Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Última Hora abre acervo na internet

Parte de um vasto painel social, econômico, político e cultural dos anos 1950 e 1960 no Brasil ganhou visibilidade na internet. Mais de 50 mil fotos, muitas inéditas, e outras mil ilustrações do acervo do jornal Última Hora, do Rio, foram colocadas no site do Arquivo Público de São Paulo em agosto (www.arquivoestado.sp.gov.br). O material, que pode ser consultado online gratuitamente, faz companhia a milhares de páginas da publicação que estão disponíveis desde 2008 na rede.

Fundado pelo jornalista Samuel Wainer (1910-1980) em 1951, o Última Hora é um caleidoscópio de um período de transformações do Brasil, que abrange desde o segundo governo de Getúlio Vargas, iniciado no mesmo ano, até a ditadura militar. Essa é a visão do historiador Lauro Ávila Pereira, diretor do departamento de preservação e difusão do acervo do Arquivo Público.

Ávila ressalta que as cores do Última Hora não são só políticas: ‘Teatro, futebol, economia e o dia-a-dia de diversas camadas da sociedade eram retratadas.’ ‘Popular e dinâmico’, diz Ávila, o Última Hora é fonte de pesquisas de um ‘importante período histórico, social, econômico e político, entre o início da década de 50 e o golpe militar de 1964’.

Às 50 mil imagens colocadas recentemente no site, devem se juntar mais 30 mil ainda neste ano. Dessas fotografias, ‘muitas foram vistas apenas duas vezes: por quem clicou e pelo editor que não quis publicá-la’, diz Ávila. Isso porque o conjunto vem de mais de 500 mil negativos que não chegaram a ser ampliados para publicação. Ou seja, material inédito.

‘O Corvo’

De 1951 a 1971, quando o jornal era controlado por Wainer, publicaram no Última Hora do Rio profissionais como o fotógrafo Jean Manzon (1915-1990) e os chargistas Nássara (1910-1996), Octavio e Lan. Foi ali que Lan, por exemplo, retratou o jornalista Carlos Lacerda (1914-1977) como uma ave negra – ‘O Corvo’, como Wainer o chamava. O editor do Última Hora, que apoiava Getúlio Vargas, era inimigo de Lacerda, opositor radical do presidente.

Em 1965, a empresa Folha da Manhã SA comprou o jornal, que mudou o foco e foi publicado até 1979.