Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Fundador da Amazon compra o ‘Washington Post’

O tradicional jornal norte-americano Washington Post, responsável pelas denúncias que levaram à queda do presidente Nixon, em 1974, no escândalo conhecido como Watergate, foi comprado pelo fundador e presidente executivo da Amazon, Jeff Bezos por US$ 250 milhões. Esse é o primeiro grande investimento do executivo fora do meio digital.

O anúncio da negociação foi feito nesta segunda-feira [5/8] pelo grupo Washington Post Company, que controla o jornal e outras empresas. A transação de US$ 250 milhões será concluída em dois meses e inclui a divisão de jornais do grupo, com outras publicações.

O grupo Washington Post Company, que terá um novo nome, ainda não definido, continuará sendo o proprietário de outras publicações, como as revistas Slate, Foreign Policy e o site TheRoot.com, além de outros negócios na área educacional e de televisão, em que também atua.

“Com o sr. Bezos como proprietário, este é o começo de uma era nova e animadora”, disse Katharine Weymouth, presidente e publisher do Washington Post. Ela continua no cargo, a pedido de Bezos, assim como os principais executivos da empresa. O fundador da Amazon vai manter a administração do jornal com a atual configuração.

Apesar de o negócio ter sido feito em nome do investidor e de não incluir a Amazon, a área editorial é um setor que a varejista tem explorado desde o lançamento do leitor de livros digitais Kindle, em 2007. A empresa também incluiu jornais e revistas entre as opções de conteúdo digital que podem ser compradas pelos usuários, mas o foco sempre foram os e-books.

O valor do negócio é pequeno se comparado a transações recentes no meio digital. Em maio, por exemplo, o Yahoo comprou o Tumblr, uma popular plataforma de publicação, por US$ 1,1 bilhão. No ano passado, o Facebook pagou US$ 1 bilhão pelo aplicativo e rede social de fotografia Instagram.

Legado

A compra por parte de Bezos encerra o período de oito décadas em que a família Graham esteve à frente do tradicional jornal norte-americano, desde que a publicação foi comprada pelo investidor Eugene Meyer depois que o jornal tinha ido à falência, em 1933.

O Post, fundado em 1877, ficou marcado na história pela série de reportagens, publicadas a partir de 1972, sobre escândalo do Watergate, dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein. O caso terminou, dois anos depois, com a renúncia do presidente Richard Nixon. “Todos na Post Company e todos em nossa família sempre tivemos orgulho do Washington Post – do jornal que publicamos e das pessoas que o escrevem e o produzem”, disse Don Graham, neto de Eugene Meyer, presidente do conselho e CEO da Washington Post Company. Ele continuará no cargo.

O jornal é visto como um dos mais influentes e admirados dos EUA, ao lado do New York Times, mas sua situação financeira foi agravada nos últimos dez anos por causa do declínio das receitas com publicidade e de leitores.

Em reportagem publicada na segunda-feira [5] pelo Post, Don Graham afirmou que sua família reagia em choque à possibilidade de vender a empresa. “Mas, quando surgiu a ideia de uma transação com Jeff Bezos, meus sentimentos mudaram”, disse. “O jornal poderia sobreviver e ser lucrativo num futuro próximo sob propriedade da empresa, mas queríamos fazer mais do que sobreviver. Não estou dizendo que isso (a venda) será garantia de sucesso, mas nos dá mais chance de alcançá-lo.” Graham contratou a empresa Allen & Co., no início do ano, para fazer a negociação e encontrar potenciais compradores para o jornal.

(*) Filipe Serrano, do Estado de S. Paulo

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Jeff Bezos compra o ‘Washington Post’ por US$ 250 milhões

Reproduzido do Globo.com, 5/8/2013

A Washington Post Company anunciou nesta segunda-feira a venda da sua divisão de jornais para Jeff Bezos, fundador e diretor executivo da Amazon.com, por US$ 250 milhões. O negócio encerra o ciclo de oito décadas da família Graham à frente de um dos principais diários americanos e coloca um dos pioneiros do mercado de e-books no comando de um tradicional veículo de comunicação.

– Todos os membros da minha família tiveram a mesma sensação inicial – de choque – até mesmo em pensar sobre a venda – disse Donald Graham, diretor executivo do Post. – Mas quando surgiu a ideia da transação com Jeff Bezos, mudei os meus sentimentos.

A Amazon não participa do negócio. Bezos, um dos homens mais ricos do mundo, vai assumir sozinho toda a divisão de publicações da Washington Post Company, que inclui os jornais Washington Post, Express, Fairfax Conty Times e El Tiempo Latino; os grupos The Gazette Newspapers e Southern Maryland Newspapers; e a editora Greater Washington Publishing.

A Washington Post Company continua como uma empresa de capital aberto, mas terá que mudar de nome. A companhia possui investimentos nas áreas de serviços educacionais e televisão.

Crise na indústria

Fundado em 1877, o Post já foi uma das referências do jornalismo mundial, com destaque para o caso Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974. Este ano, o jornal foi responsável, junto com o britânico The Guardian, pela divulgação do escândalo de espionagem pelas agências de espionagem dos EUA.

Porém, assim como toda a indústria de jornais impressos nos EUA, o Post vem sofrendo com quedas na circulação e na receita publicitária. A divisão de jornais da companhia sofreu perda de 44% nas receitas operacionais nos últimos seis anos. A concorrência com a internet reduziu a audiência e pulverizou o mercado publicitário, além de ter praticamente extinto os anúncios classificados. Para tentar reverter as perdas, o Post anunciou em junho deste ano a implantação da cobrança pelo acesso ao site, o chamado paywall.

– O Post poderia sobreviver sob comando da nossa empresa e continuar rentável no futuro próximo, mas nós queríamos mais do que sobreviver. Não estou dizendo que existe uma garantia de sucesso, mas dá uma chance muito maior – disse Graham.

Em entrevista, Bezos classificou o Post como uma “instituição importante” e expressou otimismo sobre o futuro.

– Eu não quero dizer que tenho um plano pronto. Este será um terreno inexplorado que vai exigir experimentações – afirmou Bezos, que assume pela primeira vez o comando de um jornal.

Sem mudanças no curto prazo

Apesar da troca no comando, Graham e Bezos afirmaram que o gerenciamento e as operações do jornal não serão modificados no curto prazo. A diretora de redação e sobrinha de Graham, Katharine Weymouth, continua no cargo, assim como o editor-executivo, Martin Baron. Os cerca de dois mil funcionários também serão mantidos.

– Não haveria mudança com ou sem um novo dono. Mas o que eu espero que as pessoas entendam é que os valores do Post não precisam mudar. O compromisso do jornal é com os leitores, não com os proprietários – disse Bezos.

 

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