quando a anomia se transmuta em regra, os dispositivos técnico-digitais agenciam uma sociabilidade tão precária quanto frenética. Nunca se buscou tão pouco, nunca foram tantos os sites de busca.

É nesse contexto, de vazio político-filosófico, que surge a febre do Orkut, ferramenta ligada ao império Google. Definido como site de relacionamentos, abriga uma contradição em termos: a expressão ‘comunidades virtuais’. O que seriam tais entidades? Não-lugares que primam pela ausência de interação? Espaços que independem da subjetividade dos seus membros? Falsas constelações sem imaginário e história? Agrupamentos que se definem pela identidade no consumo? Pergunta ao usuário: o que é pertencer a uma ‘comunidade do Orkut’? Seria acessar o hábitat do fetiche da mercadoria? E se houver algum imprevisto do tipo bad, bad server. No donut for you? A reprodução social passa pela infantilização eterna. Criança não quer política. Contenta-se com docinho

Exacerbando as tendências comportamentais da sociedade contemporânea, o Orkut acaba por produzir o oposto do que promete: a capacidade de resgatar e ampliar o círculo de amizades. Na verdade, o que se observa é uma compulsividade acumulativa. O que era um processo envolvendo concordância de sentimentos, apreço pelo outro, relação reinventada diariamente, torna-se, no universo do Google, uma mera operação de adição. Ostentação curricular de prestígio social. Competitividade deslavada. Com certificado de qualidade que vem sob a forma de testimonial. Nunca a solidão agregou tanta euforia. E uma fantástica coleção de retratos. A impossibilidade constitutiva de se ter mais de 100 amigos é um detalhe a ser ignorado. Deveriam ter aprendido com o Show de Truman que o horizonte termina na parede.

Bons os tempos que os amigos eram raros e cultivados. Hoje, como simulacros, são adicionáveis e devem ser guardados do lado direito da tela. E pouco importa o que digam o tempo e a distância. A canção deve ser esquecida. Nunca fomos tão felizes.

Em tempo: O autor deste artigo recebeu convite e se cadastrou no site. Para melhor vivenciar a dinâmica, aceitou pedidos de adição e escreveu testemunhos. Visitou algumas das ditas comunidades e selecionou três para compor o perfil do usuário. Jamais participou de nenhuma, posto que o significado mais exato da palavra participação e a proposta do Orkut são incompatíveis. Guarda apreço, pelo fato de conhecer pessoalmente, por todas as pessoas que lhe enviaram mensagens nesse período. (Gilson Caroni Filho é professor-titular da Facha)’



SBT
Keila Jimenez

‘Livro conta bastidores do SBT’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/10/2004

‘Histórias de bastidores do Programa Silvio Santos, do Domingo Legal, de emissoras como Excelsior, Globo e SBT. Esse é o recheio do livro que o diretor de TV Roberto Manzoni – Magrão, como é conhecido no meio – pretende lançar. Batizado inicialmente de Bastidores da TV, o livro vai reunir histórias do diretor que durante anos foi braço direito de Silvio Santos e, mais tarde, de Gugu Liberato.

‘Comecei na TV em 1966 e já fiz de tudo. Já fui de técnico a diretor de Programação. Tenho histórias curiosas, que pouca gente conhece.’ A idéia de contar um pouco de tudo que viu por trás das câmeras é antiga, mas só agora ele resolveu tocar para frente. ‘Fui incentivado pela minha assessora, a Ana Maria Lattes’, diz ele.

O diretor, que deixou a Bandeirantes há poucos meses, já começou a reunir casos e fotos para a sua publicação. Entre eles, há histórias engraçadas como as trocas na programação que Silvio Santos fazia de surpresa, prática que o dono do SBT mantém até hoje.

‘Ele pegava os filmes e mudava os títulos internacionais, não traduzia não, mudava mesmo’, conta Manzoni, rindo. ‘Um clássico é Madame X, que depois de Silvio assistir passou a se chamar Odeio Minha Mãe (risos). O filme foi assim para o ar’, conta ele. ‘Brincamos que se Silvio compra-se Ben-Hur, o filme iria ao ar como O Charreteiro do Rei.’

Manzoni lembra-se com carinho das gravações externas que fez com SS na Globo e das primeiras entrevistas internacionais que conseguiu para o Domingo Legal.

‘Me lembro da primeira vez que vi a Leila Diniz na minha frente. Eu era um garotão e não conseguia nem olhar para ela de tão nervoso’, conta. ‘Vou escrever capítulos especiais para os anos que dirigi o Domingo Legal, vou contar um pouco dos bastidores do programa, da guerra de audiência com o Faustão e sobre os amigos e as desavenças que tive ao longo desses anos.’

Esses ‘espinhos’ no caminho de Manzoni, por sinal, devem ganhar um tratamento especial no livro, afinal, o diretor não é de levar desaforo para casa. ‘Não vou fazer intriga, vou contar histórias’, garante ele. Além do livro, que Manzoni pretende lançar até o início do ano que vem, o diretor também está fazendo palestras sobre sua trajetória na TV.’



Daniel Castro

‘Autor do SBT prepara ‘Trilogia do Poder’’, copyright Folha de S. Paulo, 15/10/2004

‘A minissérie de Doc Comparato que o SBT começa a gravar em novembro deverá ser a primeira de uma trilogia ambientada em palácios que representam diferentes fases da história do Brasil e estrelada pelos ‘donos do poder’ de suas épocas. O projeto idealizado por Comparato (ex-Globo) leva o título de ‘Trilogia do Poder’ e inclui as minisséries: ‘O Palácio’, ‘O Catete’ e ‘O Planalto’.

‘O Castelo’ (que estréia no início de 2005) se dará nos corredores do palácio onde funciona hoje o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio, e será estrelada por seu mais ilustre morador, d. Pedro 1º, numa trama passada entre 1807 e 1820.

A segunda terá como cenário o Palácio do Catete, também no Rio, residência oficial de 18 presidentes do Brasil republicano, entre 1897 e 1960, segundo a RioTur. Foi lá que viveu e se suicidou Getúlio Vargas. A terceira história abordará o Brasil pós-1960, no Palácio do Planalto, em Brasília.

Por enquanto, o SBT só abraça a produção de ‘O Castelo’. Comparato acha que, se ela vingar, as outras duas também emplacam.

O roteirista afirma que as minisséries terão ‘uma visão pessoal sobre a história’, serão ‘uma visita ficcionista ao passado’. ‘A história do Brasil sempre foi tratada com galhofa ou desprestígio’, diz. ‘D. Pedro 1º não foi um débil mental. Foi um gênio político, moderno para sua época. E nasceu com uma maldição.’

OUTRO CANAL

Holofote 1

Até para chamar a atenção para a ‘mobilização’ que pretende fazer domingo, conclamando o telespectador a desligar a TV entre 15h e 16h, a campanha Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados, divulgou ontem um novo ranking da baixaria, com 374 denúncias recebidas desde maio.

Holofote 2

João Kléber, da Rede TV!, aparece absoluto em primeiro lugar. As novidades são ‘Senhora do Destino’ (Globo), em quarto, ‘Casa dos Artistas’ (SBT), em nono, e as ausências do ‘Domingo Legal’ (SBT) e do ‘Domingão do Faustão’ (Globo).

Abafa

As produções dos programas da Rede TV! caíram como urubus sobre Luciana Gimenez, querendo explorar ao máximo o romance dela com Marcelo de Carvalho (vice-presidente e sócio da emissora), finalmente assumido por ela numa revista. Receberam como resposta um ‘abafa o caso’. E pegaram leve.

Bancada

Marcos Hummel (ex-Band) foi contratado pela Record. Apresentará, a partir de segunda, o ‘Fala Brasil’, ao lado de Janine Borba, que deixa o ‘Tudo a Ver’ só para Paulo Henrique Amorim.

Première

‘Copacabana’ (2001, de Carla Camurati) e ‘Perfume de Gardênia’ (1992, de Gulherme Almeida Prado) disputam hoje a exibição, segunda, do primeiro ‘Intercine Brasil’, da Globo.’



TV PAGA
Renato Cruz

‘TV paga retoma planos de investimento’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/10/2004

‘Depois de dois anos sem investir, o setor de TV por assinatura começa a retomar a instalação de novas operações. Enquanto a Net e TVA concentram-se na digitalização de suas redes em São Paulo e no Rio de Janeiro, outros grupos voltam seus olhos para o interior e reativam antigas licenças, até então sem uso. A Neo TV – associação para a compra de programação que reúne operadoras que não fazem parte do grupo Net – registra entre seus associados 44 operações em andamento. ‘As empresas estão voltando a construir redes’, afirmou Neusa Risette, diretora geral da Neo TV, que tem 51 associados, com 130 operações em funcionamento.

A maioria dos projetos de investimento deve decolar mesmo no ano que vem, com foco no interior do País. A Big TV, que tem hoje 12 operações em funcionamento, planeja construir mais 5 no próximo ano, com investimento de R$ 12 milhões. Em dezembro, começará a instalar a rede em Ourinhos (SP). Em fevereiro ou março será a vez de Itatiba (SP). As outras três cidades são Votuporanga, Fernandópolis e Avaré. Além disso, a companhia está reformando todas as redes em Cascavel, Cianorte, Guarapuara e Ponta Grossa (PR).

‘Estas operações, que compramos da Canbrás, são muito antigas’, explicou o presidente da Big TV, Guilherme Godoy Pereira. ‘Mesmo para o serviço de TV as redes apresentam alguns problemas. Vamos deixá-las prontas para oferecer também internet rápida e telefonia.’ A empresa comprou, no ano passado, cinco operações que pertenciam à Canbrás, cujos controladores canadenses saíram do setor brasileiro de TV paga.

A Big TV, que está entre as 5 maiores empresas de televisão por assinatura do País, planeja investir cerca de R$ 20 milhões nas operações no Paraná, trocando todos os cabos e os equipamentos na central. A companhia também planeja ampliar a infra-estrutura em cidades como Marília (SP), Maceió e João Pessoa, aumentando entre 10% e 20% o número de residências atendidas.

Para este projeto, a empresa vai investir R$ 3 milhões.

Nos 12 meses encerrados em junho, a base de assinantes do setor de TV paga aumentou 3,8%, somando 3,591 milhões, de acordo com a Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA). A retomada veio depois de três anos de estagnação. ‘Os novos investimentos têm tudo a ver com o crescimento da companhia’, disse Pereira. ‘Quando o desemprego está alto, caem imediatamente as vendas.’

Recursos – A Vivax, que disputa com a TVA o segundo lugar entre as maiores empresas do setor, planeja instalar operações em mais 3 cidades no ano que vem, com investimento de R$ 30 milhões. A empresa já está presente em 31 cidades, em São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas. Diferentemente da Net e da TVA, que possuem controladores especializados em conteúdo, os investidores da Vivax são especialistas em investimentos. ‘O negócio da turma é ganhar dinheiro’, disse Antonio João Filho, vice-presidente de Operações da empresa. ‘A empresa foi muito conservadora em se endividar.’

Ela vai retomar os investimentos com recursos próprios. Com a Big TV, acontece algo semelhante. A companhia pertence à Alusa, construtora e operadora de linhas de transmissão de energia. A Big TV vai combinar, nos novos investimentos, recursos próprios e financiamento direto dos fornecedores, recorrendo a bancos só para uma pequena parcela. A Vivax, ex-Horizon, também comprou operações que pertenciam à Canbrás.’



O Globo

‘TV a cabo perde US$ 3,6 bi com pirataria na AL’, copyright O Globo, 17/10/2004

‘Mais de oito milhões de pessoas na América Latina usam sem pagar a TV por assinatura, causando prejuízo de US$ 3,68 bilhões anuais ao setor, segundo pesquisa da Fox Entertainment Group divulgada na última sexta-feira.

Os brasileiros estão no topo dessa lista: deixam de pagar à indústria, por ano, US$ 1,44 bilhão. Depois vêm os mexicanos, com US$ 1,10 bilhão.

Para Rolando Lemus, diretor de Estratégia de Vendas da Fox Latin America, a pirataria na TV por assinatura se caracteriza por um círculo vicioso. Os usuários roubam o sinal, reduzindo o número de assinantes das operadoras, que vêem sua receita com publicidade minguar.

As operadoras também repassam menos aos provedores de conteúdo – como a própria Fox – desencorajando a criação de novos programas.

– Quem rouba TV a cabo aumenta o custo de manutenção de todo o sistema – disse Lemus, acrescentando que o setor cresce 4% ao ano na região, a metade do que deveria.

Na Argentina, a pirataria disparou no período de recessão, que culminou com a crise de 2002. No período, o setor perdeu cerca de um milhão de assinantes dos 5,5 milhões que tinha em 1998. Segundo a associação das operadoras argentinas, cerca de 20% das casas que têm TV por assinatura e não pagam pelo serviço.’