Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Obama participa de talk show humorístico

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 20 de março de 2009


 


EUA
NYT, AFP, AP e Reuters


Obama participa de talk show humorístico


‘O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, gravou ontem uma participação no programa The Tonight Show with Jay Leno, da rede NBC, líder de audiência na TV americana. Em plena campanha para promover sua estratégia de combate à crise econômica e aprovar seu primeiro orçamento, Obama tornou-se o primeiro presidente americano no exercício do cargo a comparecer a um talk show humorístico.


Obama passou os últimos dois dias em Los Angeles, onde é gravado o programa, para participar de alguns encontros públicos, nos quais explicou suas medidas econômicas, que incluem um plano de estímulo de US$ 787 bilhões e uma nova regulamentação do sistema financeiro.


A Casa Branca explicou que o presidente teve de gravar sua participação no Tonight Show, pois teve de voltar para Washington no início da noite de ontem, pouco antes de o programa ir ao ar.


Nos EUA, durante a campanha presidencial, é bastante comum os candidatos aparecerem como convidados de programas humorísticos. Obama esteve no Tonight Show, em outubro, e gravou participações para o humorístico Saturday Night Live, também da NBC, e para o Late Show with David Letterman, talk show da CBS.


PENA DE MORTE


O governador do Novo México, Bill Richardson, revogou ontem a pena de morte no Estado e a substituiu pela prisão perpétua, sem direito à liberdade condicional. O Novo México tornou-se o 15º Estado americano a abolir a pena capital. A medida havia sido aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado estaduais e precisava apenas da assinatura de Richardson para entrar em vigor.’


 


 


ARGENTINA
Marina Guimarães


Proposta de Cristina afeta Grupo Clarín


‘O projeto de lei que a presidente argentina, Cristina Kirchner, pretende enviar ao Congresso para regulamentar as atividades de rádio e TV desatou uma nova polêmica no país. O setor é regulado por uma lei da época da ditadura (1976-1983) e há consenso entre os especialistas de que novas regras são necessárias. Mas a proposta ‘é claramente um ataque contra o Grupo Clarín e não terá apoio no Congresso’, disse ao Estado um importante analista político argentino, que prefere não ser identificado para ‘não entrar nessa briga’.


Pelo novo projeto de Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, poderão ser concedidas somente dez licenças de serviços abertos de rádio e TV para uma só pessoa ou grupo em nível nacional. Hoje, são concedidas 24 licenças. Para a exploração de serviços de TV a cabo o limite é de 24 licenças, ‘mas em nenhum caso a prestação do serviço pode atingir mais que 35% do total de assinantes’, diz um dos artigos. O Grupo Clarín detém quase 70% dos assinantes. A proposta deixa claro que um mesmo grupo não poderá ser dono, simultaneamente, de uma rádio, um canal de TV a cabo e um aberto numa mesma região. As licenças serão concedidas por 10 anos (hoje são 15), podendo ser prorrogadas.


O ponto mais polêmico da proposta é a decisão de anular a proibição para que companhias telefônicas participem do mercado de TV a cabo. O projeto permite que essas companhias ofereçam pacote de telefonia, TV a cabo e internet de banda larga – um setor dominado pelo Grupo Clarín. O principal candidato a uma fatia desse mercado é a espanhola Telefônica.


Outro golpe no Grupo Clarín é o artigo que prevê a gratuidade da transmissão dos ‘jogos relevantes de futebol, que poderão ser vistos por TV aberta’. O futebol move milhões de dólares para a emissora com contrato de exclusividade do direito de transmissão.


O governo também reservou 33% do espectro de radiofrequência (AM, FM, UHF, VHF) para entidades sem fins lucrativos (universidades, organizações sociais e sindicatos).


‘É um projeto feito por um governo frágil que, a partir das eleições de 28 de junho, quando deverá perder nas principais províncias, terá de começar a negociar sua saída do poder, de forma ordenada, em 2011’, avaliou a fonte, que acrescentou: ‘É preciso ver quantos deputados e senadores se disporão a enfrentar os meios de comunicação para defender o governo nessa questão com o Clarín.’


O projeto que foi anunciado anteontem por Cristina terá um prazo de 60 dias para ser debatido, informou ao Estado o coordenador-geral do Comfer (Comitê Federal de Radiodifusão), Luis Lazzaro. ‘É uma lei para democratizar o setor e é justo que tenha um prazo para ser discutida pela sociedade’, justificou.


Nesse meio tempo, haverá campanha política para as eleições legislativas, cuja antecipação – de 25 de outubro para 28 de junho – deverá ser aprovada pelo Senado na quinta-feira.


‘Antes da votação, o projeto não irá ao Congresso. Acho que não irá depois, porque o governo estará mais fraco’, afirmou o analista. Uma fonte do Clarín disse ao Estado que o mais grave do projeto ‘é que ele afeta profundamente a segurança jurídica e concede privilégios às empresas telefônicas’.


A deputada Silvana Giudici, da União Cívica Radical (UCR), qualificou o projeto de ‘uma manobra eleitoreira destinada a pressionar os meios para que transmitam opiniões favoráveis ao governo’. A relação entre o casal Kirchner e o Clarín nem sempre foi ruim, ao contrário. Foi durante o governo de Néstor (2003-2007) que se aprovou a fusão entre CableVisión e Multicanal, dando ao Grupo Clarín o controle da operação TV a cabo no país.’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 20 de março de 2009


 


BRIGA
Editorial


Os ataques da Record


‘A REDE RECORD , que explora uma concessão pública de TV e pertence ao mesmo proprietário da Igreja Universal do Reino de Deus, vem desfechando ataques contra esta Folha em seus noticiários. Pretende mover algo como uma campanha, pois a mesma mixórdia de reportagem canhestra e investida comercial tem sido repetida à exaustão.


O motivo de tanta ira, agora, é o desagrado diante da independência jornalística da coluna de TV publicada pelo jornal. Assinada pelo repórter Daniel Castro, a coluna pode cometer eventuais falhas, que são retificadas do modo transparente com que este jornal costuma fazê-lo. Mas tem procurado agir com máxima isenção, sobretudo em face do duelo feroz entre a Record e a emissora líder no país, a Rede Globo. Entre ambas, a Folha toma o partido de seu leitor, que deseja ser informado.


O que é prática de jornalismo verdadeiro se torna -na percepção tosca dos atuais dirigentes da Record, acostumados a reduzir qualquer questão a seu aspecto comercial- uma suposta campanha contra a emissora. A mesma percepção levou a Igreja Universal a orquestrar litigância de má-fé na Justiça contra este jornal e a repórter Elvira Lobato, por conta de reportagens sobre subterrâneos financeiros daquele empreendimento religioso.


Negócios e religião não deveriam caminhar juntos. A atividade religiosa é isenta de impostos. Até por esse motivo a sociedade tem todo o direito de conhecer os vasos comunicantes que ligam a Igreja Universal aos tentáculos de seus vários ramos de negócio. A reação destemperada da Record é um mero incentivo para que a Folha insista em esclarecer o que parece tão imprescindível manter oculto.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O custo Brasil


‘No gráfico ‘O Custo Brasil’, a ‘Economist’ compara o ‘spread’ dos bancos no Brasil e, todo bem abaixo, nos Estados Unidos, China, Índia e Rússia


O Banco Central encabeçou as notícias de Brasil no Yahoo News, ao indicar novo corte de juros.


Para a ‘Economist’, é ‘uma novidade bem-vinda: no passado, a moeda frágil e a inflação impediam tais medidas anticíclicas’. Acrescenta: ‘Mas os cortes na taxa não está sendo passados aos tomadores’, o que abriu a discussão sobre ‘spread’, a diferença entre o que os bancos pagam e cobram pelo dinheiro. O Iedi, ‘um grupo de lobby’, diz que o Brasil ‘tem os maiores ‘spreads’ do mundo’. E o próprio Banco Central diz que a maior parte do ‘spread’ é lucro. Por outro lado, nota a revista, ‘os bancos brasileiros podem ser caros, mas pelo menos estão salvos’.


A NOVA ORDEM MUNDIAL


Na manchete da ‘Economist’, ‘Como a China vê o mundo’. A ilustração parodia capa clássica da ‘New Yorker’, com vista de Nova York. Da China, a visão se concentra na própria China, com Wall Street como um buraco, depois do oceano, e com a América do Sul como um monte para exploração mineral. Em texto paralelo, a revista observa como, mesmo com a crise, ‘as pessoas precisam comer’. E registra os relatos chineses sobre compra de terras no Brasil.


DEPOIS DE GAZA


Ontem o ‘New York Times’ deu em destaque a reportagem ‘Após Gaza, Israel encara isolamento’. Disse ser ‘sua pior crise diplomática’ e que já avança sobre as relações com os judeus americanos. Na edição de hoje, adiantada ontem, relatos de soldados sobre a mortandade. Por outro lado, o ‘Jerusalem Post’ deu artigo de Rupert Murdoch, ‘publisher’ do ‘Wall Street Journal’, em que ele se proclama israelense e afirma que ‘o Ocidente se levanta ou cai junto com Israel’.


INCONSCIÊNCIA


Continua a reação à Igreja Católica, pela condenação do aborto da menina de 9 anos. O francês ‘Le Monde’, ontem de novo, se mostrou chocado com ‘a consciência tranquila’ de ‘dom Dedé’.


INSENSIBILIDADE


Já a ‘Economist’ juntou Brasil com África, onde o papa atacou a camisinha, para dizer que o catolicismo se perde ‘onde podia ter futuro’. Aqui, não se mostrou ‘sensível’ aos ‘mais pobres’.


EMPACOU, BATEU


O blog Canal 1 postou que ‘Paraíso’ estreou com 25 pontos e já caiu para 22. Para a coluna Ooops, ‘não têm mais como justificar, as novelas da Globo empacaram’. No blog Radar, por outro lado, ‘a novela ‘Chamas da Vida’ levou a Record ao primeiro lugar no Rio’. Com 22 pontos, ‘bateu a Globo’, que exibia ‘BBB’ e um filme.


PIADA


Entrevistado ao vivo na NBC, o comediante Stephen Colbert foi questionado se ele também já ‘twita’ em introdução a uma reportagem sobre a onda Twitter. Ele respondeu que já ‘twatou’, twatted, trocadilho com ‘twat’, palavrão grosseiro.


BOLHA


A ‘Economist’ alerta, aos entusiastas do Facebook e do Twitter, ondas mais recentes, que a ‘bolha’ da web 2.0 está prestes a estourar. YouTube e MySpace ainda conseguiram ser vendidos, mas Twitter e Facebook não podem mais se sustentar e, apesar do ‘hype’, não têm comprador. Internet grátis, avalia a revista, é um modelo inviável.


MARKETING


Por outro lado, o ‘WSJ’ de ontem noticiou que Marcelo Tas, apresentador na Band, ‘uma versão de Jon Stewart’, foi contratado para promover um serviço da Telefônica em seu Twitter. O blog Valley Wag ironiza o ‘pioneirismo’ mundial dos primeiros posts, que descrevem eventos da operadora com expressões como ‘Adorei!’.’


 


 


ESPORTE
Andrea Murta


Campeã olímpica troca ginásio pelos salões e faz sucesso em ‘reality show’


‘Ela trocou o ginásio pelos salões de baile e o collant pelos babados. Após um ouro e três pratas na Olimpíada de Pequim-08, a ginasta americana Shawn Johnson, 17, tornou-se neste mês a mais jovem competidora do popular ‘Dancing with the Stars’, da rede ABC, ‘reality show’ que deu origem ao global ‘Dança dos Famosos’.


Se a novidade cheira a decadência para o mundo do esporte, Shawn fez jogada de mestre no show business. Antes de o programa começar, ela foi votada como ‘a participante que o público está mais animado em ver nesta temporada’, a oitava do programa. E, em duas semanas de disputa, já ocupa o terceiro lugar, após impressionar juízes e mais de 20 milhões de telespectadores com uma valsa e uma salsa.


Contra cowboys e atrizes, a técnica da atleta sobressai: nenhum rival tem fôlego, levanta a perna e dobra o corpo para trás como ela. Mas a ginasta diz que suas habilidades atrapalham. ‘Na ginástica, emoção é fraqueza. É muito difícil mostrar emoção com um parceiro e me deixar levar.’ Outro problema são os saltos altos: com 1,45 m e acostumada a andar descalça, Shawn tropeçou na escada do palco na estreia.


Mesmo assim, ela prefere hoje falar de dança a ginástica -segundo o ‘Los Angeles Times’, Shawn não botou os pés em seu ginásio de treinos em Iowa desde a Olimpíada.


Rival de Jade Barbosa, que hoje sofre com lesão, Shawn atingiu o estrelato ao vencer o individual geral no Mundial-2007. No mesmo ano, levou quatro ouros no Pan do Rio. Ela não descarta treinar para Londres-12. Mas, por ora, está mais focada em aprender a rebolar para a salsa. E, mesmo longe do ginásio, Shawn segue favorita ao lugar mais alto do pódio.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


‘Bem Amado’ vira microssérie na Globo


‘O filme ‘O Bem Amado’, que acaba de ser rodado em Alagoas e no Rio, vai virar microssérie na TV Globo em 2010.


A emissora quer exibi-la nos primeiros dias de janeiro, antes da estreia de ‘Big Brother Brasil 10’, como fez neste ano com ‘Maysa’. O problema é que o longa, antes previsto para estrear nos cinemas em outubro, ganhou novo cronograma. Só deverá chegar às salas de exibição em dezembro, o que inviabilizaria sua transmissão pela TV em janeiro. Mas isso não elimina o interesse da Globo.


Orçado em R$ 10 milhões e dirigido por Guel Arraes, diretor de núcleo da TV Globo, ‘O Bem Amado’ tenta ser fiel à peça de Dias Gomes, escrita em 1962, que inspirou a novela veiculada pela Globo em 1973, um dos marcos da teledramaturgia nacional -por ser a primeira a cores, por abordar a corrupção, pelo sucesso de audiência. O filme se passa nos anos 60.


No longa, Marco Nanini interpreta Odorico Paraguaçu, Matheus Nachtergaele é Dirceu Borboleta, e José Wilker, Zeca Diabo. Andrea Beltrão, Zezé Polessa e Drica Moraes fazem as irmãs Cajazeira. Ou seja, pelo elenco, é mesmo um programa da Globo.


Apesar de a Globo Filmes ser co-produtora do longa (a produção é liderada por Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso), a Globo não tem contrato para transformá-lo em microssérie. Isso está sendo negociado agora.


TEMPORADA 1


‘Olha Você’, programa lançado pelo SBT no ano passado e que ainda não emplacou no Ibope, passará por uma renovação de elenco. Hoje será o último dia de Claudete Troiano e de Alexandre Bacci.


TEMPORADA 2


Claudete ainda sonha com a vaga de apresentadora do ‘Casos de Família’ -até ontem à tarde, a emissora não confirmava o nome de Olga Bongiovanni. Bacci entrará em outro projeto do SBT.


PROMESSA


A Band anunciou a estreia de Silvia Poppovic para a última segunda. Ficou para a próxima. O ‘Dia Dia’ (ex-’Programão’), que entraria dia 23, ficou para o dia 30. E Adriane Galisteu, também prometida para março, agora só em abril.


GUITARRA


Filho de Rita Lee, Beto Lee é o mais novo apresentador da PlayTV, atualmente um canal pago. A partir de segunda-feira, ele comandará o ‘Combo: Fala + Joga’, às 22h. Até o ano passado, a PlayTV ocupava a Rede 21, do grupo Bandeirantes.


SEM RONALDO


A Globo escalou Galvão Bueno para narrar jogo do São Paulo, pela Libertadores, anteontem. Conseguiu 23,7 pontos, menos que Ituano x Palmeiras (25,6), com flashes de Ronaldo em Corinthians x São Caetano, na quarta passada.


DESFALQUE


O santista Milton Neves é dúvida para a análise de Corinthians x Santos, domingo, no ‘Terceiro Tempo’ (Band). Ele sofreu uma queda e teve três fraturas em um braço.’


 


 


Fernanda Ezabella


Fashion TV homenageia David Azulay


‘O verão chega ao fim, mas não no Fashion TV, canal pago que exibe amanhã dois programas sobre moda praia. Em ambos, ganha destaque a participação do estilista paraense David Azulay, criador da grife Blue Man, morto no mês passado, aos 56 anos. No primeiro programa, ‘Nomes da Moda’, Azulay vem ao lado de Lenny Niemeyer (da grife Lenny) e Jacqueline De Biase (Salinas).


Eles falam do começo da carreira e de como é criar com ‘liberdade’, sem ter que olhar para o exterior em busca de inspiração, como fazem estilistas de outras áreas. Azulay conta como foi a criação dos famosos biquínis de lacinho, no final dos anos 70, quando as peças ainda não tinham elasticidade. Foi com a chegada da lycra, aliás, que começou a produção em escala industrial de biquínis, nos anos 80. Para a editora Iesa Rodrigues, foi também o início da moda praia no país.


No segundo programa que destaca o estilista, ‘Criadores de Mitos: Moda Praia Masculina – Sungão’, exibido às 22h, é a vez da peça para os homens, na qual a Blue Man é pioneira. Apesar da dita homenagem a Azulay, nenhum dos especiais cita a morte do empresário.


NOMES DA MODA: MODA PRAIA


Quando: amanhã, às 21h; reprises na segunda (10h30), na terça (18h) e no dia 29 (domingo, 20h)


Onde: Fashion TV


Classificação: livre’


 


 


POLÊMICA
Carlos Heitor Cony


Ditadura e ditabranda


‘EDITORIAL RECENTE da Folha criou discussão não sobre o gênero, mas sobre o grau totalitário do movimento militar que perdurou até 1985, período que a história decidiu classificar como ‘anos de chumbo’.


O trocadilho usado (ditabranda em vez de ditadura) pode ter sido infeliz, mas nem por isso errado de todo. O que houve entre as duas datas (1964 e 1985) foi realmente uma ditadura gradual, que chegou a seu ponto-limite em 1968, com a edição do AI-5. Abandonando qualquer disfarce cínico e jurídico, precipitou a nação num regime de brutalidade e desrespeito à dignidade humana.


Digo repetidas vezes que nada entendo de política e nada entendo de nada, mas as circunstâncias daquela época me pegaram desprevenido. E, como escrevia artigos e crônicas num grande jornal da época, fui obrigado a me manifestar, sendo punido com seis prisões e um processo que o então ministro da Guerra, general Costa e Silva, moveu contra mim por infração prevista na Lei de Segurança Nacional da época.


Meus artigos começaram no dia seguinte ao golpe, a 2 de abril de 1964. Eram violentos e apaixonados justamente porque não entendia direito o que estava acontecendo, a não ser o ritual da opressão. O processo contra mim foi instaurado em julho daquele ano, e eu tive o direito de ter advogado, o ex-ministro Nelson Hungria, que se ofereceu de graça para me defender, chegando a obter do Supremo Tribunal Federal um habeas corpus que descaracterizou o processo, o qual passou a correr não mais pela LSN, mas pela Lei de Imprensa.


Fui condenado a três meses da prisão. A justiça não fora de todo abolida após a edição do primeiro Ato Institucional. Havia brechas do Estado de Direito, os tribunais funcionavam, outros habeas corpus foram concedidos a perseguidos pelo movimento militar, como os ex-governadores Miguel Arraes, Mauro Borges e Plínio Coelho.


Houve violência na repressão, mas alguns resíduos de legalidade permaneceram após a primeira fase da ditadura. O regime militar, que fora apoiado pela maioria da sociedade civil e pela totalidade da mídia, tentava manter uma aparência de legalidade. Aos poucos -repito, gradualmente-, a cortina de chumbo desceu sobre a nação, sobretudo após 1968, que iniciou o período de horror na vida pública nacional, não apenas no setor político, mas no seio das universidades, dos sindicatos e das instituições públicas e particulares.


A ditadura gradual não foi uma exceção aqui no Brasil. O exemplo mais radical de Estado totalitário, pelo menos no século 20, foi o da Alemanha nazista. Em 1933, quando o presidente Hindenburg, vencendo sua repugnância pessoal por Hitler, chamou-o para formar o novo gabinete, foi convencido por Von Papen de que o novo chanceler seria contido pelos sociais democratas que formariam o governo. Dos cinco ou seis ministros do primeiro gabinete, apenas dois pertenciam ao Partido Nazista: o próprio Hitler e Goering, a quem seria destinada uma pasta ainda inexistente.


Sabemos o que aconteceu pouco depois: o edifício do parlamento pegou fogo, Hitler assumiu poderes totais -e a humanidade conheceu um dos regimes mais abomináveis da história.


Outra ditadura gradual foi, paradoxalmente, a ‘era do terror’ da Revolução Francesa, o curto mas truculento período dominado por Robespierre, ele próprio vítima da violência que instaurou.


Citei dois exemplos da graduação dos regimes de força. Acredito que o mesmo critério pode ser aplicado ao movimento de 64. É ocioso relativizar a prática de crimes continuados, mas, em alguns casos, torna-se patente o aumento do grau em qualquer tipo de aberração política ou moral, embora o gênero permaneça o mesmo.


Caso mais antigo e bem mais ilustrativo seria a ditadura de César, também gradual. Somente com a eliminação de Pompeu, na batalha de Farsália, ele se tornaria o tirano que seria apunhalado nos idos de março pelos liberais do Império Romano, ‘so are they all, all honourable men’ -segundo o discurso que Shakespeare colocou na boca de Marco Antônio.


Por definição, não há brandura nas ditaduras. Em Cuba e no Chile, por exemplo, elas já começaram realmente duras, para valer. No caso brasileiro, houve uma graduação na violência, uma graduação que não a redime do horror que provocou e ainda provoca na memória nacional.’


 


 


 


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