Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sem falsas expectativas

Apesar do massivo apelo do marketing na mídia para mobilizar e vender o clima da Copa, o espaço dado pela população ao verde-amarelo nas ruas e nas rodas de conversa tem sido tímido, mesmo a poucos dias do Mundial. O clima de animosidade pode evidenciar um espírito de amadurecimento do brasileiro. O povo não é mais aquele do complexo de vira-lata, conforme comparou Nelson Rodrigues, referindo-se ao trauma sofrido pela Seleção brasileira na derrota na final de 1950 e ao abalo da nossa autoconfiança.

O anticlímax com esta Copa do Mundo pode ser uma amostra da nova condição social que o país está vivendo, representado uma mudança de comportamento. Algo semelhante aconteceu em 2006, na Alemanha, quando os moradores locais continuaram sua rotina normalmente durante a realização da Copa do Mundo, já que a entrega das obras com atraso não é exclusividade brasileira nem só de países em desenvolvimento. Em Stuttgart, a obra que estava prevista para agosto de 2001 só foi entregue no final de 2005.

O atual comportamento, no entanto, tem mais a ver com a condição de vida do brasileiro, que melhorou de modo significativo na última década. Milhares de pessoas conseguiram acesso à educação, ao mercado de trabalho e à renda possibilitando assim uma vida mais digna, ascendendo de classe social e resgatando a autoconfiança. O novo cenário acaba dando uma segurança e um ânimo maior para controlar o rumo da vida, sendo menos vulnerável aos fatores externos e momentâneos.

Além disso, a chegada da internet e o investimento em infraestrutura na área da comunicação ampliou o acesso à informação. Graças à facilidade das tecnologias e a disponibilidade das redes sociais, a produção e o consumo de informações aumentou muito desde os anos 90, criando uma relação comunicacional participativo e interativo, formando um cidadão-consumidor mais racional e crítico. Inseridas nesse novo contexto social, hoje as exigências vão muito além da torcida pelo sucesso dentro de campo. Afinal, temos o espírito mais crítico e a visão mais ampla da realidade.

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Elstor Hanzen é jornalista