Saturday, 25 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1289

Prêmio internacional não é notícia

No dia 15 de outubro de 2013 o programa Bolsa-Família foi agraciado com o I Award for Outstanding Achievement in Social Security. O prêmio, em sua primeira edição, foi conferido pela ISSA – International Social Security Association, instituição fundada em 1927 e composta por 330 membros de 157 países. Com sede em Genebra, o prêmio será entregue entre 10 e 15 de novembro em Doha, capital do Qatar, e contará com a presença de mais de mil agentes de políticas sociais espalhados por 150 países.

A instituição ressalta que o Bolsa-Família, lançado em 2003, é um programa de transferência condicional que alcança mais de 50 milhões de pessoas e retirou da pobreza 36 milhões de pessoas gastando apenas 0,5% do PIB anual do Brasil. A quebra da ciclo intergeracional de pobreza também é um aspecto levantado. O presidente da Instituição, Errol Frank Stoové, ao anunciar o país premiado, destaca o aumento da educação e saúde da população atendida pelo programa e diz esperar que o exemplo brasileiro seja seguido por outros governos.

Essa notícia, que acabamos de ler, só foi possível após pesquisa na internet e acesso direto ao site do ISSA. Alguns poucos jornais, como o Correio Braziliense, relatam de forma resumida a notícia. Mas os maiores jornais do Brasil, sejam impressos ou televisivos, não fizeram sequer menção ao prêmio. Destaque-se ainda estudo recente publicado pelo Ipea que constata que cada R$1,00 gasto no Bolsa-Família retorna em R$1,78 para a economia e foi, sem dúvida, um dos motivos para o pequeno impacto da crise mundial no Brasil.

O papel triste da mídia

A mídia realmente se cala para um dos programas de maior sucesso de toda a história brasileira. É interessante notar que toda e qualquer notícia relativa aos problemas do programa é reiteradamente destacada na mídia, como foram os casos de desvios (que certamente ocorrem) ou problemas de fiscalização (um dos maiores desafios do programa, tendo em vista sua capilaridade e o poder fiscalizatório conferido aos municípios). Assim, noticiam-se problemas de sua execução, mas o melhor programa de seguridade social do mundo não é motivo de orgulho da nação. Triste sina…

Respeitados por noticiar sempre o lado negativo, alguns jornais, de forma sutil, tentam minimizar esse lado “sombrio”. Mas não creio que a ombudsman da Folha de S.Paulo chegará a tanto. Lembro ainda a muitas vezes reiterada falta de credibilidade da CartaCapital, com seus editoriais simplesmente tachados como chapa branca. Mas lá, a notícia é destacada.

É triste ver a mídia, independente de que lado se posicione, não poder enaltecer o bom caminho trilhado na resolução de um dos maiores problemas nacionais, a pobreza. Triste, ainda mais, por saber que o tema não sairá da agenda nacional, mesmo que forças de oposição voltem ao poder.

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Giovanne Bicalho é servidor público, Brasília, DF