Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Globo

‘ A praga dos reality shows , cuja proposta é expor ao grande público a intimidade de pessoas comuns (como o ‘Big Brother’), vai ganhar um canal exclusivo, para deleite dos fãs e desprezo de quem defende mais massa cinzenta na televisão. O Fox Networks Group vai lançar, no início de 2005, o Fox Reality Channel, informou ontem o site CNNMoney.

O canal, segundo o diretor-executivo da Fox, Anthony Vinciquerra, vai exibir tanto reprises de programas de muita audiência — como ‘The Swan’, sucesso da TV americana, que transformou um patinho feio em Cinderela com cirurgia plástica — como novas séries.

A Fox anunciou a novidade em meio às acusações de emissoras concorrentes de que a rede estaria pirateando as idéias de novos programas das rivais. A Fox, controlada pela News Corp., de Rupert Murdoch, reconhece que está produzindo programas inspirados em séries das concorrentes que ainda nem estrearam, como ‘The Contender’ (o concorrente), da NBC.

A proposta de um canal só de reality shows , num momento em que todas as redes estão investindo no formato, levou alguns analistas a questionar a decisão da Fox. David Mantell, analista de mídia de Loop Capital Markets, disse ao CNNMoney que há um risco de saturação desse tipo de programa.

— Excesso de algo bom pode acabar sendo prejudicial — acredita Mantell.

A Fox correrá poucos riscos financeiros se recorrer a reprises, mas pode ter problemas se investir em novos programas e os telespectadores se cansarem do formato, argumentam analistas.

Segundo Vinciquerra, a Fox nunca questionou a idéia de lançar um canal de reality shows , mas apenas o momento de fazê-lo.’



SHOW DA FÉ ÁRABE
Laura Mattos

‘RR Soares arma evangelização na TV árabe’, copyright Folha de S. Paulo, 16/07/04

‘‘Evangelização eletrônica do mundo muçulmano.’ É dessa maneira que é internamente chamado um dos planos internacionais do missionário RR Soares, aquele que ocupa boa parte do horário nobre da Bandeirantes.

O evangélico negocia com emissoras árabes a transmissão de seu ‘Show da Fé’ (transmitido pela Band). Estão avançadas, segundo a Folha apurou, as negociações com uma TV da Jordânia.

O objetivo é explorar territórios em que as igrejas evangélicas ainda não viraram uma ‘febre’.

Fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, com quase mil templos no país e represen­ tantes no EUA, Japão e Portugal, Soares é um dos precursores do conceito de ‘telepastor’ no Brasil.

Dono da RIT (Rede Internacional de Televisão, TV aberta com 35 retransmissoras), ele já trans­ mite o ‘Show da Fé’ pela internet com tradução em árabe sobreposta ao som original. O site também mantém textos no idioma.

Soares é cunhado e ex-parceiro de Edir Macedo (Universal). Para o final do ano, prepara o lança­ mento no Brasil de uma TV paga por satélite só com canais evangélicos. Ele deverá cobrar de igrejas brasileiras e estrangeiras interessadas em participar do pacote.

Já está negociando com algumas brasileiras, norte-america­ nas, argentinas e até asiáticas. O missionário pretende vender a assinatura por um preço abaixo do mercado, para as classes C, D e E.’



FORO DE SÃO PAULO
Olavo de Carvalho

‘Desculpe, dr. Menges’, copyright O Globo, 17/7/04

‘Quando o analista estratégico americano Constantine C. Menges, em 2002, escreveu no ‘Weekly Standard’ que a eleição de Lula resultaria na criação de um eixo Brasil-Venezuela-Cuba, os jornalistas brasileiros sabiam que era verdade. Se o desmentiram da maneira mais insultuosa, foi porque temiam que a notícia causasse alarma em Washington e abortasse a realização da profecia, na qual depositavam suas mais belas esperanças. Eleger Lula abria para eles uma perspectiva tão atraente, que muitos, na ansiedade da espera, perderam a cabeça, alardeando no candidato virtudes que raiavam o sublime. Um deles chegou a escrever que Lula era o salvador da pátria anunciado na profecia de São João Bosco.

Uma classe jornalística intoxicada ideologicamente pode constituir, para a difusão da verdade, um obstáculo ainda mais temível que a censura oficial.

Nada, na História universal da empulhação, se compara ao trabalho de conjunto feito pela mídia brasileira para ocultar do eleitorado as conexões que ligavam Lula não só a Hugo Chávez e a Fidel Castro, mas a todos os movimentos revolucionários do continente —- incluindo organizações criminosas como as Farc e o MIR chileno —-, obedientes às diretrizes do Foro de São Paulo, fundado e dirigido por ele.

Às vésperas da eleição, o esforço geral de embelezar a imagem do messias recebeu um poderoso reforço da embaixadora Donna Hrinak, que declarou ser o candidato ‘a encarnação do sonho americano’. E fez isso sem que um único patriota de plantão se sentisse ferido nos seus brios por essa obscena ingerência estrangeira nas nossas eleições. Claro: algumas ingerências, como alguns bichos, são mais iguais que as outras.

Estava tudo indo bem, quando Menges, o estraga-prazeres, disse a obviedade proibida. A reação dos nossos jornalistas foi instantânea. Embora jamais tivessem ouvido falar do articulista, carimbaram-no como agente golpista da CIA, incumbido de bloquear as eleições brasileiras. Sem perceber que se desmentiam, atacaram também na direção oposta. Explorando a casualidade de que o artigo desse colaborador do ‘New York Times’, do ‘Washington Post’ e de ‘Commentary’ fora reproduzido também no ‘Washington Times’, aproveitaram para fabricar uma ligação entre o intelectual highbrow e os negócios mal explicados do reverendo Moon, proprietário desse jornal, insinuando que tudo não passara de uma tramóia do guru coreano para escapar do inquérito que corria contra ele no Brasil. Esquecida fazia anos numa gaveta da Polícia Federal, a denúncia voltou aos jornais, como se fosse de uma atualidade impressionante, até abafar por completo o assunto ‘Foro de São Paulo’.

Qual a confiabilidade profissional de jornalistas capazes de uma tapeação dessas proporções? Eu, da minha parte, cumpri o que seria a obrigação de todos: escrevi ao dr. Menges pedindo mais informações. Descobri que o homem sabia mil vezes mais do que havia escrito. Ele falava com base, era um estudioso sério achincalhado por uma troupe de palhaços e charlatães.

Hoje, o eixo que ele anunciou e todos negaram é um fato consumado. O suado dinheiro do trabalhador brasileiro, extorquido em impostos, jorra em Havana e em Caracas para amparar uma ditadura em declínio e dar força a uma ditadura em ascensão. E até agora os eleitores não sabem que foram ludibriados precisamente para esse fim.

Mas não é só por isso que é tarde para voltar atrás: é tarde, também, porque Constantine C. Menges morreu na manhã do dia 11, de câncer na bexiga.

Filho de refugiados do nazismo, ele dedicou sua vida e sua formidável inteligência à defesa da liberdade, seja na luta pelos direitos civis dos negros ou contra a opressão comunista. Professor de várias universidades, escreveu livros importantes. E todo o noticiário da América Latina publicado neste país na última década não vale um único dos boletins de análises que ele distribuía mensalmente a um círculo de amigos e admiradores, entre os quais tive a honra de me incluir, embora como último da fila.

Adeus, dr. Menges. E, ainda que tarde, aceite minhas desculpas pela mesquinharia de meus compatriotas. Eles não sabem o que fazem.’

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‘Desinformação colossal’, copyright Zero Hora, 11/07/04

‘Outro dia assisti a uma conversa entre o sr. Alberto Dines e um grupo de jovens jornalistas paranaenses. Como falassem da autocensura, que o diretor do ‘Observatório da Imprensa’ dizia considerar a mais tenebrosa doença do jornalismo, notei que nem ele nem seus interlocutores mencionavam aquele que é, numa escala estritamente objetiva, o mais duradouro e mais vasto fenômeno de ocultação de informações essenciais já registrado na história da mídia ocidental.

Refiro-me, é claro, ao Foro de São Paulo. Uma entidade existente há quatorze anos, fundada por dois pop stars do esquerdismo mundial — Lula e Fidel Castro — e integrada por mais de oitenta partidos e movimentos, já é, só por essas características, a mais importante organização política do continente. Quando, porém, a leitura de suas resoluções nos revela que têm poder decisório, que coordenam numa estratégia unificada as ações de todas as entidades filiadas e que entre estas últimas se contam partidos legais como o PT ou o PPS, quadrilhas de narcotraficantes como as FARC ou de seqüestradores como o MIR chileno e até entidades juridicamente indefiníveis como o MST, então se torna claro que estamos diante de um poder descomunal, cuja atuação de conjunto, permanecendo totalmente desconhecida do público e de seus eventuais adversários, só pode se defrontar com resistências avulsas, esfareladas, cegas e, é claro, miseravelmente impotentes para fazer face a um desafio dessas dimensões. O tamanho do monstro e o privilégio da invisibilidade que a mídia lhe garante fazem de toda a política continental e especialmente nacional um jogo de cartas marcadas, com resultado previsto e inescapável.

Em outros países da AL, a informação circula e vai-se formando, aos poucos, alguma consciência da situação. No Brasil, fora desta coluna e de alguns sites da Internet, só o jornalista Boris Casoy tocou no assunto, fazendo ao então candidato presidencial Luís Inácio Lula da Silva uma pergunta sobre as ligações PT-FARC, a qual foi respondida com um solicitação gentil de que calasse a boca. A mídia nacional inteira atendeu e continua atendendo. Quando até mesmo profissionais soi disant preocupados com a liberdade de imprensa conservam ritualmente um silêncio obsequioso, preferindo brincar de Poliana com as virtudes róseas da democracia brasileira ou desviar as atenções dos leitores para abusos miúdos e laterais, então é que já se passou da mera ‘autocensura’, inibição forçada pelo medo, à cumplicidade ativa, ao colaboracionismo voluntário, à desinformação consciente.

Se, entre os jornalistas, nenhum se queixa de não poder falar do Foro de São Paulo, é porque, de fato, nenhum deseja fazê-lo. A completa ocultação do estado de coisas ao conhecimento da opinião pública não é, para eles, uma situação constrangedora, mas o exercício normal do que entendem por liberdade de imprensa: a liberdade de usar a imprensa, sem obstáculos nem contestações, como instrumento de desinformação a serviço da estratégia esquerdista de dominação continental. Dominação que, é claro, sendo exercida em parceria por eles próprios, não lhes pesa em nada e não lhes parece nem um pouco antidemocrática.

Ao longo de quatro décadas, foram preparados para isso, dessensibilizados moralmente, padronizados intelectualmente e adestrados na técnica do auto-engano em faculdades de jornalismo que não admitiam outra ciência senão a dos Bourdieus, dos Foucaults, dos Gramscis e da Escola de Frankfurt.

Renegar o pacto de cumplicidade geral, devolver à imprensa a sua missão de informar o público, está acima de suas possibilidades. Nenhum ser humano deseja a verdade, quando ela se volta contra toda a cultura que o criou e que é, para ele, a matriz mesma da sua hominidade. O instinto de autodefesa tribal exige a abdicação completa da consciência moral pessoal, oferecendo em troca um reconfortante sentimento de ‘participação’.’



Alberto Dines comenta

 Soube que o professor Olavo de Carvalho estava presente ao ‘Café Literário’ em Curitiba e esperava que levantasse alguma questão. O agradável evento foi assistido não apenas por estudantes de Jornalismo mas por um monte de gente que nenhuma relação tem com o jornalismo – a não ser ler jornais e livros. A idéia era falar sobre o (re) lançamento do meu Morte no Paraíso, a Tragédia de Stefan Zweig que ocorrerá em breve, sobre a atualidade do mundo de ontem e sobre o Brasil, País do Futuro, que, 65 anos depois de lançado, ainda é assunto quente. Se ele me perguntasse sobre o Fórum de São Paulo, eu certamente teria respondido. Mas não posso adivinhar a pauta de preocupações do ilustre observador. (A.D.)