Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A interrelação dos veículos

Venício Artur de Lima vem apresentando neste Observatório textos questionando a relevância que muitos dão aos grandes jornais diários – Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e Globo – em detrimento de outros veículos, em especial a TV Globo (ver ‘Qual a relevância dos jornalões?‘ e ‘Onde circulam, quem os lê?‘).

Fundamental uma boa reflexão sobre os argumentos colocados pelo articulista. Penso, no entanto, que ele observa os veículos de uma forma isolada, ignorando um dado novo que Alberto Dines vem observando já há alguns anos, que é o fato de os veículos, no Brasil, funcionarem de forma interrelacionada naquilo que chamamos sistema midiático.

Observemos alguns pontos:

** Como a legislação brasileira não impede a propriedade cruzada, em praticamente todos os estados brasileiros temos grupos midiáticos que detêm jornais e emissoras de rádio e TV. Sejam os jornais impressos, sejam os telejornais, todos produzem apenas noticiário local. Os jornais impressos, invariavelmente, assinam serviços das agências de notícias vinculadas aos grandes jornais (Agência Folha, Agência Estado, Agência Globo). Com isso, as principais matérias dos grandes jornais são reproduzidas nacionalmente pelos jornais regionais. Raros são os jornais regionais que contam com sucursais em Brasília ou em outros estados. Quando muito, contam com um repórter que cobrem a ação dos parlamentares do estado do jornal.

** Estes jornais também reproduzem as colunas das grifes jornalísticas dos jornalões. Miriam Leitão, Merval Pereira, Arnaldo Jabor, Juca Kfouri, Clovis Rossi, Fernando Calazans e tantos outros colunistas não são publicados apenas nos jornalões, mas em quase todos os estados brasileiros. A maioria dessas colunas termina tendo circulação nacional, pois em praticamente todos os jornais nas capitais dos estados há um que as reproduza.

Aliás, vários desses colunistas são multimídia. Escrevem para jornais, falam para rádio e TV e mantêm colunas na internet.

Diante desses fatos, afirmar que os jornais não são nacionais, pois sua circulação é majoritariamente na sua cidade sede, é um equívoco.

A esses dados, deve-se considerar também que entre os grandes grupos midiáticos regionais estão os que editam esses jornais e também são afiliados ou repetidores da TV Globo. Nesta estrutura que se configura num efetivo sistema midiático, como lembra Dines, é fundamental entender o peso relativo de cada um dos veículos – o que Venício Artur de Lima vem fazendo. Mas é preciso, também, entender a interrelação entre eles.

******

Jornalista, professor do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo