Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Neymar, acorda para a vida!

Neymar já foi chamado de “novo Pelé” pela Time. Não foi exagero da publicação americana. Afinal, o jogador brasileiro tem tudo para alcançar um sucesso extraordinário no futebol. Neymar é jovem e representa as expectativas positivas de todos os brasileiros quanto ao futuro do futebol. Além do mais seu talento é uma grande credencial. O fato é que as conquistas chegaram cedo; existe ali, naquele astro incondicional, uma mente imatura pouco preparada para os negócios. Ele é um sucesso também na publicidade, mas ainda não sabe dar uma entrevista, traçar um pensamento interessante e expô-lo em frases compridas. Neymar é monossilábico e não sabe; aos fãs, basta que jogue um bom futebol. Mas na Europa, um jogador precisa ser mais do que um grande ídolo; precisa ser adulto.

O jeito moleque de brincar com a bola não deve ser deixado para trás. Mas é preciso respeitar os adversários. A “lambreta” sobre os jogadores do Atlético de Bilbao foi a exposição clássica da imaturidade. O Barcelona vencia o jogo com tranquilidade, por 3 a 1, e conquistava a Copa do Rei da Espanha. Não havia necessidade de achincalhar o adversário. Quase sempre não há. O Barcelona é uma espécie de rolo compressor. Não precisa acentuar às suas vitórias um pouco de deboche, como fez Neymar. Faltou experiência onde sobra talento. Os jogadores do Atlético de Bilbao partiram para cima do jogador brasileiro e, graças aos companheiros do Barcelona, Neymar não foi agredido ou não provocou um incidente mais grave em campo.

Neymar precisa de um relações públicas. Expõe sua imagem em eventos e parcerias que são um verdadeiro fiasco. Ainda no ano passado, através de Ronaldo, que deve exercer um tipo de parceria inquestionável, Neymar aderiu à campanha de Aécio Neves. Tudo bem. Qualquer brasileiro consciente dos seus direitos políticos deve definir posições e escolher os seus candidatos. Acontece que Neymar pareceu aglutinar-se a uma frente nada ideológica, – mas primacialmente interesseira – para eleger o candidato da minoria que centraliza o poder no país. Com ele estavam Luciano Huck, José Maria Marin, dezenas de atores globais e o próprio Ronaldo. Em vídeo, Neymar, que já vivia na Espanha, disse ter tomado a decisão de apoiar Aécio depois de uma conversa com a família.

Um mar de egoísmos

Neymar é uma estrela e brilha com força. Não precisa de desmedidas ações para alastrar o brilho. Às vezes, parece forçoso impor sobre a testa aquele velho jargão de que “Jesus é fiel”; é forçoso esgueirar-se para aparecer em todas as fotos e imagens depois do título da Liga dos Campeões. Neymar é estrela, mas não tem ainda a intensidade do fulgor de Messi. E isso deveria estar claro, sobretudo no seu próprio discurso e ações. Ele se equivocou propositalmente ao receber as honrarias da imprensa e da torcida em êxtase após o terceiro gol do Barcelona contra a Juventus. Um jogador sério abdicaria daquele esplendor porque o terceiro gol era apenas a confirmação do título. E o pior: existe no time um jogador como Messi. Ninguém consegue alçar os louros da vitória com mais legitimidade do que ele.

A transferência de Neymar para o Barcelona continua sendo investigada pela justiça. Como grande ídolo, ele tem a seu favor o talento. Precisa aprender a viver com suas próprias pernas e adquirir a experiência necessária para ser de fato um ícone do esporte. Neymar é egoísta, egocêntrico e começa a se sentir o melhor jogador do mundo. Não é. Ele deve respeitar o tempo e esperar seu momento, que virá naturalmente. É mimado pela imprensa esportiva e paparicado pelos dirigentes da CBF. Neymar pode ser, sim, o “novo Pelé”, mas precisa se comportar não como o Pelé fora do campo. Neymar é jovem, inteligente e pode receber auxílio de um profissional para impor uma imagem mais responsável e séria. Como tudo nesse mundo se dissipa, ele tem sobre si a decisão de concretizar a carreira ou vê-la afundar num mar de egoísmos.

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Mailson Ramos é relações públicas