Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

A posse da ‘presidenta’: outras visões

‘Eu vou governar para todos os brasileiros’ – repetia incessantemente a televisão, repercutindo infinitas vezes a cerimônia de posse presidencial. Só não criticava o ‘povo’ que foi convidado e permitido na cerimônia: um mar de supostos militantes uniformizados, uma espécie de falange que aplaudia disciplinadamente o cortejo das autoridades – medida asséptica tomada para impedir manifestações tão comuns nos países democráticos, como protestos contra o aumento de 65% concedido para a própria Dilma e aos parlamentares, enquanto o salário mínimo foi reajustado em apenas 5%.

O carro de ‘presidenta’ foi ladeado, primeiramente por policiais militares femininas e depois por policiais masculinos, que corriam de terno, desconfortavelmente na chuva, tal escravos de uma infanta imperial. A cerimônia de posse foi um festival de trapalhadas e até mesmo grosserias. Dona Marisa bocejava, Lula resmungava e, como ninguém sabia cantar o hino nacional, Lula resolveu abraçar sua mulher como se estivesse em uma festinha familiar.

Deu impressão também que o cerimonial da ‘presidenta’, procurando evitar figuras femininas concorrentes, afastou ao máximo a bela esposa de Temer, que parecia um paxá caminhando sempre alguns passos à frente, enquanto a senhora Marcela seguia atrás, sempre sozinha, parecendo desorientada, para no fim ser cumprimentada rispidamente por Lula.

Lucros divididos

Quando Erenice Guerra – assim como Palloci, inocentada após ‘rigoroso’ inquérito administrativo – apareceu toda sorridente cumprimentando Dilma, lembrei-me da posse de Castelo Branco e do início da ditadura. Antes, imposta pela violência da força. Agora, pela violência dos compadrios e ‘favorecimentos’ com o dinheiro do povo. Mas a TV Globo e suas associadas (inclusive a TV da família Sarney), zelosamente apagaram todas estas cenas, dentro de sua política de desinformação e criação de falsas realidades, chamada eufemisticamente de ‘agenda positiva’.

Afinal, a turma de ‘lá’ arranja os negócios e a turma de ‘cá’ entra com a suposta capacidade técnica – nada é construído e os lucros são divididos. E assim todos vão vivendo felizes, com a famiglia agora aumentada com o novo companheiro Battisti.

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Físico e escritor, Rio de Janeiro, RJ