Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Manifesto defende a liberdade de imprensa

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre
Aspas.


 


************


Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 23 de setembro de 2010


 


IMPRENSA E POLÍTICA


Ato em São Paulo defende a liberdade de imprensa


Advogados, ex-ministros da Justiça, estudantes e outros manifestantes
pró-democracia participaram ontem em São Paulo de um ato em defesa da liberdade
de imprensa e de expressão.


O objetivo é barrar o que veem como uma ‘marcha para o autoritarismo’
promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Segundo os organizadores, a manifestação foi convocada em reação aos recentes
ataques a veículos da mídia por Lula e pela candidata petista Dilma
Rousseff.


O ato foi realizado no largo São Francisco, em frente à Faculdade de Direito
da USP.


Hoje entidades de militância pró-governo, como centrais sindicais, UNE (União
Nacional dos Estudantes) e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra),
com apoio do PT, realizarão um ato no Sindicato do Jornalistas de São Paulo
contra veículos da imprensa.


Ontem, foi lido um manifesto pelo advogado Hélio Bicudo, que foi um dos
fundadores do PT e deixou o partido em 2005, após o escândalo do mensalão.


De acordo com o texto, ‘é intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado
como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de
agressão a direitos individuais’.


‘É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem
abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários
de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um
partido político e seus interesses’, afirma o texto.


No evento, o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse que o
presidente Lula vem mostrando desrespeito às instituições do país.


‘No momento em que você quer limitar a liberdade de expressão você está
virando um aprendiz de ditador. Não vamos nos esquecer que a escalada de Chávez
[presidente da Venezuela] contra a imprensa começou assim.’


O jurista Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça do governo de FHC,
disse que Lula tem uma postura ‘fascista’ ao ‘usar o peso da Presidência da
República contra a liberdade de imprensa’.


O ato foi organizado por advogados ligados ao PSDB, que estimaram que o
público foi de 1.500 pessoas. A PM calculou que cerca cem pessoas participaram
do evento.


 


 


Ranier Bragon


Dilma afirma que jornais ‘exageram pesado’ contra ela


A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou ontem que jornais
‘exageram pesado’ contra sua candidatura, em algumas ocasiões, mas evitou dizer
se apoia ou não o ato contra a imprensa programado para hoje pelo PT e por
entidades de militância pró-governo.


A candidata começou dizendo que prefere a crítica ao ‘silêncio da ditadura’.
‘Da minha parte, a imprensa pode falar o que bem entender. Eu, o máximo que vou
fazer, quando achar que devo, é protestar dizendo: ‘Está errado por isso, por
isso e por isso’. Usando uma coisa fundamental, que é o argumento’, afirmou.


Em seguida, emendou uma brincadeira: ‘Sou absolutamente tolerante com vocês,
podem fazer o que quiserem. Se eleita, agora é a minha propaganda para a mídia,
vocês podem criticar o dia inteiro’.


Diante da insistência dos repórteres, entretanto, falou do suposto ‘exagero
pesado’ contra ela. ‘Não vou falar que tenha golpe midiático, só vou falar que
exageram um pouco. É só vocês lerem os jornais, tem hora que exageram pesado.
Mas o fato de exagerar pesado a mim não incomoda’, afirmou Dilma.


Ela usou como exemplo de procedimento que adotará o ataque que fez à Folha na
segunda, quando acusou o jornal de ser ‘parcial’ devido a reportagem sobre
irregularidades apontadas por auditorias do Tribunal de Contas do Estado em
atividades dela no Rio Grande do Sul.


Dilma também disse defender a exoneração de todas as pessoas indicadas pela
ex-ministra Erenice Guerra caso tenham obtido o cargo por causa de parentesco ou
amizade.


Dilma foi a responsável por levar Erenice -que perdeu o cargo de ministra da
Casa Civil na semana passada sob suspeita de tráfico de influência- ao
governo.


 


 


ELEIÇÕES 2010


Luiz Fernando Vianna


Tiririca é o show da vida


Fartamente repisado na imprensa nos últimos dias, o espanto com o sucesso da
candidatura Tiririca é um tanto espantoso.


Parece que não temos contato diário com o ninho de onde saiu Tiririca: a TV
aberta brasileira.


O humorista despontou e permanece em programas em que o riso nasce do
grotesco, a mesma matéria-prima de boa parte do que as grandes emissoras
veiculam.


Visto por dezenas de milhões de pessoas, o que é o ‘Domingão do Faustão’
senão um monturo de cenas violentas oferecidas ao sadismo coletivo, poluição
publicitária e, com exceções, música ruim? (O prefeito do Rio, Eduardo Paes, é
um político que elege as videocassetadas como o que há de melhor para ver, o que
diz muito sobre ele e sua classe.)


As alternativas dominicais na TV aberta são Silvio Santos, Gugu Liberato,
‘Pânico na TV’… Um brejo de tiriricas.


E, para ficar no mesmo dia da semana, ainda há o ‘Fantástico’, no qual alguns
momentos de bom jornalismo se misturam a tribunais extrajudiciais, reality shows
em que adultos berram com crianças e outras excrescências.


O horário eleitoral gratuito está compulsoriamente encaixado na grade das
emissoras. Não deixa de ser, portanto, um programa de TV.


No vazio da política em que vivemos, fenômeno global identificado pela perda
de credibilidade do sistema de representação e dos partidos -mas que é mais
profundo-, os protagonistas das campanhas são aqueles já reconhecidos pelo
espectador massificado e/ou os que dominam as armas do grotesco.


Em Rio ou São Paulo, já foram campeões de votos Agnaldo Timóteo, Clodovil,
Enéas… Neste ano, entre outras ‘celebridades’, serão Tiririca, Netinho,
Romário, Wagner Montes. Não adianta fazer cara de nojo. Eles são a zorra total
que deixamos esse país virar.


 


 


Simone Iglesias


TV do governo não dá acesso a imagens de Lula


A TV oficial do governo, a NBR, não respondeu ao pedido da Folha para ter
acesso às imagens gravadas do presidente Lula, a partir de junho, nos comícios
de campanha da candidata petista Dilma Rousseff.


O primeiro pedido foi feito anteontem, às 11h, por e-mail, para a assessora
de imprensa da estatal Adriana Motta. Ela respondeu às 17h56 do mesmo dia,
dizendo que a solicitação deveria ser feita ao diretor de Serviços, José Roberto
Garcez.


A ele foram enviados dois e-mails entre o fim da tarde de terça-feira e a
tarde de ontem. Não houve resposta até a conclusão da edição.


Reportagem da Folha publicada no início da semana mostrou que, por
determinação do governo, cinegrafistas e auxiliares da NBR gravam todos os
discursos de Lula nos eventos da campanha eleitoral.


A TV NBR é o canal da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) que noticia atos e
políticas do governo.


Contrato de prestação de serviços da NBR com a Secretaria de Comunicação da
Presidência estabelece que as gravações sejam disponibilizadas
‘indiscriminadamente’ a todos os veículos de comunicação.


O contrato da Presidência da República com a NBR estabelece que a transmissão
dos eventos da Presidência ao vivo ou gravados em áudio e vídeo ‘atende ao
preceito da democratização do acesso à informação’, com exceção de casos em que
o sigilo é determinado por lei.


O Ministério Público Eleitoral vai investigar se a NBR está sendo utilizada
na campanha eleitoral para filmar comícios da candidata com participação de
Lula.


 


 


GOVERNO


Simone Iglesias


No Planalto, Silvio Santos convida Lula para apresentar o programa
‘Teleton’


O proprietário do SBT, Silvio Santos, convidou ontem o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para apresentar a abertura do programa ‘Teleton’, que acontecerá
nos dias 5 e 6 de novembro.


O apresentador também pediu ao presidente uma doação de R$ 12 mil para o
programa -uma maratona televisiva com o objetivo de arrecadar dinheiro para
assistência de crianças com problemas de saúde.


Silvio Santos explicou que o valor pedido simboliza os 12 anos de programa.
Disse que Lula não deu resposta sobre se daria o dinheiro.


Segundo o apresentador, Lula não quis gravar participação no Teleton de
improviso, mas se comprometeu a pensar em uma forma de aparecer no programa.
‘Ele vai fazer a abertura, ele gosta e admira essa causa. Ele sempre é a favor
dos menos protegidos’, disse Silvio.


O dono do SBT também mostrou a Lula um vídeo em seu laptop em que o hoje
presidente participou do ‘Show de Calouros’, em 1989, quando concorria ao cargo.
‘Minha visita não é uma visita ao presidente, é ao Lula’, disse. No vídeo,
aparecem jurados do programa perguntado sobre a vida e a família de Lula.


Ao descrever o momento de espera para a audiência, Silvio acabou revelando
que o presidente teria uma reunião com o ex-ministro da Justiça e advogado
Márcio Thomaz Bastos, que não estava prevista na agenda oficial. Desde o governo
Itamar Franco que o apresentador não ia ao Palácio do Planalto.


Ao chegar e ao sair do palácio, Silvio foi abordado por visitantes e
servidores. Tirou fotos e chegou a se identificar aos seguranças na portaria
principal, que dispensaram que exibisse documentos.


O apresentador fez questão de passar sua mala pelo detector de metais e
comentou ser devoto da ‘Igreja Nossa Senhora da Plástica’. Disse que está com 80
anos, mas em boa forma física. A reunião com o apresentador não estava prevista
com na agenda oficial do presidente. Ela foi alterada minutos antes de Silvio
chegar ao Planalto.


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Diminuiu


De William Bonner, no ‘Jornal Nacional’: ‘Se a eleição fosse hoje, o índice
da candidata do PT, Dilma Rousseff, seria suficiente para elegê-la presidente no
primeiro turno. Segundo o instituto, porém, diferença de Dilma para os outros
candidatos diminuiu. Em uma semana, caiu de 12 para 7 pontos’.


Na manchete da Folha.com, ‘Vantagem de Dilma sobre rivais cai 5 pontos’. No
UOL, ‘Datafolha mostra Dilma com 49% e Serra com 28%’. E no G1, da Globo, ‘Dilma
tem 49%, e Serra, 28%, diz Datafolha’.


Sem dúvidas No ‘JN’, Serra apareceu no metrô prometendo ‘400 quilômetros de
metrô no Brasil’. Já na manchete da Reuters Brasil, disse que a falha no metrô
foi por interesse eleitoral. ‘Isso me parece, eu não tenho provas… mas me
parece algo provocado. Eu não tenho dúvidas que há interesse eleitoral por
trás’.


Sem diferenças Sob o título ‘Brasileiros não atentam às diferenças dos
partidos’, o ‘Financial Times’ ouviu FHC e apontou que Serra oferece a ‘retomada
da reforma do Estado’, inclusive ‘serviço público’, e Dilma promete ‘crescimento
lento’. ‘É escolha entre dois caminhos, mas ninguém está dizendo’, diz FHC.


//A OFERTA


A iminente ‘precificação’ da oferta de ações da Petrobras fechou o dia no
topo das buscas pelo Google News, com ‘Wall Street Journal’ -e o destaque de que
a ‘maior oferta de ações do mundo’ poderá levantar o dobro dos US$ 36,8 bilhões
que a japonesa NTT conseguiu em 1987.


Analista da Reuters, Michael Tarsala anotou as críticas à operação, mas deu
três razões para prever êxito, em vídeo (abaixo):


‘Um, o negócio é único para os grandes investidores -fundos soberanos, outras
companhias. Há 30 anos não se fazia descoberta tão grande. Dois, a estabilidade
do Brasil. Economia forte, consumo crescente e baixo risco de nacionalização.
Três, a proporção que a empresa pode atingir. A Petrobras pode ser a mais
importante companhia de petróleo do mundo.’


//FARRA CHINESA


Na home do ‘China Daily’, sobre reunião dos chanceleres de Brasil, Rússia,
Índia e China na ONU, ‘China quer maior cooperação entre os Brics’. O chanceler
Yang Jiechi chefiou o encontro, que tratou da ‘governança global’.


E a France Presse despachou, de Pequim, que a ‘China vai à farra das compras
na América Latina’ -sublinhando que ‘é o Brasil que está atraindo as empresas
chinesas em bando’, para investir em petróleo, ferro e infraestrutura.


‘China vs. EUA’ Com o título acima, o ‘New York Times’ destacou coluna de
Thomas Friedman que relatou, da China, um esquete na CCTV, sobre uma corrida com
quatro crianças -chinesa, americana, indiana e brasileira. A americana diz que
vai vencer, ‘eu sempre venço’. Mas fica para trás, e uma das outras diz, ‘ele
comeu hambúrguer demais’.


Turquia lá Na home do mesmo ‘NYT’, ‘Na ONU, a Turquia se afirma’. Usando o
‘palco da Assembleia Geral’, o país ‘agarrou a oportunidade’ e proclamou seu
‘objetivo de se tornar um líder no mundo muçulmano’. Mais precisamente, declarou
ser ‘a única nação que pode ter uma contribuição muito importante para a rota
diplomática com o Irã’.


//NO PALCO, ENTRE EUA E CHINA


O instituto americano Pew divulgou pesquisa feita no Brasil que resultou em
relatório de 39 páginas. Diz que ‘os brasileiros estão confiantes e otimistas
sobre o papel de seu país no palco global’. E que ‘tanto EUA como China têm
imagens positivas’. Os brasileiros veem ambos ‘como parceiros, porém as taxas
dos EUA são ligeiramente superiores às da China’.


 


 


PREMIAÇÃO


Três jornalistas da Folha recebem o Prêmio Comunique-se de 2010


Três jornalistas da Folha foram vencedores do Prêmio Comunique-se de
Jornalismo e Comunicação Empresarial de 2010. O evento ocorreu ontem, às 19h30,
no HSBC Brasil, em São Paulo.


Os vencedores da Folha foram: José Simão (categoria colunista de
opinião/articulista), Gilberto Dimenstein (jornalista de sustentabilidade) e
Tostão (categoria jornalista de esportes/mídia impressa).


O prêmio teve 27 categorias. A escolha dos vencedores foi feita por votação
on-line.


Também foram premiados os jornalistas Milton Leite, Tiago Leifert, Ricardo
Boechat, Ancelmo Gois, Pedro Bassan, Dorrit Harazim, Miriam Leitão e Caco
Barcellos, entre outros.


Confira a lista completa dos ganhadores no site www.comunique-se.com.br.


 


 


INTERNET


Criador do Facebook é quem mais fatura em lista da ‘Forbes’


Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, foi o bilionário americano que mais
faturou em um ano: sua fortuna mais que triplicou e chegou aos US$ 6,9
bilhões.


Ele está no 35º lugar da lista dos americanos mais ricos da revista ‘Forbes’
-que, de novo, é liderada por Bill Gates (US$ 54 bilhões), da Microsoft.


 


 


Financial Times


Sites aderem a botão Like do Facebook


O botão Like, criado pelo Facebook em abril, está ganhando espaço rapidamente
entre as empresas de comércio eletrônico e mídia, que viram saltos de tráfego e
de vendas depois de começar a utilizá-lo.


O botão permite que os usuários assinalem a sua afinidade por uma marca, um
item ou um produto, e transmitam essa informação na rede social. Desde que foi
criado, mais de 350 mil sites o instalaram.


‘O que vemos é o Facebook estendendo seus tentáculos por toda a internet’,
disse Jeremiah Owyang, analista do Altimeter Group.


O Facebook já é uma grande fonte de tráfego para muitos site populares,
conduzindo visitantes a outras páginas por meio dos links que seus 500 milhões
de usuários compartilham. Devido à facilidade de uso, o botão Like acelerou essa
tendência.


O IMDB, um banco de dados sobre cinema e filmes, viu o tráfego recebido do
Facebook dobrar depois que instalou o botão. Já no site de notícias da rede de
TV ABC, o tráfego cresceu 250%.


O Tea Collection, site que vende roupas infantis, está usando o botão para
permitir que usuários votem nos itens que desejam ver em promoção. Como
resultado, os modelos mais populares tiveram seus estoques esgotados em um dia,
e as vendas foram dez vezes acima da média.


Bret Taylor, diretor de plataforma do Facebook, disse que o botão tornou mais
fácil a divulgação viral do conteúdo de sites. ‘Trata-se de geração de demanda.
É como ver um anúncio e sair distribuindo cópias para os amigos.’


Agora, empresas estão descobrindo novos usos para o botão Like. O
TheFind.com, site de comparação de preços, na semana passada inaugurou uma seção
que refina resultados com base nos sites que o usuário tenha assinalado com o
botão Like.


O Facebook também será beneficiado. Quando usuários registram suas
preferências, o Facebook está sutilmente compilando um mapa da internet, o que é
parte da rivalidade cada vez maior entre a empresa e o Google.


Enquanto o Google indexa a web e emprega seu algoritmo para determinar o que
é mais relevante, o Facebook atribui essa função aos seus usuários.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


 


 


Flávia Marreiro


Twitter da esperança


A costureira venezuelana Rosa Maria Sambrano, 56, não tem e-mail e nunca
tinha se interessado pela internet. Conta, no entanto, que a maior alegria que
ela viveu no ano veio da rede.


‘Foi uma emoção muito grande. Meu presidente querido me respondeu, no dia do
aniversário dele’, diz ela, por telefone, de Barquisimeto (726 km de
Caracas).


Rosa Maria foi a ganhadora, em 28 de julho, aniversário de Hugo Chávez, da
espécie de loteria ou ‘porta da esperança’ em que se transformou a conta de
Twitter do presidente, criada em abril.


Chávez respondeu que a ajudaria, como ela pedira, a ingressar num programa
habitacional estatal. ‘Te ajudaremos, querida Rosa Maria!’


Os 140 caracteres de @chavezcandanga foram suficientes para que a mensagem
afetuosa fosse precedida de ordem menos simpática ao ministro do Interior, Tarek
El Aissami: ‘Liga de uma vez [para Rosa Maria]!’


Horas depois, conta a venezuelana, um dos ‘candangueros’, ou rebeldes, em
tradução livre, telefonou para ela, pedindo dados. São 200 pessoas só para
atender o Twitter presidencial.


Fugaz inimigo do Twitter, a quem acusou de ser ‘instrumento do império’,
Chávez se tornou celebridade no microblog e tinha 839 mil seguidores até ontem à
noite.


O instrumento está incorporado a tal ponto que foi usado para selecionar 66
das 432 pessoas que receberam, na semana passada, apartamentos de um programa
estatal. Chávez os entregou.


Em 20 de julho, o presidente deu estatísticas: seu Twitter havia ‘tramitado’
287 mil pedidos de ajuda, dos quais 17 mil de habitação.


Nem todos têm a sorte da costureira de receber resposta direta -de abril até
agora Chávez só postou 642 tweets. A maioria é processada pelos candangueros,
numa página cujo símbolo é, claro, um arroba vermelho de boina.


Mas, se ele responde, a esperança de ser atendido aumenta. ‘Não entendo por
que, se o presidente mandou, eles não resolvem’, diz Amílcar Ferrer, 24, que
recebeu um tweet-resposta de Chávez em 13 de agosto. Advogado, pedia um
emprego.


Mas a falta de resultado não o desanima. ‘Ninguém pode cuidar de tudo. O
presidente adora o país, fez muito pela educação. Não sou chavista, tenho
críticas, mas vou votar no governo’, diz.


Chávez não tem o menor constrangimento em ser acusado de clientelista -de
resto, uma arraigada tradição do Estado petroleiro provedor. O @chavezcandanga é
apenas a forma 2.0 de processar os milhares de pedidos que recebe. No Palácio
Miraflores funciona a Fundação Povo Soberando, que recebe pedidos por
escrito.


Mas há, na própria base do presidente, quem critique a iniciativa no Twitter.
No site de simpatizantes do governo www.aporrea.org, Matilde Grams escreveu:
‘Que bom seria ir ao povo […] e não pôr panos quentes ou criar mais uma
burocracia populista. Isso é o que esperamos do líder que acreditamos, não
justificar que é popular porque recebe mensagens da ineficiência e
ineficácia’.


Rosa Maria diz que vizinhas e amigas ligaram e a procuraram para perguntar
como ela tinha feito para o presidente respondê-la: ‘Eu disse que é uma questão
de fé. Eu confio no presidente’.


 


 


TELEVISÃO


Laura Mattos


Globo fará com afiliadas rede de internet e celular


A Globo formará na internet, no celular e em outras novas mídias o mesmo
esquema de rede de televisão que mantém com as suas emissoras afiliadas.


Esse modelo foi apresentado em um encontro entre acionistas de afiliadas e os
da rede realizado ontem e anteontem na sede da Globo em São Paulo.


Segundo a Folha apurou, a emissora pretende adotar esse modelo em todas as
negociações que envolvam a veiculação de seu conteúdo, inclusive na transmissão
em ônibus, que já acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro.


Assim, as afiliadas poderão ter conteúdo regional, por exemplo, no portal da
Globo na internet, no celular, iPad etc.. Com isso, têm a oportunidade de
negociar também com anunciantes locais a publicidade nessas novas
plataformas.


Com a perspectiva do aumento do faturamento, acionistas das afiliadas foram
simpáticos à ideia.


Para a Globo, a vantagem desse sistema é padronizar a sua marca em outras
mídias e contar com as afiliadas para ampliar a difusão de seu conteúdo para
além do televisor convencional.


VÉU


No ‘Tudo Junto e Misturado’, que estreia dia 1º na Globo, uma garota (Fabiula
Nascimento) vai ao dentista (Fábio Porchat) de noiva para aproveitar o vestido
caro


Litigioso A Band diz oficialmente que ‘já fez notificação denunciando a
quebra de contrato’ de Marcelo Rezende. O jornalista havia assinado por dois
anos com a emissora em setembro de 2009. Mas nesta semana avisou a diretoria que
irá para a Record. Amanhã, o ‘Tribunal na TV’, apresentado por ele, vai ao ar.


Consensual Rezende diz que a multa por quebra de contrato é pequena e haverá
acordo. ‘Acabo de gravar o programa da próxima semana e estamos negociando numa
boa a data da minha saída.’


Reality A Record anunciou ontem que o ‘Extreme Makeover Social’, que estreia
sábado, reformará quatro creches do Estado de São Paulo e uma de Santa
Catarina.


Toscana Com o encontro de Totó com o pai, ‘Passione’ marcou anteontem 38
pontos de média e foi sintonizada por 63% dos televisores ligados no horário.
Foi seu melhor desempenho desde a estreia.


Visto negado Hoje, pela primeira vez, o ‘Conexão Repórter’, de Roberto
Cabrini, exibirá conteúdo que não foi produzido pelo SBT. É um documentário
sobre padres e pedofilia da rede inglesa BBC. O programa teve uma queda de
audiência recentemente.


Visto carimbado Mas, segundo Cabrini, o objetivo é mostrar um material
importante sobre um assunto que está quente no noticiário. No ‘Conexão’, diz
ele, o documentário da BBC será mesclado com reportagens do SBT.


 


 


 


************


O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 23 de setembro de 2010


 


IMPRENSA E POLÍTICA


Eugênio Bucci


Por um pingo de serenidade


Por iniciativa pessoal do presidente da República, a imprensa vai se
convertendo em ré nesta campanha eleitoral. Nos palanques, ele vem investindo
agressivamente contra ela. Diz que vai derrotá-la nas eleições. Lula grita,
gesticula, fala com muita virulência. Por que será?


É difícil de entender. Ele sairá consagrado de seus dois mandatos. A
aprovação popular que o eleva às alturas é um feito sem precedentes. O clima no
País é de otimismo. Os indicadores econômicos, em sua maioria, atestam expansão,
crescimento, solidez. Sua candidata ao Planalto lidera as pesquisas com imensa
folga. Por que, então, todo esse ressentimento?


Uma ministra da Casa Civil acaba de sair da Pasta porque reportagens
revelaram irregularidades graves em torno dela. As notícias que a derrubaram
eram mentirosas? Se não eram, por que a demissão (dela e de outros)? Agora: se a
demissão procede, por que tanta raiva?


É compreensível, isto sim, que as autoridades guardem mágoas do noticiário.
Quem já exerceu cargo público, ainda que de projeção modesta, sabe que a leitura
diária dos jornais é uma roleta-russa macabra: de repente, vem lá uma bordoada
envolvendo o nome do sujeito em maracutaias das quais ele jamais ouvira falar.
Dar de cara com esse tipo de aleivosia é das piores experiências que existem
(para quem tem vergonha na cara, vale lembrar). Além de despreparo técnico, que
leva as reportagens a confundirem deselegância com ilicitude, assim como
confundem mandado com mandato, há também o despreparo humano, emocional, o
desrespeito aos semelhantes, o preconceito mais deslavado. Tudo isso é
lamentável. Mas tudo isso se refere à dor da pessoa física. O estadista, por
dever de ofício, não pode permitir que sua dor pessoal conduza suas atitudes
como chefe de Estado. Simplesmente não pode.


Lula sabe disso. Ele sabe disso muito mais do que todos nós. E, também por
isso, é difícil aceitar e entender a brutalidade dos seus ataques aos
jornalistas. Mas, se nos esforçarmos, podemos encontrar uma linha de
explicação.


Ela começa pela necessidade de blindar a candidatura de Dilma Rousseff contra
reportagens que possam minar o voto de confiança que ela vem recebendo nas
pesquisas. Para isso, Lula caracteriza a imprensa como ‘partidos de oposição’.
Ele iguala o discurso jornalístico ao discurso da oposição e, na sequência,
conclama os eleitores a ‘derrotar alguns jornais e revistas que se comportam
como partidos políticos’. Eis a fórmula da blindagem necessária. Portanto, o
movimento teatral de Lula é estritamente racional, calculado. E faz sentido.


O lastro eleitoral de Dilma vem de Lula. Se o mesmo Lula amaldiçoa os que a
criticam, desqualificando-os um a um, pode, além de lastreá-la, vaciná-la contra
as críticas. Esse é o sentido eleitoral do discurso do presidente. A logística é
bem simples. Primeiro, ele afirma que certos ‘jornais e revistas’ não são
imprensa, mas ‘partidos de oposição’. Assim, joga-os no descrédito. Se são
partidários, merecem a mesma confiança que os partidos da oposição (embora o
governo demita autoridades cujas condutas foram reveladas suspeitas por esses
mesmos jornais e revistas, ou seja, na prática, o governo lhes dá crédito, mas
no discurso tenta desmoralizá-las). Em seguida, Lula cuida de se afirmar
democrata: ‘A liberdade de imprensa é uma coisa sagrada.’ Portanto, ninguém pode
acusá-lo de autoritário. Imediatamente, porém, estabelece condições para a
liberdade. ‘A liberdade de imprensa não significa que você possa inventar coisas
o dia inteiro.’ (…) ‘Significa que você tem a liberdade de informar
corretamente a opinião pública, para fazer críticas políticas, e não o que a
gente assiste de vez em quando.’


Claro: o raciocínio tem problemas sérios. Lula cumpre o seu objetivo
eleitoral, sem dúvida. Mas a que preço? Ao preço de promover o engano e a
discórdia.


O engano. Lula faz crer que liberdade existe apenas para os que informam
‘corretamente’. Não é bem assim. A liberdade de imprensa inclui a liberdade de
que veículos impressos – que não são radiodifusão e, portanto, não dependem de
concessão pública – assumam uma linha editorial abertamente partidária. Qualquer
órgão impresso (ou na internet) pode, se quiser, fazer oposição sistemática. A
liberdade não foi conquistada apenas para os que ‘informam corretamente’, mas
também para os que, na opinião desse ou daquele presidente da República, não
informam tão corretamente assim. Se um jornal quiser assumir uma postura
militante, de cabo eleitoral histérico, e, mais, se quiser não declarar que faz
as vezes de cabo eleitoral, o problema é desse jornal, que se arrisca a perder
credibilidade. O problema é dele, só dele, não é do governo.


A discórdia. Alguém poderá acreditar que cabe ao Estado definir o que é
‘informação correta’ e, com base nessa crença, poderá pedir a perseguição
estatal de órgãos de imprensa. Seria tenebroso. Não cabe ao Executivo, ao
Legislativo ou ao Judiciário definir o que é ‘informação correta’. Isso é
prerrogativa do cidadão e da sociedade. Que setores da sociedade protestem
contra esse ou aquele jornal faz parte da vida democrática. Às vezes, é bom.
Pode ser profilático. Agora, que o governo emule, patrocine ou encoraje esses
movimentos é no mínimo temerário.


Enfim, é possível entender o tom furibundo do maior eleitor de Dilma. É
possível, também, criticá-lo. A pessoa do presidente tem direito de se irritar
com o noticiário. Tem até o direito de processar jornalistas. Mas o chefe de
Estado não deveria semear o ódio, conclamando o povo a ‘derrotar’ órgãos de
imprensa. Não que isso ameace a ordem democrática. Não exageremos. Temos ampla
liberdade de expressão no Brasil. Mesmo assim, vale anotar: essas declarações
presidenciais, ainda que explicáveis, são inaceitáveis.


JORNALISTA, PROFESSOR DA ECA-USP


 


 


O desmanche da democracia


A escalada de ataques furiosos do presidente Lula contra a imprensa – três em
cinco dias – é mais do que uma tentativa de desqualificar a sequência de
revelações das maracutaias da família e respectivas corriolas da ex-ministra da
Casa Civil Erenice Guerra. É claro que o que move o inventor da sua candidata à
sucessão, Dilma Rousseff, é o medo de que a sequência de denúncias – todas elas
com foros de verdade, tanto que já provocaram quatro demissões na Pasta, entre
elas a da própria Erenice – impeça, na 25.ª hora, a eleição de Dilma no primeiro
turno. Isso contará como uma derrota para o seu mentor e poderá redefinir os
termos da disputa entre a petista e o tucano José Serra.


Mas as investidas de Lula não são um raio em céu azul. Desde o escândalo do
mensalão, em 2005, ele invariavelmente acusa a imprensa de difundir calúnias e
infâmias contra ele e a patota toda vez que estampa evidências contundentes de
corrupção e baixarias eleitorais no seu governo. A diferença é que, agora, o
destampatório representa mais uma etapa da marcha para a desfiguração da
instituição sob a sua guarda, com a consequente erosão das bases da ordem
democrática. A apropriação deslavada dos recursos de poder do Executivo federal
para fins eleitorais, a imersão total de Lula na campanha de sua afilhada e a
demonização feroz dos críticos e adversários chegaram a níveis alarmantes.


A candidatura oposicionista relutou em arrostar o presidente em pessoa por
seus desmandos, na crença de que isso representaria um suicídio eleitoral – como
se, ao poupá-lo, o confronto com Dilma se tornaria menos íngreme. Isso,
adensando a atmosfera de impunidade política ao seu redor, apenas animou Lula a
fazer mais do mesmo, dando o exemplo para os seguidores. As invectivas contra a
imprensa, por exemplo, foram a senha para o PT e os seus confederados, como a
CUT, a UNE e o MST, promoverem hoje em São Paulo um ‘ato contra o golpismo
midiático’. É como classificam, cinicamente, a divulgação dos casos de
negociatas, cobrança e recebimento de propinas no núcleo central do governo.


Sobre isso, nenhuma palavra – a não ser o termo ‘inventar’, usado por Lula no
seu mais recente bote contra a liberdade de imprensa que, com o habitual
cinismo, ele diz considerar ‘sagrada’. O lulismo promove a execração da mídia
porque ela se recusa a tornar-se afônica e, nessa medida, talvez faça diferença
nas urnas de 3 de outubro, dada a gravidade dos escândalos expostos. Sintoma da
hegemonia do peleguismo nas relações entre o poder e as entidades de
representação classista, o lugar escolhido para o esperado pogrom verbal da
imprensa foi o Sindicato dos Jornalistas. O seu presidente, José Camargo, se faz
de inocente ao dizer que apenas cedeu espaço ‘para um debate sobre a cobertura
dos grandes veículos’.


Mas a tal ponto avançou o rolo compressor do liberticídio que diversos
setores da sociedade resolveram se unir para dizer ‘alto lá’. Intelectuais,
juristas, profissionais liberais, artistas, empresários e líderes comunitários –
todos eles figuras de projeção – lançaram ontem em São Paulo um ‘manifesto em
defesa da democracia’, que poderá ser o embrião de um movimento da cidadania
contra o desmanche da democracia brasileira comandado por um presidente da
República que acha que é tudo – até a opinião pública – e que tudo pode.


Um movimento dessa natureza não será correia de transmissão de um partido nem
estará atado ao ciclo eleitoral. Trata-se de reconstruir os limites do poder
presidencial, escandalosamente transgredidos nos últimos anos, e os controles
sobre as ações dos agentes públicos. ‘É intolerável’, afirma o manifesto,
‘assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político,
máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.’ ‘É
inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada
por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não
se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.’ O texto evoca valores
políticos que, do alto de sua popularidade, Lula lança ao lixo, como se,
dispensado de responder por seus atos, governasse num vácuo ético


 


 


Fausto Macedo


Após ataques de Lula, juristas lançam ‘Manifesto em Defesa da
Democracia’


Juristas que marcaram sua trajetória na luta pela preservação dos valores
fundamentais lançaram ontem nas Arcadas do Largo de São Francisco, em São Paulo,
o Manifesto em Defesa da Democracia, com críticas ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. O palco para o ato público foi o mesmo onde, há 33 anos, o jurista
Goffredo da Silva Telles leu a Carta aos Brasileiros, contra a tirania dos
generais.


O agravo em 43 linhas condena o presidente Lula, que, na reta final da
campanha à sua sucessão, distribui hostilidades à imprensa e faz ameaças à
liberdade de expressão e à oposição.


Uma parte do pensamento jurídico e acadêmico do País que endossou o protesto
chamou Lula de fascista, caudilho, autoritário, opressor e violador da
Constituição. O presidente foi comparado a Benito Mussolini, ditador da Itália
nos anos 30. ‘Na certeza da impunidade (Lula), já não se preocupa mais nem mesmo
em valorizar a honestidade. É constrangedor que o presidente não entenda que o
seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas 24 horas do dia’, disse Hélio
Bicudo, fundador do PT, do alto do púlpito da praça, ornada com duas bandeiras
do Brasil.


Sob o sol forte do meio-dia, professores, sociólogos, economistas,
intelectuais, escritores, poetas, artistas, advogados e também políticos tucanos
cantaram o Hino Nacional. Muitos dos presentes ao ato público de ontem estavam
no mesmo local em agosto de 1977 para subscrever a Carta aos Brasileiros.


Aquela declaração, como essa, segue uma mesma linha de reflexão. ‘A ordem
social justa não pode ser gerada pela pretensão de governantes prepotentes’,
dizia Goffredo a um País mergulhado na sombra da exceção havia mais de uma
década. ‘Estamos em um momento perigoso, à beira de uma ditadura populista’,
afirma Miguel Reale Júnior, um dos quatro ex-ministros da Justiça que
emprestaram o peso de sua história ao manifesto lido ontem.


‘Reconhecemos que o chefe do governo é o mais alto funcionário nos quadros
administrativos da Nação, mas negamos que ele seja o mais alto Poder de um País.
Acima dele reina o senso grave da ordem, que se acha definido na Constituição’,
advertia Goffredo em seu libelo. ‘É um insulto à República que o Legislativo
seja tratado como mera extensão do Executivo, é deplorável que o presidente
lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Judiciário’,
adverte o manifesto de 2010, do qual d. Evaristo Arns é o primeiro
subscritor.


Inadmissível. ‘O País vive um processo de autoritarismo crescente, um
caudilhismo que se impõe assustadoramente’, declarou José Carlos Dias, aos pés
da estátua de José Bonifácio, o Moço, à entrada do território livre do Direito.
‘A imprensa está sendo atacada de forma inadmissível como se partido fosse. O
presidente ofende a democracia quando ofende a imprensa por exercer missão que o
Estado deveria exercer: investigar e combater a corrupção.’


‘Lula age como um fascista’, compara Reale. ‘O que ele fará lá na frente se
agora quer jogar para debaixo do tapete toda a corrupção em seu governo para
ganhar a eleição? A imprensa não pode mais revelar a verdade? Há uma campanha
indiscriminada contra todos os órgãos de imprensa. O presidente não pode
insuflar o País, ‘quem é a favor do PT é a favor do povo’. Descumpre ordem da
harmonia social, divide o País. É uma grande irresponsabilidade, algo muito
grave.’


Mobilização. O advogado disse que o manifesto é mobilização da sociedade
civil, não um evento político. ‘É um alerta sobre os riscos de um confronto
social. Transformar a imprensa em golpista é caminho perigoso para o
autoritarismo. Quando o presidente diz que ‘formadores de opinião somos nós’ é
uma ideia substancialmente fascista, posição populista. É o peso da Presidência
contra a liberdade de imprensa.’


Bicudo, ainda antes de subir ao púlpito onde nos anos 70 lideranças
estudantis desafiavam a repressão, afirmou que ‘Lula tenta desmoralizar todos os
que se opõem ao seu poder pessoal’.


Presidente do PPS, Roberto Freire avalia que Lula ‘se despiu do caráter
republicano ao debochar das instituições e se transformar em cabo eleitoral’.
José Gregori, ex-ministro da Justiça, disse que a ordem dos juristas deu início
à reação há 12 dias, ‘quando o presidente desferiu as primeiras agressões à
democracia’. ‘Ele não pode fazer papel de estafeta de um partido.’


SIGNATÁRIOS


O Manifesto em Defesa da Democracia, redigido em 43 linhas e divulgado ontem,
tem entre seus signatários juristas, cientistas políticos, historiadores,
embaixadores e membros da classe artística.


O jurista Hélio Bicudo, que leu o documento no centro da capital paulista,
encabeça a lista, ao lado do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos
Velloso e do arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns.


Os ex-ministros da Justiça José Gregori, Paulo Brossard, Miguel Reale Júnior,
José Carlos Dias, além do embaixador Celso Lafer, também subscrevem o
documento.


A academia, por sua vez, aparece em peso com os cientistas políticos Leôncio
Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola, bem
como os historiadores Marco Antonio Villa e Boris Fausto.


ARTICULAÇÕES


José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça


‘As atitudes de Lula são de um fascista, do verdadeiro autoritarismo. É
preciso defender a democracia a qualquer preço’


Roberto Freire, presidente do PPS


‘Lula perdeu a compostura ao propor que extirpem partido de oposição e ao
atacar a imprensa. Mussolini e os camisas negras agiram assim’


Hélio Bicudo, fundador do PT


‘Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas
convictos. Ele pode ter opinião, mas não pode fazer uso da máquina’


Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça


‘Lula age como um fascista. Golpismo é tentar calar a imprensa. Temos de nos
arregimentar pela preservação dos princípios democráticos’


 


 


Leandro Colon


Blogueiro que critica a mídia é contratado da EBC


A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) contratou há uma semana, sem licitação,
os serviços do jornalista Luis Nassif por R$ 180 mil. O contrato terá vigência
de seis meses. Foi assinado pela presidente da estatal, Tereza Cruvinel, no dia
16 e publicado na segunda-feira no Diário Oficial da União.


Nassif foi contratado, segundo a EBC, para prestar serviços de ‘entrevistador
e comentarista’ para o telejornal Repórter Brasil e o Programa 3 a 1.


Desde terça-feira, o jornalista tem destacado em seu blog informações em
defesa do protesto contra a imprensa marcado para hoje a partir das 19 horas no
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Nassif é do conselho consultivo do
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que integra a
organização do protesto, intitulado ‘Contra o Golpismo Midiático e em Defesa da
Democracia’. Movimentos sociais de apoio ao governo, como centrais sindicais e a
UNE, já manifestaram adesão ao movimento.


A EBC informou que o jornalista foi contratado porque a legislação ‘prevê a
dispensa de licitação para pessoas ou empresas de notória especialização’.


Nassif fechou um novo acordo depois de ter expirado, em julho, o contrato de
R$ 1,2 milhão que tinha para fazer o programa Brasilianas.


Nassif disse que sua contratação sem licitação se deve ao fato de o contrato
ter como objetivo um ‘trabalho intelectual’, com ‘pessoas com reputação em sua
área e reconhecimento público, que ajudam a reforçar a cara da emissora’. ‘Em
relação à minha área – comentários econômicos -, há muitos e muitos anos fico
entre os três jornalistas mais votados (no prêmio Comunique-se) na categoria
jornalismo de economia, mídia eletrônica, além dos prêmios que recebi como
jornalista de economia da mídia impressa’, afirmou.


 


 


Dora Kramer


Ato insensato


O PT quer constranger os veículos de comunicação. É nítida a intenção de
fazer com que a imprensa pegue mais ‘leve’ em relação aos fatos novos de cada
dia sobre corrupção, nepotismo, empreguismo e o uso partidário do espaço público
no governo Luiz Inácio da Silva.


O presidente fala alto e fala grosso na tentativa de levar jornais, revistas
e emissoras a acharem ‘melhor’ deixar esses assuntos para depois da eleição a
fim de não serem acusados de favorecer candidaturas de oposição.


Como se fosse aceitável suspender os fatos para não atrapalhar os atos de
interesse oficial.


A ofensiva é tão agressiva que leva a pensar se não se trata de medida
preventiva contra algo que seja do conhecimento do presidente e os demais
brasileiros ainda ignoram.


De outro modo não se pode explicar com argumentos minimamente razoáveis a
fúria e o desassombro que tomam conta de Lula e companhia.


Zangado poderia estar José Serra, cuja candidatura é dada como morta e
enterrada todos os dias nos meios de comunicação, nunca o presidente Lula, cujo
plano de eleger Dilma Rousseff se materializa com pleno êxito.


A imprensa, no caso de Serra, lida com informações transmitidas pelas
pesquisas e estas mostram uma dianteira mais do que significativa de Dilma. É o
que registram os jornais, as rádios e as televisões: se as eleições fossem hoje,
ela estaria eleita em primeiro turno.


Da mesma forma acompanham o desenrolar dos demais acontecimentos: quebras de
sigilo fiscal, confecção de dossiês, violação da legalidade por parte do governo
em geral e do presidente em particular e mais recentemente a descoberta da
central de negócios montada na Casa Civil sob a gerência de Erenice Guerra, a
segunda na hierarquia durante a gestão de Dilma e sua substituta depois da saída
para a campanha eleitoral.


Disso temos as seguintes consequências: dois inquéritos na Polícia Federal,
sindicância na Receita Federal, dois indiciamentos na PF por causa das quebras
de sigilo, demissão do primeiro (Luiz Lanzetta) encarregado da comunicação no
comitê de Dilma Rousseff, sete multas da Justiça Federal ao presidente da
República e cinco demissões de funcionários em função do escândalo Erenice.


Pois diante de tantas informações concretas, Lula afirma e dá fé pública que
a imprensa ‘mente’ e ‘inventa’. Ora, se mesmo vitorioso o presidente acha que é
preciso valer-se de sua popularidade para ele sim maquiar a realidade é porque
vê razões para isso.


Ou teme o que ainda poderia vir por aí e por isso tenta desqualificar a
imprensa ou não tem tanta certeza de que o resultado das urnas seja esse mesmo
que indicam as pesquisas e por isso se arrisca a um fim de mandato melancólico
jogando seu prestígio num lance de pura, e injustificável, histeria.


Até agora o presidente não condenou. Lícito, portanto, presumir que avalize a
decisão do PT de organizar um ato público contra a imprensa. Na verdade,
convocado sob inspiração presidencial.


O ato seria apenas uma manifestação normal de um grupo que defende
determinada posição, não fosse pelo envolvimento do governo na questão. Sendo, é
caso de abuso de poder, improbidade e ataque à Constituição.


De acordo com que argumentam os organizadores da manifestação, é preciso
reagir ‘à tentativa da velha mídia de forçar um segundo turno’.


Alto lá, a eleição ainda não aconteceu. Como, forçar? Segundo a lei o
processo eleitoral em colégios de mais de 200 mil habitantes é composto de dois
turnos e o primeiro ainda não aconteceu. Se for necessário ocorrer o segundo,
onde está a ilegalidade, o golpismo?


Se alguém está querendo forçar alguém é o governo que usa a sua força –
monumental, no presidencialismo imperial brasileiro – para sufocar o
contraditório.


Volver. Se Lula olhar bem a lista de signatários do manifesto em defesa da
democracia – Hélio Bicudo, d. Paulo Evaristo Arns, Ferreira Gullar, Paulo
Brossard -, notará que há 30 anos era gente que sustentava o início de sua
trajetória.


 


 


TV BRASIL


Leandro Colon


TCU vai investigar contrato da TV de Lula


O Tribunal de Contas da União (TCU) vai investigar o contrato de R$ 6,2
milhões que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) fechou com a Tecnet Comércio e
Serviços Ltda., que emprega Cláudio Martins, filho do ministro da Comunicação
Social e presidente do Conselho de Administração da estatal, Franklin Martins.


A empresa foi contratada para cuidar do sistema de arquivos digitais da EBC,
um dos grandes projetos do governo. Ontem, o procurador Marinus Marsico, que
representa o Ministério Público no TCU, anunciou que pretende pedir os
documentos sobre a concorrência e investigar mais uma suspeita de tráfico de
influência em meio ao escândalo que derrubou Erenice Guerra da Casa Civil.
‘Estou estarrecido com tantos parentes ligados aos órgãos públicos’, afirmou
Marinus, que já apura os episódios envolvendo Erenice. ‘No caso da EBC, há
conflito de interesse.’


O Estado revelou ontem que o filho de Franklin trabalha na Tecnet há pelo
menos dois anos como representante comercial. De acordo com o comando da Tecnet,
ele é o responsável pelos negócios de software e tecnologia da empresa no
exterior e com as afiliadas do grupo. ‘Cuida prioritariamente do início da
expansão internacional da empresa’, disse a empresa, em nota.


A EBC é a única emissora de TV brasileira cliente da Tecnet na área digital.
A empresa é o braço operacional do grupo que dirige a RedeTV!. O procurador
pretende investigar os motivos que levaram a EBC a acelerar a licitação e os
indícios de irregularidades na concorrência. O empresário Fábio Tsuzuki admitiu
ao Estado que ajudou a EBC a elaborar o edital da licitação.


Tsuzuki é dono da Media Portal, única adversária da Tecnet na concorrência.
‘Isso mostra uma relação promíscua no órgão público e é absolutamente
irregular’, disse Marsico. ‘Só preciso decidir qual o melhor caminho: solicitar
os documentos ou já entrar com uma representação pedindo abertura de
processo.’


O Estado teve acesso a e-mails da ECB mencionando que Franklin deu
‘prioridade zero’ ao contrato e a outro da área. Em outras mensagens, os
funcionários lembram que é preciso dar ‘celeridade’ a essas licitações, apesar
de pareceres que mostravam a falta de recursos orçamentários para o projeto.


Num e-mail a cinco funcionários em novembro, o gerente da comissão de
licitação, Francisco Lima Filho, pede agilidade. ‘Tendo em vista o compromisso
firmado entre Collar e o ministro Franklin Martins sobre o assunto, Wellington
conduz as pesquisas e Cristina toca os editais’ disse. Collar é Ricardo Almeida
Collar, ordenador de despesas da EBC.


 


 


PREMIAÇÃO


Jornalistas do’Estado’ são premiadas


Duas jornalistas do Estado estão entre os 27 vencedores da 8ª edição do
Prêmio Comunique-se, que aponta os melhores jornalistas brasileiros a partir da
votação direta de profissionais e estudantes da área de comunicação de todo
Brasil. Dora Kramer, que assina coluna diária na Nacional, foi premiada na
categoria Jornalista Nacional em Mídia Impressa. Cláudia Trevisan ganhou como
Correspondente Brasileiro no Exterior, por seus artigos sobre a China.


Esta é a terceira vez que Dora Kramer vence a disputa. Colunista do Estado
desde 2001, Dora também foi premiada nas edições de 2005 e 2008. ‘Essa avaliação
me dá uma satisfação especial porque quem julga são pessoas de nossa profissão e
estudantes da área. Se os colegas me escolhem, votam em mim, me sinto
especialmente premiada’, avaliou a jornalista. ‘Tenho 36 anos de profissão. E a
maioria dos eleitores desse prêmio é de jovens. Isso me dá uma satisfação
especial.’


Na China desde 2004, a correspondente Cláudia Trevisan foi representada no
prêmio por outro jornalista da casa, Celso Ming, um dos finalistas do prêmio.
Além dele, concorreram entre os finalistas outros seis jornalistas do Estado:
Ariel Palácios, Jotabê Medeiros, Daniel Piza, Juca Varella, Ethevaldo Siqueira e
Renato Cruz. Ao todo, 81 profissionais ficaram entre os finalistas.


Nelson Motta, que assina coluna semanal no Estado às sextas-feiras, foi
premiado na categoria Jornalista de Cultura em Mídia Eletrônica, por sua coluna
na TV Globo. Carlos Alberto Sardenberg, que assina coluna às segundas-feiras no
caderno de Economia, também sagrou-se vencedor como Jornalista de Economia por
seu trabalho na TV Globo/Rádio CBN e Globo News.


Ricardo Boechat, jornalista da TV Bandeirantes, foi o grande vencedor da
noite. Ele recebeu prêmio em três categorias: Colunista de Notícia, pela revista
Isto É, e como Apresentador/Âncora, em duas mídias: na Rádio e na TV
Bandeirantes.


Premiação. Para escolher os vencedores do prêmio ocorrem três fases de
votação. Na primeira, são indicados dez profissionais, com base nas sugestões de
jornalistas cadastrados no site do Comunique-se. Depois, três finalistas para
cada categoria são escolhidos pela mesma comunidade, por meio de votação online.


A indicação dos vencedores ocorre na etapa seguinte, também em votação pela
internet. As duas últimas fases do prêmio têm acompanhamento da empresa de
auditoria independente Deloitte. Nas duas primeiras etapas do prêmio foram
computados mais de 90 mil votos.


 


 


MÉXICO


O México amedrontado


Medo, desespero e revolta – sentimentos cada vez mais comuns entre os
mexicanos diante da ineficácia do governo no combate ao narcotráfico e da reação
cada vez mais violenta dos criminosos – estão registrados no editorial em que o
jornal El Diario, o mais importante de Ciudad Juárez, no Estado de Chihuahua,
pergunta aos grupos de traficantes o que querem ver publicado em suas páginas. O
editorial é mais um registro, entre tantos surgidos nos últimos tempos, da
situação dramática que vive o México, por causa das baixas produzidas pela
guerra contra o narcotráfico.


Desde o fim da década de 1990, com o enfraquecimento dos cartéis colombianos,
os grupos criminosos mexicanos passaram a dominar o mercado de drogas dos
Estados Unidos. Tão logo tomou posse no cargo, em dezembro de 2006, o presidente
mexicano, Felipe Calderón, declarou guerra ao narcotráfico, nela empregando
forças da Polícia Federal, do Exército e da Marinha. Apesar das prisões de
alguns dos principais traficantes, os cartéis mexicanos respondem com violência
cada vez maior às ações do governo.


Estima-se que, desde seu início, a guerra contra o narcotráfico já tenha
provocado 35 mil mortes, não apenas de pessoas diretamente envolvidas nos
combates – policiais, militares e traficantes -, mas também de civis sem nenhuma
ligação com os grupos criminosos, inclusive mulheres e crianças. Pelo menos 95%
dos assassinatos continuam sendo de autoria desconhecida.


O caso mais chocante foi descoberto no mês passado, quando um imigrante
equatoriano – um sobrevivente da matança – revelou a execução de 72 estrangeiros
que tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos, entre os quais pelo menos
dois brasileiros, por um grupo de traficantes conhecido por Los Zetas, que
queria recrutá-los como matadores de aluguel. O crime ocorreu no Estado de
Tamaulipas.


As execuções de agentes federais, os assassinatos cometidos nos últimos anos
e o crescente tráfico de drogas e armas tornaram Ciudad Juárez – separada de El
Paso, no Texas, pelo Rio Bravo – conhecida como ‘a cidade mais perigosa do
mundo’. Por medo de represálias dos grupos criminosos, os jornais locais, assim
como parte da imprensa do resto do país, pouco têm noticiado sobre suas ações.
Não é o caso de El Diario. Por isso ele se tornou alvo dos criminosos.


Na semana passada, dois repórteres fotográficos do jornal foram atacados por
pistoleiros quando chegavam a um restaurante. Um deles, Luis Carlos Santiago
Orozco, foi morto na hora, outro ficou gravemente ferido. Em 2008, outro
profissional do jornal, o repórter policial Armando Rodríguez, fora assassinado
quando saía de casa para levar a filha à escola. No ano seguinte, o policial que
investigava o crime também foi assassinado. Os assassinos não foram
identificados.


[ ]Di[/ ]ante do vazio de poder em Chihuahua, ‘não há garantias para que os
cidadãos desenvolvam suas vidas e suas atividades com segurança’ e o jornalismo
‘tornou-se uma das profissões mais perigosas’, diz o jornal.


Numa crítica ao governo, o editorial do jornal reconhece que os criminosos
‘são, nesse momento, as autoridades de facto na cidade, porque os poderes
instituídos legalmente não conseguem fazer nada para impedir que nossos
companheiros continuem sendo executados’, e lhes pede que digam ‘o que querem de
nós, o que pretendem que publiquemos ou deixemos de publicar’.


O governo reagiu com irritação, afirmando que não aceita nenhuma forma de
trégua com o narcotráfico e que continuará a combatê-lo com o rigor possível.
Quanto ao trabalho da imprensa, assegurou que qualquer agressão contra os meios
de comunicação será combatida ‘como uma afronta à sociedade inteira e à nossa
democracia’. Ninguém pode duvidar das intenções do governo mexicano. Mas o fato
é que mais de 30 jornalistas foram mortos desde o início da guerra contra o
narcotráfico – o que torna o México um dos países mais perigosos do mundo para o
trabalho jornalístico, de acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas.


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimnenez


Hipertensão derruba ibope da Globo


Pizzas de vermes e rato morto à parte, Hipertensão ainda não fez a pressão do
ibope subir. Segundo medição na Grande São Paulo, o reality escatológico
derrubou o ibope da Globo nas noites de quinta-feira, principal dia do formato.
A atração, que estreou no dia 2 com média de 15 pontos, chegou a subir para a
casa dos 17 pontos, mas ainda não atingiu a média da antecessora na vaga, Vida
Alheia, que deixou a Globo em agosto com média de 18 pontos. Na edição aos
domingos, Hipertensão mantém o ibope do antecessor, Domingo Maior, com 15
pontos, mas aquém ainda do reality anterior da rede na vaga, No Limite, que nos
bons dias chegava a 23 pontos.


1,3 milhão de pessoas passaram pelo Sportv no dia 12, durante a confusão com
Neymar na partida Santos X Ceará, que atingiu o maior ibope da TV paga na
semana.


‘Quem vai entrar no lugar de Dorival Jr. no Santos? A Super Nanny é a mais
cotada!’ Bruno Gagliasso no Twitter, fazendo piada com a confusão envolvendo
Neymar


Fontes do mercado garantem que a Record planeja mudanças em seu alto comando.
A alteração – que ocorreria esta semana e fora adiada – envolveria a saída do
vice-presidente artístico da emissora, Honorilton Gonçalves. A reestruturação
também iria mexer com as funções do presidente da Record, Alexandre Raposo, e do
vice-presidente da emissora, Reinaldo Gili. Procurada, a Record, via assessoria,
nega mudanças em sua direção.


O GNT ainda está longe de fechar o elenco do Saia Justa. Até as chamadas da
volta do programa, que estavam no ar, andam sumidas.


Há uma torcida entre diretores da Globo para que duas séries deste ano ganhem
nova fornada em 2011: Separação?! e Vida Alheia. No caso do primeira é
necessário convencer os roteiristas, que já pensam em novos projetos na
emissora.


A sexóloga Carla Cecarello, que apresentou no SBT o Aprendendo Sobre Sexo, é
a mais nova contratada da TV Gazeta. Comandará o Falando Sobre Sexo, que estreia
em outubro.


A Gazeta também promoverá uma grande reforma em seu site, integrando o
conteúdo da TV com a da internet, e mais adiante, colocando suas atrações na
web.


Wagner Moura é o próximo entrevistado do Roda Viva, de segunda-feira, na TV
Cultura. Em pauta, o longa Tropa de Elite 2.


Sinal vermelho foi aceso na RedeTV! no game O Último Passageiro. A mais
recente aposta do canal vem amargando, em dias bons, dois pontos de audiência.
Mudança de horário e dia de exibição à vista.


Praticamente toda gravada, a nova temporada do É Tudo Improviso, da Band,
deve demorar para estrear na emissora. Janeiro é a data provável, pois o
programa deve cobrir as férias do CQC.


 


 


Patrícia Villalba


A melhor idade de Passione


Se a televisão é um espelho da sociedade, quando a gente assiste a Passione,
só pode mesmo achar que a terceira idade anda com tudo. Além de ter uma
protagonista em torno dos 70 anos – Bete Gouveia, interpretada por Fernanda
Montenegro, 80 anos na vida real – a novela das 9 da Globo tem um núcleo
sensivelmente agitado, no qual os personagens, dos 70 aos 90 anos, estão prestes
a montar um quadrado amoroso cheio de pequenos pecados, mentiras escondidas
debaixo do tapete durante décadas e reviravoltas folhetinescas.


Na TV há pelo menos meio século, os atores Cleyde Yáconis, Leonardo Villar,
Elias Gleiser e Flávio Migliaccio sabem que em novela tudo pode acontecer. E nas
de Silvio de Abreu, mais. Deve ser por isso que Cleyde não notou que era galhofa
a ‘fofoca’ contada a ela por Migliaccio, em suposta primeira mão, num intervalo
das gravações, acompanhadas pelo Estado na semana passada. ‘Não está sabendo?
Você vai se apaixonar pelo Benedetto’, disse ele, em tom de conspiração e se
referindo à personagem dela, Brígida, e ao personagem de Emiliano Queiroz, que
vive na Toscana cenográfica do Projac. ‘Verdade? Como você ficou sabendo
disso?’, perguntou Cleyde, pensativa. ‘Me falaram…’, despistou ele, com um
risinho maroto no canto da boca.


Com 76 anos, Migliaccio, apenas alguns meses mais novo que Gleiser, é o
caçula do grupo. Naquela sequência, que vai ao ar no capítulo de hoje,
Fortunato, seu personagem, faz uma visita constrangedora e divertidíssima à
mansão dos Gouveia. Calcado nos cômicos clássicos italianos e também muito na
graça natural que o ator faz, sem esforço, Fortunato é o pobretão que circula na
alta roda.


Na trama, Fortunato é amigo de juventude de Antero, a quem ajuda a esconder o
passado de imigrante italiano que a mulher, grã-fina do Jardim América,
despreza. No passado de Antero, ficaram as raízes italianas e o amor juvenil por
Gemma (Aracy Balabanian), que o abandonou no altar. Nos últimos capítulos, os
dois se reencontraram. Esse é um dos segredos, mas os velhinhos sacudidos têm
muitos outros. Um deles, tem a ver com as visitas que Brígida faz ao quarto do
motorista, Diógenes (Elias Gleiser). No texto, o autor solta frases que induzem
o público a pensar que são segredos de alcova. Será? Mas nessa altura da vida?
Brígida é serelepe o suficiente para isso, sem dúvida.


À mesa dos Gouveia, o queixo da aprumada Brígida cai quando ela vê o sujeito
de paletó, tênis e cabelos despenteados (a marca de Migliaccio) entornar cerveja
na taça e limpar o prato com miolo de pão. ‘O Antero foi bom de copo, viu?
Armamos cada chumbrega, hein, Antero!’, entrega ele, para desespero do
amigo.


Nos bastidores, o pessoal da técnica mal consegue trabalhar, de tanto rir. E
dá para perceber que todos ali, do diretor Carlos Araújo ao contrarregra que
enche as garrafas de cerveja fictícia com cerveja sem álcool para Migliaccio
parecer bebum em cena, têm consciência do quanto é especial a reunião daqueles
quatro atores. ‘É um tipo de cena que nem cheguei a sonhar que dirigiria um
dia’, admite Araújo, ao fim da gravação. ‘Aqui, o preocupação da direção é
meramente técnica. A interpretação e a condução da cena é com eles.’


Quem frequenta gravações sabe que não há quase nenhum espaço para
improvisações na TV de hoje – e os autores não gostam que os atores alterem seus
textos, o chamado ‘caco’. Mas Silvio de Abreu não se incomoda com os cacos da
turma de Migliaccio – quem pode, pode. Antes da saída triunfal da cena, ele muda
a posição de uma cadeira. ‘E se eu tropeçar assim, na saída?’, pergunta ele ao
diretor, já tropeçando para exemplificar. ‘Ótimo, vamos nessa’, responde Araújo,
às gargalhadas.


Soltinha. Na outra sala do cenário, Cleyde diz à camareira que vai dispensar
a bengala cenográfica que seria incorporada ao figurino de Brígida no capítulo.
A intenção era dar mais estabilidade ao andar da atriz, que sofreu uma queda em
julho, passou por cirurgia no fêmur e ficou seis dias internada. Em menos de 15
dias, demonstrando uma vitalidade surpreendente para uma senhora de 86 anos, ela
voltou ao set, ainda de cadeira de rodas.


Agora, não precisa mais dela. Nem da bengala. ‘Não vou usar, não… Gosto de
me sentir mais solta’, diz, chacoalhando os braços. ‘Amanhã, vou ao meu
fisioterapeuta, ele me dá uns apertões e a gente vê se vai precisar mesmo de
bengala’, observa. ‘Você gosta, né, Cleyde’, malicia Migliaccio. Risada geral,
mais uma vez.


 


 


************