Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Unir e transformar para mudar o conceito de favela

(Foto: Unsplash)

Diante de todos os fatos que acontecem nas periferias, tanto positivos quanto negativos, a mídia opta por mostrar, muitas vezes, apenas os negativos. É que a indústria da desgraça é vista como um bom negócio: dar a notícia de que um tiroteio foi realizado pelos traficantes para comemorar a chegada de drogas é melhor até mesmo do que mostrar o novo centro de atividades para a comunidade, por exemplo.

O que geralmente se vê quando o assunto é favela são mortes, balas perdidas e invasão da polícia por causa de facções. Não é à toa que a enxergam como um local perigoso, onde a maior parte da sociedade que vive fora tem receio de ir, criando uma ligação entre medo e favela. A indiferença é o que faz com que a favela não tenha vez, voz… – o que acabou criando uma cultura de opressão refletida por uma comunidade cheia de receios. É como diz a música Boca de Lobo, do rapper Criolo: “Ponto 40 rasga aço de arrombar, só não mata mais que a frieza do teu olhar”.

O termo favela já deixou de ser uma simples atribuição de desigualdade para começar a adquirir princípios bem mais amplos que vão além de um rótulo determinado pela sociedade. Mas o que impede de mudar a forma como ela é vista é a grande mídia brasileira.

Associação para promover o lazer no bairro (Favela do Almeida, Osasco) (Foto: Luana Miranda)

Quadra aberta para os moradores (Favela do Almeida, Osasco) (Foto: Luana Miranda)

Academia ao ar livre para estímulo de exercícios físicos entre os idosos (Favela do Almeida, Osasco) (Foto: Luana Miranda)

O padrão de que só quem consegue enxergar coisas boas dentro de uma periferia são os próprios moradores precisa ser descartado; o outro lado da moeda também merece atenção. É preciso que sua autoestima seja reerguida para que os holofotes se ajustem igualmente diante dos fatos que acontecem. O outro lado da moeda mostra uma periferia onde todos se conhecem, sabem suas dores e se ajudam, que conta com escolas, comércio para gerar empregos, lazer e atividades sociais. Mostra uma comunidade digna de respeito e cheia de fatores positivos.

A Cufa (Central Única das Favelas) é um deles, uma organização brasileira que existe há vinte anos para mostrar que a favela tem voz para expressar sua maneira de viver. É reconhecida nacionalmente e internacionalmente por promover atividades educacionais, esportivas, sociais e culturais, fora os projetos que têm como objetivo principal fazer a diferença na vida de quem participa. A Cufa forma e informa os cidadãos dos 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal e de países como Bolívia, Alemanha, Chile, Hungria, Itália e Estados Unidos.

Campo de futebol que concentra campeonatos entre os times do Almeida e de bairros vizinhos (Favela do Almeida, Osasco) (Foto: Luana Miranda)

Mães garantem vaga para as crianças em creche pública local (Favela do Almeida, Osasco) (Foto: Luana Miranda)

EMEI pública (Favela do Almeida, Osasco) (Foto: Luana Miranda)

Diversos trabalhos sociais estão presentes na maioria das comunidades brasileiras, oferecendo cursos e oficinas que servem como forma de integração e inclusão social do jovem, gerando conteúdo para que a cultura local passe a ser outra. É desse tipo de tratamento que as periferias precisam para que sejam reerguidas moralmente. É essa cultura que precisa ser efetivada e mostrada, uma cultura do bem e cheia de oportunidades.

Enxergar que quem vive lá dentro muitas vezes tem a oportunidade de sair, mas prefere continuar ali, justamente por existirem movimentos e atividades tão bons quanto os do lado de fora. Reboco, becos e vielas que constroem uma favela, só quem conhece pode descrever, mas, no Brasil, quem não possui o padrão de elite determinado pela sociedade, seja uma pessoa ou uma comunidade inteira, não é ouvido.

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Luana Miranda, 23 anos, é jornalista recém-formada pela Universidade Nove de Julho, especialista em mídias sociais e assessoria de imprensa.