Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Futebol: os dois lados da mesma moeda

Ah, o futebol! Que beleza! É de encher os olhos… No último sábado, 6 de junho, a final da UEFA Champions League mostrou o quão belo pode ser esse espetáculo esportivo. Mais de 400 milhões de pessoas em cerca de 200 países assistiram ao jogo no qual Messi, Neymar, Suárez e companhia jogaram o “fino da bola” para dar o título ao Barcelona, da Espanha, frente à valente Juventus, da Itália.

Transmissão perfeita, seja no canal fechado ou na TV aberta. O Estádio Olímpico de Berlim estava lotado, pintado de branco e preto de um lado e azul-grená de outro. Os torcedores deram um show à parte. Apaixonados fizeram questão de viajar dos seus países de origem só para acompanhar seus times na partida mais importante da temporada. Um exemplo de como o futebol deve ser explorado para gerar lucro e atrair mais admiradores, vendendo ídolos e estimulando a prática ao redor do mundo. Apesar de tudo, o futebol é ainda o esporte mais popular do planeta.

Ah, o futebol! Que horror! A impensável quantia de dinheiro movimentada nos campeonatos e entidades organizadoras fechadas como cofres dificultam a fiscalização e facilitam a corrupção, com dirigentes se aproveitando para receber o “por fora” através de propinas para beneficiar determinadas empresas nos diversos tipos de contratos que circundam uma competição.

Uma hora a farra tinha que ser descoberta. Resultado: o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, investigou, prendeu sete membros e indiciou outros sete componentes do alto escalão da Fifa, entidade máxima do futebol, que, por sinal, tem pouca ou nenhuma influência na UEFA Champions League, competição organizada diretamente pela União Europeia de Futebol.

Ingenuidade ou má vontade

Segundo o UOL, os 14 indiciados são acusados de extorsão, fraude, lavagem de dinheiro, entre outras irregularidades. A investigação aponta o pagamento de propinas de US$ 150 milhões (mais de R$ 450 milhões) em questões ligadas a transmissão de jogos e direitos de marketing do futebol nos Estados Unidos e na América do Sul.

Entre os presos está o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marín. O que pensar disso? Bem, nosso futebol já é conhecido pelos constantes altos e baixos. Estádios vazios, clubes falidos, campeonatos com pouca ou nenhuma expressividade, queda de audiência na televisão aberta e uma seleção brasileira cada vez menos competitiva (lembremos a derrota de 7 x 1 para a Alemanha) são apenas alguns dos resultados nefastos de seguidas gestões que trabalharam pelo lucro (muitas vezes ilícitos) de alguns em detrimento do desenvolvimento do esporte no país.

Achar que somente o amor do brasileiro vai segurar o futebol é ingenuidade ou má vontade. Mesmo admitindo que o futebol promovido na Europa não está livre de corrupção, cabe-nos olhar para lá e tentar aprender um pouco. Essa tecla já foi batida muitas vezes, mas não custa nada reforçar. Caso contrário, o futebol aqui no Brasil estará fadado à inanição.

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Raul Ramalho é jornalista